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Quando ninguém retorna: A vida após a guerra

Cena de When Nobody Returns [Divulgação]

Se você está à procura de uma adaptação de um dos maiores poemas épicos da tradição grega, o Theatre Bay de Portobello Road, na badalada região de Notting Hill, na Inglaterra, pode não ser seu destino óbvio. Em um primeiro momento, este espaço de performance parece mais com um depósito industrial, com seus andaimes de metal, sua brisa fria e sua acústica implacável. Contudo, uma vez que o espectador se sente na plateia, é levado imediatamente a um mundo de conflito e ocupação, engenhosamente retratado neste anfiteatro de arena. Logo, se torna claro que este ambiente improvável é o cenário perfeito para uma peça que conta histórias sobre as ramificações da guerra, com temas que ressoam com eloquência diante da crise de refugiados ainda vigente.

When Nobody Returns — em tradução livre, Quando ninguém retorna — é uma peça realizada por meio de uma colaboração entre a companhia de teatro Border Crossings, radicada em Londres, e a equipe palestina do Teatro ASHTAR, sediado na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.

Brian Woolland reimagina a história clássica da jornada de Odisseu, ou Ulisses, interpretado Andrew French, de volta ao reino de Ítaca, como veterano e sobrevivente da Guerra de Tróia, um conflito particularmente brutal, enquanto sua esposa Penélope (Iman Aoun) cria sozinha Telêmaco (Tariq Jordan), seu único herdeiro, um menino em seus anos de formação. A peça não apenas explora muito habilmente os temas e os efeitos da guerra sobre os veteranos e suas famílias, sobretudo a incidência de transtorno de estresse pós-traumático e o deslocamento à força, como também a resiliência diante da opressão e da ocupação.

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A conexão que Woolland deseja que seus espectadores estabeleçam ao ver a peça é precisamente entre a cidade antiga de Ítaca e a Palestina contemporânea. Sua abordagem para tanto é discreta e elegante, ao recorrer a elementos específicos da linguagem dramatúrgica — isto é, figurino, cenário e a escolha de um elenco de atores palestino-britânicos. Uma das cenas mais marcantes se passa no que podemos reconhecer como um checkpoint militar ou posto de controle de fronteira do mundo moderno, o qual Penélope busca atravessar para chegar ao mar — contudo, sem aval dos agentes responsáveis. Em vez de conseguir cruzar suas terras, Penélope se vê diante de um comportamento paternalista, desumanizante e ameaçador que claramente se inspira nas experiências dos palestinos nos postos de controle estabelecidos pelo exército da ocupação de Israel.

Com performances impressionantes e uso engenhoso do ambiente e da caracterização de seus personagens, a peça When Nobody Returns consiste em um retrato poderoso, embora trágico, sobre os efeitos da guerra e a resiliência das pessoas impactadas pela ocupação. When Nobody Returns cria um paralelo impressionante entre o mundo de Homero e o Oriente Médio contemporâneo, ao certamente tocar os corações daqueles que estão cientes sobre a crise dos refugiados que assola a região há quase um século.

A peça When Nobody Returns, de Brian Woolland, foi idealizada conjuntamente com The Flesh is Mine — em tradução livre, A carne é minha — que busca refletir a jornada clássica da Ilíada de Homero — isto é, o cerco e a guerrade Tróia. Sua estreia se deu como parte da programação do Festival Cultural Nour de 2016, entre 22 de outubro e 6 de novembro daquele ano, no Theatre Bay de Portobello Road.

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