Um ataque do grupo paramilitar conhecido como Forças de Suporte Rápido (FSR) contra a aldeia de Wad al-Noura, no estado de Gezira, na região central do Sudão, deixou cerca de cem mortos, segundo ativistas locais pró-democracia.
O Comitê de Resistência de Wad Madani reportou nas redes sociais, na noite desta quarta-feira (5), um ataque em “duas ondas”, incluindo artilharia pesada, contra a aldeia.
As Forças de Suporte Rápido travam uma guerra civil contra o exército regular há pouco mais de um ano. Ambos os lados eram parceiros no governo desde o golpe militar de outubro de 2021, que descarrilou a transição do país à democracia.
Os ativistas compartilharam imagens de dezenas de mortalhas em uma “cova coletiva” escavada em uma praça pública. Segundo os residentes, o exército não acatou a pedidos de ajuda.
Mulheres, crianças e idosos estão entre as vítimas, confirmou Mini Arko Minawi, governador da província de Darfur, junto a um vídeo publicado na rede social X (Twitter).
A coalizão paramilitar vem concentrado ataques na zona rural de Gezira. Em dezembro, tomou o controle de Wad Madani, capital da província.
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Em nota, as Forças de Suporte Rápido alegaram atacar o exército e núcleos aliados em torno da aldeia, contudo, sem mencionar baixas civis. O Comitê de Resistência, porém, reportou saques, assassinatos e expulsão à força de mulheres e crianças à aldeia vizinha de Managil.
O Conselho Soberano do Sudão, órgão de governo alinhado ao exército, condenou o incidente. “Trata-se de atos criminosos que refletem um comportamento sistemático dessas milícias, que buscam alvejar civis”, declarou em comunicado.
Clementine Nkweta Salami, coordenadora residente das Nações Unidas para o Sudão, pediu um inquérito completo sobre o caso. “Mesmo para os padrões trágicos do conflito, as imagens que emergem de Wad al-Noura são de partir o coração”, observou.
“A tragédia humana se tornou parte da vida no Sudão”, destacou. “Não podemos permitir que a impunidade torne este caso apenas mais um”.
No período de um ano, a guerra assumiu dimensões étnicas, à medida que rivalidades de longa data voltaram à tona no Sudão.
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Dezenas de milhares foram mortos e 8.3 milhões de pessoas sofreram deslocamento, sob grave epidemia de fome — incluindo nos países vizinhos de Chade e Sudão do Sul.
Claire Nicolet, chefe de emergência da ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) no país, advertiu para o impacto catastrófico da crise sobre a população. “Caso a situação continue como está — pode ter certeza —, haverá uma mortalidade altíssima”, observou à Al Jazeera.