O atual presidente da Argélia Abdelmadjid Tebboune, de 78 anos, foi eleito a um segundo mandato no pleito realizado no último sábado, 7 de setembro, ao vencer de lavada seus oponentes, apesar de baixo comparecimento às urnas.
“Dentre os 5,63 milhões de eleitores registrados, 5,32 milhões votaram para o candidato independente Abdelmadjid Tebboune, contabilizando 94.65% dos votos”, confirmou neste Mohamed Charfi, chefe da Autoridade Nacional Independente para as Eleições (ANIE), no domingo (8), durante coletiva de imprensa realizada em Argel.
Estima-se que 24 milhões de argelinos estivessem registrados ao voto. Nas primeiras horas de domingo, a ANIE informou “comparecimento médio” de 48%, cerca de 10% acima do último pleito, ao descrever, no entanto, a estimativa como “provisória”.
Os desafiantes de Tebboune, apoiado pelo exército, incluíram o Abdelaali Hassani Cherif, conservador, com 3% dos votos, e Youcef Aouchiche, socialista, com 2.1%.
Charfi insistiu em seu anúncio que sua agência trabalhou para garantir a transparência e equidade do processo.
Em um caso sem precedentes, todas as três campanhas — até mesmo de Tebboune — se queixaram de “irregularidades” nos resultados em comunicado conjunto.
Hassani chegou a alegar que oficiais de seções eleitorais sofreram pressão para inflar os números e sugerir “instâncias de votos por procuração” — isto é, em nome de terceiros. O chefe de sua campanha, Ahmed Sadouk, caracterizou os resultados como “fantochada”, em postagem no Facebook.
Aouchiche, por sua vez, pediu fim do “boicote”, a fim de permitir “credibilidade” ao pleito.
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As campanhas, porém, não confirmaram crer que as supostas instâncias tenham afetado o resultado, tampouco indicaram contestação legal do processo, ao indicar apenas o que descreveram como “vagueza e contradições nas taxas de participação”.
Para Hasni Abidi, analista argelino radicado em Genebra, “esta é a principal questão”, em particular ao presidente reeleito, à medida que “a vitória lhe parece um alerta”.
Desinteresse
Osama Bin Javaid, correspondente da Al Jazeera em Argel, comentou que há uma sombra sobre a política argelina há décadas, devido ao envolvimento das Forças Armadas.
“A Argélia vem avançando rumo à democracia … porém, sempre sob o líder favorecido ou apoiado pelo establishment militar”, comentou Javaid.
Segundo o repórter, o eleitorado jovem, em particular, se mostra desinteressado em votar. “Argelinos mais jovens sentem que o país deveria fazer mais por eles para que participem do processo e convencê-los de que o voto realmente importa”.
Muito embora sua reeleição fosse praticamente certa, Tebboune não conseguiu superar a abstenção, após recordes negativos de 60% em 2019, quando venceu o pleito em meio a protestos por democracia, conhecidos como Hirak, amenizados no seu mandato.
A vitória de Tebboune implica continuidade em um programa de grandes gastos com base no aumento das receitas energéticas.
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Tebboune chegou ao poder após anos de déficit nos preços de petróleo, com impacto na economia argelina. Desde 2019, contudo, a commodity viveu aumento na demanda e nos custos, no contexto de pandemia e conflitos geopolíticos desde Norte da África e Oriente Médio até a Ucrânia.
Em campanha, Tebboune prometeu criar 450 mil empregos, ampliar seus programas de habitação e aumentar benefícios previdenciários, entre os quais, o seguro-desemprego e as aposentadorias.
A Argélia é o maior país africano em termos de área. Com quase 45 milhões de pessoas, é o segundo país mais populoso do continente a realizar eleições à presidência no presente ano, após a África do Sul, em maio, cujo pleito, embora indiretamente, também reelegeu Cyril Ramaphosa.
No decorrer da campanha, ativistas e organizações de direitos humanos advertiram para uma atmosfera repressiva nas eleições argelinas, com casos de perseguição e assédio a opositores, jornalistas e grupos da sociedade civil.
De sua parte, a Anistia Internacional notou recentemente que autoridades continuam “a sufocar o espaço cívico”, ao impor “novas prisões arbitrárias” e manter “uma abordagem de tolerância zero a opiniões dissidentes”.
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O presidente da França, Emmanuel Macron, contudo, manifestou suas “felicitações mais calorosas” a Tebboune, na noite de domingo, ao reforçar o “relacionamento excepcional” entre os países apesar de tensões frequentes oriundas dos tempos coloniais.
Para Macron, “o diálogo entre nossas nações é essencial”.
Para críticos, as eleições desde ano seriam praxe para dar legitimidade ao status quo.