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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

‘A Palestina está mais perto de sua libertação do que jamais esteve’

Momodou Taal, suspenso da Universidade Cornell por seu ativismo em solidariedade à Faixa de Gaza, relatou ao MEMO discriminação entre estudantes pró-Israel e pró-Palestina.
Conheça Momodou Taal, doutorando de Cornell do Reino Unido [Arquivo]

Na prestigiosa Universidade Cornell, um pitoresco campus da Ivy League, em meio a um bosque ostensivo, cantos ressonantes de liberdade à Palestina podem ser ouvidos com clareza.

Conheça Momodou Taal, doutorando de Cornell do Reino Unido, suspenso por convocar um ato contra o genocídio israelense em Gaza e reivindicar da instituição que corte relações financeiras com o Estado de apartheid.

“O que se tornou bastante claro é que o discurso pró-Palestina não tem glamour”, afirmou Taal, em entrevista concedida ao MEMO. “Ninguém está perdendo o emprego por apoiar Israel, mas isso certamente acontece com quem apoia a Palestina”.

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Taal expressa decepção pelas ações da universidade, ao denunciar a suspensão arbitrária de ao menos quatro alunos, a fim de dissuadir o acampamento de solidariedade a Gaza e os protestos antiguerra que tomaram o campus. “É absolutamente desrespeitoso jogar com meu futuro e até mesmo com meu visto, sabendo da minha vulnerabilidade, pensando que podem me silenciar, ou silenciar as vozes pró-Palestina”, acrescentou Taal. “É uma vergonha”.

Apesar dos riscos, Taal continua decidido: “Não há mundo no qual, caso eu chegue aos 80 anos de idade, que eu lamente defender a Palestina. O que realmente me daria arrependimento seria não dar tudo de mim”.

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Em 18 de abril, estudantes e professores expressaram seu repúdio à guerra em Gaza através de um protesto sit-in na Universidade de Columbia em Nova York, ao reivindicar que a instituição revogasse acordos com universidades israelenses e desinvestisse de empresas que dão apoio à ocupação ilegal nos territórios ocupados.

Os esforços ganharam tração e chegaram às manchetes quando mais de cem estudantes foram presos em Columbia, encorajando alunos de universidades em todo o mundo a organizar atos e acampamentos similares. Países como França, Grã-Bretanha, Alemanha, Canadá e Índia tiveram estudantes pedindo um cessar-fogo, além de boicote a qualquer empresa que forneça armas a Israel ou lucrem com a colonização.

Os acampamentos por Gaza, uma nova forma de protesto, ecoaram para muito além dos campi. Em questão de semanas, atraíram atenção internacional e a fúria do mais alto escalão do Estado israelense, incluindo o premiê Benjamin Netanyahu, que difamou os universitários — incluindo muitos judeus — ao descrevê-los como “antissemitas”.

Taal vê tudo isso como prova do enfraquecimento da influência ideológica do sionismo dentre a sociedade em geral. “O sionismo está mais fraco do que nunca porque entendemos enfim o que Israel vem fazendo ao mundo. Israel vem esvaziando o sentido da palavra antissemitismo, o que prejudica muitos de meus colegas, que são judeus antissionistas e não querem que suas raízes e sua identidade estejam ligadas à colonização”.

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Ao reafirmar as mudanças da narrativa sobre o antissionismo, acrescentou Taal: “É somente de uma posição de fraqueza que se sentem na urgência de chamar qualquer coisa de antissemita, porque sabem muito bem que as coisas mudaram; sabem que as pessoas passaram a entender as diferenças fundamentais entre antissionismo e antissemitismo”.

Sim, estamos felizes com o barulho que fizemos, que chamamos atenção daquele genocida que governa Israel. Mas temos esperanças de que suas reclamações se deem atrás das grades, em uma prisão de Haia.

São mais de 37 mil mortos pelos ataques a Gaza, sobretudo mulheres e crianças, além de quase 90 mil feridos. Os números excluem ainda as dezenas de milhares desaparecidas sob as ruínas, soterrados pelos escombros das casas, lojas, abrigos, escolas, hospitais e outros.

Taal descreve a situação pós-7 de outubro como início de uma campanha duradoura nos campi, à medida que seu contato com o acampamento de solidariedade a Gaza, da maneira como vê, representa um excelente exemplo de uma nova mobilização.

“Percebemos que a Universidade Cornell é cúmplice do genocídio por suas parcerias e práticas de investimentos”, observou Taal. “Alguns dos drones não-tripulados usados para demolição de casas, para dar lugar a assentamentos ilegais, são vinculados a parcerias entre a universidade e fabricantes de armas, como a Technion”.

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“Tentamos trazer atenção ao problema”, enfatizou Taal. “Fizemos muito barulho nos campi, com protestos, marchas, sit-ins e ocupações. Pessoas foram presas aqui, mas ainda assim realizamos um referendo histórico no qual cinco mil estudantes votaram por desinvestimento e cessar-fogo permanente. O resultado foi levado à reitoria, que tem 30 dias para nos responder. No entanto, se podemos esperar 30 anos, os palestinos simplesmente não podem”.

Crescendo como muçulmano britânico de raízes do Gâmbia, a centralidade da Palestina dentro das perspectivas espirituais de Taal catalisaram um vínculo profundo. Essa conexão, ele explica, aprofundou-se com o tempo, junto de seu crescimento intelectual e de seu acesso à literatura anticolonial. O ponto de virada, todavia, ocorreu após o assassinato brutal de George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos, em 2020. Os protestos que se seguiram fizeram que Taal notasse semelhanças entre as táticas israelenses e a opressão sistêmica imposta por instituições americanas para difamar, desacreditar e assediar os manifestantes.

“Me lembro da Primavera Negra de 2020, dos ativistas que traçaram associações entre a forma com que George Floyd foi morto e as ações características das forças da ocupação israelense”, comentou Taal. “Palestinos online estavam aconselhando os manifestantes negros sobre meios para atenuar o impacto do gás lacrimogêneo, porque conheciam muitíssimo bem a companhia que fornecia as armas à polícia”.

Ler constantemente sobre a descolonização e viver todas essas coisas reforçou, para mim, a importância da causa palestina.

Em resposta, refugiados palestinos de Gaza expressam sua gratidão ao movimento estudantil de protestos. O reconhecimento comoveu Taal, que prometeu jamais ceder em seu compromisso e em suas ações com a luta e as aspirações dos palestinos de Gaza.

“Não desejamos falar em nome de Gaza”, concluiu. “Queremos conversar com eles e tamanho agradecimento serve para nos motivar a seguir adiante, e também nos lembrar do impacto que temos”.

Para Taal, é um divisor de águas em termos de relevância global da causa palestina. De acordo com o que vê, a libertação está mais perto do que nunca. Taal assegura: Não é mais questão de se, mas quando a Palestina será livre”.

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