O governo do Japão analisará a possibilidade de reconhecer oficialmente um Estado da Palestina, soberano e independente, de “maneira abrangente”, confirmaram oficiais do país asiático à agência de notícias Anadolu.
Conforme as fontes, Tóquio desfruta de um papel “único” nas chances de se avançar na “solução de dois Estados” — proposta da comunidade internacional para um eventual acordo negociado que solucione as disputas da questão palestina.
O Japão não reconhece oficialmente o Estado palestino, ao seguir as diretrizes do G7 — ou grupo dos sete países mais industrializados do mundo, formado também por Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Canadá, Estados Unidos e União Europeia.
O Estado japonês, no entanto, mantém uma missão geral da Palestina em Tóquio desde 1977, representando a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), chefiada pelo embaixador Waleed Siam.
Segundo Siam, Tóquio “estuda seriamente, neste momento, assim como Coreia do Sul, o reconhecimento do Estado palestino”.
De acordo com o embaixador: “Esses países sabem que reconhecer o Estado palestino não impede futuras conversas de paz entre nós e os israelenses — ao contrário”.
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Em comentário à agência Anadolu, o Ministério de Relações Exteriores do Japão insistiu nesta quarta-feira (14) que seu posicionamento oficial persiste em “apoiar a solução de dois Estados, por meio de negociações entre as partes”.
Oficiais da Divisão de Imprensa Internacional da chancelaria, contudo, observaram que Tóquio deseja, sim, “contribuir com o progresso para o processo de paz ao fazer o uso mais efetivo possível da posição única que o Japão angariou no Oriente Médio”.
A intervenção japonesa coincide com o reconhecimento crescente do Estado palestino por nações ocidentais, sobretudo após formalização da medida por Espanha, Irlanda e Noruega, em maio.
O único país atingido por uma bomba nuclear, durante a Segunda Guerra Mundial, sob disparos dos Estados Unidos, parece vivenciar ainda uma mudança na opinião pública sobre a Palestina, com protestos regulares por cessar-fogo em Gaza.
Em uma ação pioneira, a cidade histórica de Nagasaki, vítima do bombardeio atômico junto a Hiroshima, revogou o convite a oficiais israelense para seus eventos de paz em memória da catástrofe, em 9 de agosto de 1945.
A medida deflagrou pressão de outros membros do G7 que se negaram a comparecer ao memorial na ausência de Tel Aviv.
Todavia, as datas nacionais — 6 de agosto para Hiroshima e 9 de agosto para Nagasaki — foram marcadas por protestos pró-Palestina, que denunciaram o genocídio em Gaza, inclusive em atos próximos à embaixada israelense na cidade de Tóquio.
Relações Japão—Palestina
O Japão desfruta de relações ambíguas com Israel e Palestina.
Yasser Arafat, chefe da OLP, visitou o Japão pela primeira vez em outubro de 1981; em seguida, retornou ao país para quatro visitas entre 1996 e 2000.
Em contrapartida, o ex-premiê Tomiichi Murayama foi o primeiro chefe do governo em Tóquio a viajar à Cisjordânia ocupada em 1995.
A chancelaria evitou comentários adicionais, mas reconheceu a demanda crescente por um Estado da Palestina. “O Japão … compreende as aspirações do povo palestino pelo estabelecimento de seu Estado independente e apoia os esforços neste sentido”.
“O Japão continuará a ponderar o reconhecimento futuro da Palestina como Estado de maneira abrangente, levando em canto como avançar no processo de paz”, reiteraram as fontes.
Tóquio também reconhece que a Palestina é qualificada para filiação integral às Nações Unidas, votando a favor da medida no Conselho de Segurança em 18 de abril; contudo, sob veto final dos Estados Unidos.
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Em maio, a delegação japonesa repetiu seu voto na Assembleia Geral, assim como por direitos adicionais da Palestina como membro-observador, com aprovação da maioria.
Desde outubro, o Japão enviou cerca de US$125 milhões em assistência humanitária à Palestina. “Continuamos a avaliar nosso apoio de uma maneira rápida e com base nas necessidades em campo”, observou a chancelaria.
A declaração de Tóquio coincide com uma nova escalada do genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, que deixou 40 mil mortos, 90 mil feridos, 10 mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados até então.
Israel age em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança para negociar um cessar-fogo e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, para desescalada e fluxo humanitário contínuo.
Israel é também réu por genocídio em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em 26 de janeiro.