Em um momento no qual a opinião pública parece particularmente dividida sobre a abordagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no que diz respeito às ações israelenses em Gaza, um novo estudo do Centro de Pesquisas Pew demonstrou que jovens americanos tendem a ser mais críticos a Tel Aviv do que outras gerações.
Biden mantém apoio operacional, militar e diplomático a Israel, apesar de protestos por cessar-fogo em todo o país, sobretudo nos campi universitários. A crise se agrava à véspera da eleição, em novembro, na qual Biden volta a enfrentar Donald Trump.
A pesquisa, porém, confirmou também o descolamento entre a sociedade americana e assuntos de geopolítica, com alto índice de indecisos.
Cerca de 40% dos entrevistados disseram ter dúvidas sobre a postura de Biden.
Cidadãos americanos entre 18 e 29 anos refletem, no entanto, uma resposta duramente crítica, ao descreverem a retaliação israelense à operação transfronteiriça do movimento Hamas, em 7 de outubro, como “inaceitável”, com até 46% da amostragem, contra 21% favoráveis e 33% que demonstraram incerteza.
Um terço dos adultos abaixo de 30 anos expressam simpatia inteiramente aos palestinos, contra 14% a Israel. O restante se divide entre ambos, nenhum ou incertos.
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Para cidadãos idosos, com 65 anos ou mais, os números são bastante distintos: 53% favoráveis à resposta israelense contra 29% contrários. Cerca de 74% expressam empatia aos israelenses, em detrimento dos palestinos, com apenas 9%.
Seis entre dez jovens americanos asseguram ter um ponto de vista positivo sobre os palestinos, acima dos 46% para o lado israelense. Idosos americanos, porém, tendem a ecoar a retórica da “guerra ao terror” e reforçar estereótipos racistas sobre as comunidades árabes.
O apoio a Israel entre jovens americanos desabou nos últimos anos, com queda de 17% desde o ano de 2019. Para os idosos, as margens se mantiveram.
Tendências de cisão geracional permeiam ainda judeus americanos, à medida que associações judaicas antissionistas ganham tração.
A divisão é também partidária: jovens republicanos, com menos de 30 anos de idade, tendem a Israel, com 28%, contra 12% que dizem apoiar o povo palestino; democratas invertem os dados, com 47% solidários à Palestina e 7% a Israel.
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Biden e Trump, com 81 e 78 anos de idade, respectivamente, serão os candidatos mais velhos a disputarem a presidência, quebrando o próprio recorde em quatro anos — ou um ciclo eleitoral. Ambos se proclamam vigorosos apoiadores do projeto colonial sionista.
O atual incumbente, contudo, parece mais prejudicado por alienar um nicho importante de seu eleitorado. Eleitores progressistas — cruciais à vitória de Biden em 2020 — prometem se abster nas urnas, ao caracterizar a cumplicidade com o genocídio como linha vermelha.
Mesmo eleitores tradicionais do Partido Democrata estão divididos sobre a abordagem da atual Casa Branca sobre a guerra em Gaza. Para 34% dos eleitores democratas, Biden favoreceu Israel, contra 29% que alegam uma postura supostamente equilibrada.
Diante do aumento da pressão eleitoral, Biden aventou críticas aos líderes israelenses por ações insuficientes para proteger a população civil. Entretanto, manteve seu apoio operacional, militar e diplomático a Israel, incluindo vetos ao cessar-fogo no Conselho de Segurança.
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Nesta segunda-feira (10), o órgão das Nações Unidas aprovou uma resolução americana por um cessar-fogo escalonado, embora a adesão de Israel continue incerta.
Mais recentemente, o Pentágono foi acusado de utilizar seu píer provisório em Gaza para ajudar tropas israelenses a invadirem o campo de refugiados de Nuseirat, no sábado (8), deixando 280 mortos e 700 feridos. Apesar das evidências, a Casa Branca nega participação.
À medida que a campanha se intensifica, a atenção se volta ao estado de Michigan, onde Biden venceu por apenas 3% dos votos. Muçulmanos e árabe-americanos de Michigan serão decisivos no chamado “swing state” — isto é, onde a corrida partidária se mantém em aberto.
A pesquisa contou com uma amostra ampla de 12.693 entrevistados.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há mais de oito meses, em desacato a medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, para evitar o crime de genocídio e permitir a assistência humanitária.
A campanha israelense deixou 37.100 mortos e 84.700 feridos até então, sobretudo mulheres e crianças, além de dois milhões de desabrigados. As ações de Israel em Gaza constituem punição coletiva, crime de guerra e genocídio.