Mohammed bin Salman (MBS), príncipe herdeiro e governante da Arábia Saudita, disse a congressistas dos Estados Unidos, em visita à monarquia, temer ser assassinado caso concorde em normalizar laços com o Estado de Israel.
Segundo informações da rede Politico, MBS expressou recentemente apreensões sobre os apelos crescentes, do lado americano, para normalizar laços com a ocupação.
Apesar de seu interesse em acordos abrangentes com Washington, como recompensa pela medida, MBS alegou “temer por sua vida” caso capitule sem contrapartida à causa palestina, em aparente negativa às pressões da Casa Branca.
O governo democrata do presidente Joe Biden vê uma eventual normalização entre Tel Aviv e Riad como uma vitória política à véspera das eleições de 20 de novembro. Biden saiu da corrida, mas a deixou como herança a sua vice, Kamala Harris.
A Arábia Saudita parecia prestes a normalizar laços com a ocupação até o ano passado, mas a ação transfronteiriça do Hamas, que capturou colonos e soldados, e o genocídio israelense que sucedeu em Gaza parecem ter congelado às negociações.
Desde então, a monarquia se aproximou da China, considerada como rival geopolítico dos Estados Unidos, inclusive ao normalizar laços com Teerã sob mediação de Pequim, após décadas de confrontos por procuração.
Regimes árabes — como Jordânia, que detém relações com a ocupação desde 1994 — enfrentam uma onda de protestos populares em apoio a Gaza, incluindo reivindicações por corte de relações com Israel — sejam abertas ou de bastidores.
“Da forma como [Bin Salman] colocou, cidadãos sauditas se importam muito com essa questão e as ruas de toda a região estão atentas”, comentou uma fonte à Politico.
“Sua tutela sobre os lugares santos do Islã [Meca e Medina] pode ser desafiada, crê Bin Salman, caso falhe em tratar da questão mais urgente, em termos de justiça, para toda a região”, acrescentou, em referência à causa palestina.
Em Gaza, Israel desacata medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, e resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas para um acordo de cessar-fogo e fluxo humanitário contínuo.
As ações israelenses — punição coletiva e genocídio — deixaram, até então, ao menos 40 mil mortos e 90 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Nos últimos meses, conforme os relatos, MBS chegou à conclusão de que “não existe a possibilidade de um Oriente Médio estável sem uma solução à questão palestina”.
Ainda assim, parece manter esforços para obter um acordo de proteção do Pentágono, em meio a tensões regionais crescentes, enquanto, contudo, firma acordos bilionários com Pequim, seja em termos de ensino, segurança ou energia.
Na última segunda-feira (12), a Corporação de Engenharia e Energia de Pequim firmou um acordo de 6.98 bilhões de yuan (US$972 milhões) para construir uma usina solar na Arábia Saudita, conforme documentação da Bolsa de Ações de Xangai.
O projeto integra uma série de parcerias de investimento em energia renovável, diante de promessas de ambos os países para expandir a capacidade e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Em 1º de agosto, o fundo soberano saudita — ou Fundo de Investimento Público (PIF) — assinou seis memorandos de entendimento no total US$50 bilhões com instituições bancárias chinesas, incluindo nos setores de crédito e agricultura.
Em 8 de agosto, a monarquia anunciou a introdução de 175 professores de mandarim em seu sistema de ensino fundamental e médio, ao expandir os cursos já vigentes, com 800 vagas a serem preenchidas. A medida sugere aproximação estratégica.