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Presidente dos Emirados e general sudanês realizam conversa com mediação etíope

Abdel Fattah al-Burhan, chefe do exército sudanês, se reúne com o premiê etíope Abiy Ahmed em Porto Sudão, em 9 de julho de 2024 [AFP via Getty Images]

Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas do Sudão, e Mohammed Bin Zayed, presidente dos Emirados Árabes Unidos, conversaram por telefonema via mediação do primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed.

Fontes diplomáticas internacionais e sudanesas relataram ao Middle East Eye que Abiy mediou o telefonema após uma viagem recente a Porto Sudão, onde se encontrou com Burhan, diante de um acordo de câmbio para conduzir uma troca estimada em US$817 milhões entre o Banco Central dos Emirados e o Banco Nacional da Etiópia.

É a primeira conversa entre ambos desde junho de 2023, quando o exército do Sudão acusou os Emirados, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, de fornecer armas às Forças de Suporte Rápido (FSR), coalizão paramilitar que combate o exército regular na guerra civil no Sudão, travada desde 15 de abril do último ano.

Segundo uma fonte próxima ao exército sudanês, o telefonema foi proposto durante a visita de Abiy a Porto Sudão, na última semana. Na ocasião, Burhan conduziu Abiy por passeio de carro na capital provisória do Sudão, em tempos de guerra, com apenas um tradutor presente, levando a especulação sobre o sigilo do conteúdo discutido.

“Durante a visita de Abiy Ahmed, o premiê persuadiu Burhan a atenuar tensões com os Emirados, ao alegar que este também o desejo da liderança emiradense, em particular, o chefe de Estado, Mohammed bin Zayed,” reportou a fonte.

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Segundo várias fontes, o telefonema entre bin Zayed e Burhan deveria ter sido mantido em segredo, mas a agência estatal emiradense WAM expôs o encontro no dia 16.

Com o vazamento, surgiram duas narrativas opostas — uma do exército sudanês; outra dos Emirados. Ambos os lados parecem divergir sobre o que foi discutido e até mesmo quem foi responsável por fazer a ligação. Foi especulado que Burhan foi quem realizou o telefonema, muito embora o governo militar no Sudão tenha alegado que a iniciativa partiu de bin Zayed.

“Durante a conversa, o sheikh Mohammed bin Zayed expressou o desejo dos Emirados de ajudar a acabar com a guerra no Sudão”, comentou o Conselho Soberano do Sudão, órgão executivo no país, alinhado ao exército, em nota à imprensa. “Burhan relatou, no entanto, que o povo sudanês [sic], com evidências substanciais, acusam os Emirados de apoiar os rebeldes (janjaweed), ao auxiliar aqueles que matam e deslocam a população do país. Burhan instou os Emirados a cessarem tais ações”.

Segundo a descrição da agência emiradense sobre o telefonema, o governante de Abu Dhabi “reiterou seu apoio a iniciativas que tenham intuito de dar fim à crise no Sudão [e] sua disposição em apoiar todas as soluções e iniciativas voltadas a cessar a escalada de modo que contribua com a estabilidade e segurança do Sudão e cumpra os anseios de seu povo”.

Parece haver também alguma divergência dentro dos círculos militares do Sudão sobre como lidar a partir com os Emirados no atual momento. O vice-comandante-chefe das forças sudanesas, Yasser al-Atta, nesta semana, chegou a descrever bin Zayed como “o diabo dos árabes”, em comentários vistos como uma antecipação do telefonema entre o líder emiradense e Burhan.

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Em novembro, Atta rechaçou abertamente os Emirados em um discurso a membros do Serviço de Inteligência Geral em Omdurman. “Temos informações de inteligência e do circuito diplomático de que os Emirados estão enviando aviões aos janjaweed”, insistiu Atta ao mencionar as Forças de Suporte Rápido pelo nome das milícias que lhes deram origem.

Conforme dados dos Estados Unidos, cerca de 150 mil pessoas morreram até então ao longo da guerra civil no Sudão, que supera 15 meses. Mais de dez milhões de cidadãos sudaneses foram deslocados dentro do país, no que a Organização das Nações Unidas (ONU) descreve como a pior crise de deslocamento do mundo.

Os Emirados e as milícias

O Middle East Eye reportou previamente o apoio extensivo dos Emirados às Forças de Suporte Rápido, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemeti, antigo aliado e ex-comandante janjaweed. Segundo informações, tamanho apoio passa por meio de uma ampla rede de suprimento que envolve os territórios de Chade, Líbia, Uganda e República Centro Africana.

Os Emirados, no entanto, continuam a negar as acusações.

Grupos de direitos humanos internacionais encontraram “evidências claras” de que as Forças de Suporte Rápido comentem genocídio contra “grupos não-árabes” em Darfur, vasta região do oeste sudanês, hoje controlada quase inteiramente por suas milícias.

Amjed Farid, ex-assessor especial da gestão civil de Abdalla Hamdok, destituída por um golpe militar em 2021, argumentou ao Middle East Eye que o telefonema foi “parte das tentativas dos Emirados de limpar sua imagem e reduzir a pressão internacional sobre seu apoio às forças paramilitares”.

“De fato, este telefonema não muda nada”, prosseguiu Farid. “Flertes diplomáticos via Ahmed, junto a Burhan e outros, não absolvem os Emirados da responsabilidade pelas ações de suas milícias afiliadas no país … A destruição de nossa terra, o deslocamento de nosso povo e as atrocidades perpetradas pela milícia são crimes que não podemos esquecer nem perdoar”.

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Etiópia e Emirados confirmaram pouco antes da conversa um acordo de câmbio que os reguladores dizem “promover a liquidez das moedas locais e permitir o assentamento eficaz das transações transfronteiriças entre Emirados e Etiópia”.

Assinaram também dois acordos preliminares para uso de suas moedas em transações através da fronteira e para vincular seus sistemas de pagamento e mensagem.

Artigo publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 19 de julho de 2024

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