O grupo palestino Hamas, junto ao movimento de Jihad Islâmica, respondeu ao novo plano dos Estados Unidos para um cessar-fogo escalonado na Faixa de Gaza, ao observar “comentários” ao texto, confirmaram Egito e Catar, mediadores das negociações.
Em nota conjunta emitida nesta terça-feira (11), os grupos palestinos declararam prontidão em “lidar positivamente para chegar a um acordo”, ao priorizar a “cessação completa” da agressão israelense a Gaza, que já excede oito meses.
Osama Hamdan, oficial sênior do Hamas, afirmou à emissora de televisão libanesa Al-Mayadeen que sua organização “submeteu comentários sobre a proposta aos mediadores”; contudo, sem conceder detalhes.
“A resposta do Hamas reafirmou o posicionamento do grupo [de que] qualquer acordo deve dar fim à agressão sionista a nosso povo, retirar as tropas de Gaza, reconstruir o território e alcançar um acordo sério para troca de prisioneiros”, declarou outro oficial à agência Reuters.
Em comunicado, os Ministérios de Relações Exteriores do Egito e do Catar observaram examinar a resposta para prosseguir com os esforços de mediação, junto aos Estados Unidos, “até que um acordo seja alcançado”.
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John Kirby, porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, confirmou ter também recebido o retorno e prometeu avaliá-lo.
Segundo Imran Khan, analista da rede Al Jazeera, a resposta palestina inclui emendas, dentre as quais, “retirada completa de Gaza, incluindo da travessia de Rafah e do Corredor Filadelfo”, isto é, a faixa de segurança acordada previamente na fronteira com o Egito.
Nesta segunda-feira (10), o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, por 14 votos a favor e uma abstenção, uma resolução apresentada pelo governo de Joe Biden.
Washington insiste que Tel Aviv aceitou o plano, apesar de declarações contrárias do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e ministros supremacistas que ameaçam implodir o governo em caso de cessar-fogo.
Conforme Khan, “os israelenses querem somente uma coisa … a destruição política e militar do Hamas. A proposta, porém, sugere que o Hamas sobreviverá, de alguma maneira”.
Diante do plano, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, voltou a viajar ao Oriente Médio, a fim de reunir apoio e planejar o pós-guerra.
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Ainda na segunda, Blinken se reuniu no Cairo com o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi, para então proceder a Israel.
Além de Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, o chanceler americano se encontrou também com o ex-general oposicionista Benny Gantz, que renunciou ao gabinete de guerra de Israel no domingo (9), ao reivindicar novas eleições.
Na Jordânia, Blinken convocou uma coletiva de imprensa na qual anunciou US$404 milhões em assistência humanitária a Gaza — muito abaixo dos bilhões em armas enviados a Israel.
Durante evento no Mar Morto, Sisi, por sua vez, ressaltou que a comunidade internacional deve pressionar Israel a abandonar o que descreveu como uso da fome como arma de guerra.
A proposta prevê três fases, conforme troca de prisioneiros, incluindo um cessar-fogo preliminar de seis semanas. O presidente americano enfrenta dura crise interna por seu apoio diplomático e militar a Israel, em plena campanha eleitoral.
Em Gaza, palestinos reagiram com ceticismo ao voto do Conselho de Segurança.
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“Vamos ter que ver para crer”, comentou Shaban Abdel-Raouf, palestino de 47 anos deslocado à Deir el-Balah com sua família, em conversa com a agência Reuters. “Quando nos disserem para juntar as coisas e voltar à Cidade de Gaza, saberemos que, quem sabe, é verdade”.
Em março, Israel desrespeitou uma resolução prévia do Conselho de Segurança para uma pausa nas hostilidades durante o mês islâmico do Ramadã. A ocupação também desacata medidas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) por fluxo humanitário e cessação dos ataques a Rafah, no extremo sul de Gaza.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, apesar de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, para evitar o crime de genocídio e permitir a ajuda humanitária.
A campanha israelense deixou 37.100 mortos e 84.700 feridos até então, sobretudo mulheres e crianças, além de dois milhões de desabrigados. As ações de Israel em Gaza constituem punição coletiva, crime de guerra e genocídio.