O grupo Talibã, no Afeganistão, celebrou seu terceiro aniversário de retorno ao poder com um desfile militar nesta quarta-feira (14), realizado em uma antiga base aérea dos Estados Unidos.
Helicópteros e aviões combatentes sobrevoaram a base de Bagram, situada a 40 km ao norte da capital Cabul, enquanto batalhões desfilavam com tanques e artilharia da era soviética e veículos de fabricação americana, além de projéteis de produção local.
Centenas de pessoas, incluindo oficiais de alto escalão do regime — como os ministros interinos Mullah Yaqoob (Defesa) e Sirajuddin Haqqani (Interior) —, se reuniram para o evento. Diplomatas chineses e iranianos estiveram presentes.
Bagram foi central às operações encabeçadas pelos Estados Unidos contra agentes do Talibã e outras organizações por duas décadas seguidas.
O Talibã retomou a capital Cabul em 15 de agosto de 2021, após o colapso do governo sustentado por Washington, com a fuga de suas lideranças políticas ao exílio. O feriado é celebrado no dia anterior, conforme o calendário afegão.
O governo do Talibã permanece sem reconhecimento de outros Estados por uma série de impasses geopolíticos e violações — sobretudo seu regime discriminatório contra as mulheres afegãs, descrito pelas Nações Unidas como “apartheid de gênero”.
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“Três anos se passaram desde que os sonhos das meninas foram sepultados”, observou Madina, ex-estudante de 20 anos da Universidade de Cabul, em entrevista à rede AFP. “Todo ano que passa é um sentimento amargo. As celebrações deste dia nos lembram de esforços e objetivos que tínhamos para nosso futuro”.
Em discurso no evento, o vice-primeiro-ministro Maulvi Abdul Kabir reiterou que nação alguma tem o direito de intervir nos assuntos internos do Afeganistão.
Em seu pronunciamento, o premiê interino Mullah Mohammad Hassan Akhund insistiu que responsabilidade do “Emirado Islâmico” para com os cidadãos “não terminou”, ao defender a necessidade da manutenção do regime.
“Mujahideen, oficiais e toda essa nação de fiéis, estejam cientes que nosso dever não terminou com a nossa vitória”, enfatizou Akhund. “Temos agora a responsabilidade de fortalecer o regime, reconstruir o país, proteger a propriedade e a honra e compensar as pessoas pelas guerras que nos acometeram”.
Autoridades do Talibã insistem priorizar a pauta de segurança, a fim de consolidar seu poder nos últimos anos. Contudo, adotam como foco a implementação de normas que costumam associar ao Islã — embora criticadas por humanistas muçulmanos.
“Futuro incerto”
Embora muitos afegãos expressem alívio pelo fim dos 40 anos de sucessivos conflitos, a economia permanece paralisada e a população ainda sofre uma crise humanitária que se agrava dia após a dia.
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“Os últimos três anos foram alguns dos piores de nossas vidas”, lamentou Zalmai, de 26 anos, que trabalha para uma organização beneficente e preferiu omitir seu sobrenome. “Não sei que segurança é essa de que o Talibã fala. As pessoas têm fome, os jovens não têm emprego … meninos e meninas enfrentam um futuro incerto”.
Após três anos, a economia do Afeganistão continua a enfrentar restrições pela falta de reconhecimento externo. O governo alega ter herdado um sistema corrupto e um país falido, dependente de ajuda externa.
Conforme denúncias, ao deixar o Afeganistão às pressas, Estados Unidos e seus aliados confiscaram as reservas de moeda estrangeira do Banco Central.
Uma coalizão de grupos não-governamentais de todo o mundo advertiu recentemente para o crescimento da lacuna assistencial, com 23.7 milhões de pessoas ainda carentes de socorro humanitário.
As mulheres foram expulsas da vida pública, proibidas de operar em muitos empregos, impedidas de frequentar parques e academias e mesmo banidas da educação em nível médio e superior.
Alison Davidian, chefe da ONU – Mulheres para o escritório do Afeganistão, observou à Al Jazeera que “três anos atrás, uma mulher afegã poderia decidir, em tese, concorrer à presidência … agora não pode decidir sequer quando vai à mercearia”.
“Não estou dizendo que as coisas eram perfeitas”, reiterou Davidian. “Não eram … mas também não era isso”.
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