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Último hospital operante em Darfur é atacado por forças paramilitares, relata MSF

Confrontos armados em Cartum, capital do Sudão, 16 de abril de 2023 [Mahmoud Hjaj/Agência Anadolu]

A coalizão paramilitar conhecida como Forças de Suporte Rápido (FSR) atacou o último hospital ainda operante na região de Darfur, no Sudão, confirmou a ong Médicos Sem Fronteiras (MSF), na noite deste domingo (9), segundo informações das agências Reuters e Al Jazeera.

Milícias que combatem o exército regular desde abril de 2023 atacaram, no sábado, o Hospital Meridional de al-Fasher, capital da província de Darfur do Norte. Segundo relatos, os militantes abriram fogo contra pacientes e trabalhadores de saúde e saquearam o local.

Como resultado, o hospital fechou as portas.

“É ultrajante que grupos armados abram fogo dentro de um hospital”, afirmou Michel Lacharite, chefe de operações de emergência da MSF. “Este não é um incidente isolado — trabalhadores e pacientes sofrem ataques nesta instalação há semanas, de todos os lados do conflito. Contudo, abrir fogo dentro de um hospital certamente cruza uma linha vermelha”.

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A guerra civil no Sudão teve início pouco mais de um ano atrás, devido às tentativas das Forças Armadas de incorporar o contingente paramilitar, até então parceiro no regime estabelecido via golpe de Estado em outubro de 2021, que descarrilou a transição nacional à democracia.

Desde então, ao menos 15.500 pessoas morreram e milhões foram deslocadas à força, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Al-Fasher representa o último bastião do exército regular em Darfur e centro humanitário chave à região, sob risco de fome. Centenas de milhares de refugiados se abrigam na cidade, forçados à subsistência com insumos básicos e temores constantes de violência.

No momento do ataque, havia apenas dez pacientes no hospital e uma equipe reduzida, devido à escassez de recursos, conforme o Ministério da Saúde, ligado ao exército, que alegou ter dado início a procedimentos de evacuação.

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Segundo a ong, a maioria dos pacientes e trabalhadores conseguiu fugir dos disparos; contudo, “devido ao caos, nossas equipes não conseguiram verificar mortos e feridos”. De 10 de maio a 6 de junho, o hospital recebeu 1.315 feridos e contabilizou 208 mortos, relatou a nota.

Após tomar a maior parte da capital, Cartum, e do oeste sudanês, o grupo paramilitar avançou, nas semanas recentes, contra al-Fasher. Em torno de 130 mil pessoas se viram forçadas a deixar suas casas nos últimos dois meses, segundo a ONU.

Testemunhos apontam a um “inferno na terra, onde todo mundo pode perder a vida a qualquer instante”, comentou Toby Harward, vice-coordenador de assuntos humanitários da ONU para o Sudão, em conversa com a rede Al Jazeera.

Um ataque no sábado, ao campo de Abu Shouk, no norte da cidade, atingiu outra instalação de saúde, com 30 feridos e dois mortos.

Um novo estudo do Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale, divulgado na última semana, confirmou que 40 agrupamentos na periferia da cidade foram afetados por ataques incendiários desde março.

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Residentes apontam para responsabilidade das Forças de Suporte Rápido.

Mohammedali Abunajela, porta-voz da Organização Internacional para Migração (OMI), afirmou que o número de deslocados internos no Sudão excede dez milhões de pessoas, incluindo 2.83 milhões desabrigados ainda antes da guerra, por sucessivos conflitos no país.

Mais de dois milhões fugiram ao exterior, sobretudo ao Chade, Sudão do Sul e Egito.

“Imagine uma cidade do tamanho de Londres sendo deslocada”, reafirmou Amy Pope, diretora-geral da OIM, em comunicado. “É isso que está acontecendo — contudo, sob constante ameaça de fogo cruzado, fome, doenças e enorme violência com base em gênero e etnia”.

Ambos os lados são acusados de crimes de guerra, incluindo ataques indiscriminados a distritos residenciais e obstrução de assistência humanitária. Relatos indicam uma epidemia de violência sexual e uso do estupro como arma — equivalente a crimes de lesa-humanidade.

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