O exército sudanês rejeitou nesta quarta-feira (29) o retorno a negociações de paz com o grupo paramilitar conhecido como Forças de Suporte Rápido (FSR), com o qual trava uma guerra civil, segundo informações da agência de notícias Reuters.
A recusa sucedeu conversas entre o chefe do exército, Abdel Fattah el-Burhan, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.
“Não iremos a Jeddah [Arábia Saudita, sede das negociações] e quem quer que queira isso, deve nos matar em nossa terra e levar nossos corpos”, declarou Malik Agar, número dois no Conselho Soberano do Sudão, encabeçado por Burhan.
Combates intensos seguiram no norte da capital Cartum, incluindo bombardeios por ar e terra.
Na terça-feira (28), o Departamento de Estado confirmou que o chanceler debateu com Burhan a necessidade de um cessar-fogo, via retomada de conversas mediadas por Washington e Riad, paralisadas há meses.
LEIA: Egito organiza conferência de grupos civis do Sudão para o próximo mês
No dia seguinte, o Ministério de Relações Exteriores alinhado ao exército aceitou um convite do Egito para um fórum de grupos civis, condicionado, porém, aos outros presentes.
Em comunicado, todavia, Agar sugeriu que a cúpula anterior em Addis Ababa, capital da Etiópia, serviu de “distração” para os objetivos de encerrar a guerra.
O grupo paramilitar — parceiro do exército no golpe militar de outubro de 2021, até ruptura por esforços para integração das tropas — alegou previamente estar aberto às negociações, apesar de desacatar, junto ao rival, compromissos estabelecidos até então.
No telefonema de terça-feira, Blinken abordou a demanda por desescalada em al-Fashir, capital de Darfur do Norte, com 145 mortos e 3.600 famílias deslocadas desde 10 de maio, segundo as estimativas das Nações Unidas e da ong Médicos Sem Fronteiras (MSF).
As Forças de Suporte Rápido cercaram al-Fashir e invadiram bairros civis. Em resposta, as Forças Armadas, sob o pretexto de manter sua presença em seu último bastião de Darfur, conduziram violentos ataques aéreos a toda a região.
LEIA: Guerra no Sudão: Rússia cobre apostas ao apoiar ambos os lados no conflito
Segundo os residentes, projéteis de ambos os lados destruíram casas. Água e eletricidade foram cortadas e o acesso a hospitais é limitado.
A guerra civil no Sudão eclodiu em abril de 2023, descarrilando o processo à democracia. Nove milhões de pessoas foram expulsas de suas casas e milhares foram mortas.