O Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) cancelou um curso que seria ministrado pelo professor israelense Jorge Gordin, da Universidade Hebraica de Jerusalém ocupada, após alunos o denunciarem por “propaganda de guerra”.
Gordin costuma republicar declarações favoráveis ao genocídio em Gaza, assim como ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que enfrenta um pedido por mandado de prisão no Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia.
As palestras de Gordin estavam marcadas para 11, 12, 18, 19 e 20 de setembro, incluindo o tema de “Política territorial comparada”.
Em protesto, estudantes compareceram às aulas nesta quarta-feira (11) com adereços e bandeiras em solidariedade ao povo palestino.
Maynari Nafe, presidente do Centro Acadêmico de Ciência Política (Capol/UnB), ressaltou o caráter espontâneo das mobilizações discentes contra o professor convidado.
“Ontem, a pedido dos estudantes, nossa coordenação acadêmica identificou postagens deste professor em redes sociais, em que republicava propaganda militar das Forças de Defesa de Israel”, elucidou o Capol.
O Centro Acadêmico se posicionou “satisfeito” com a decisão e insistiu que “a seleção de expositores externos pelo Ipol seja rigorosa, com um olhar atento sobre possíveis ataques à imagem da comunidade palestina, que passa por genocídio e barbárie”.
Sobre a decisão, Nafe notou que tanto a Associação Docente (ADUnB) quanto o Conselho Universitário reconhecem Israel como Estado de apartheid.
LEIA: Além dos contratos militares: quais são os acordos do Brasil com Israel na educação?
“Uma coisa é preciso ser dita: dinheiro público brasileiro foi gasto para que esse professor viesse dar sua palestra na UnB. Dinheiro público, orçamento de emendas parlamentares, foi gasto para que esse professor chegasse até aqui”, alertou Nafe.
“Esse professor vem de uma universidade que está em um território ocupado ilegalmente. Portanto, a que preço se faz todo o estudo acadêmico que ele produz? Toda sua produção acadêmica cobra um preço muito caro aos palestinos”, acrescentou.
Em comunicado online, a instituição evitou detalhes e justificou o cancelamento do curso para “garantir a segurança da comunidade universitária”.
Em abril de 2023, núcleos palestino-brasileiros persuadiram a Universidade de Campinas (Unicamp) a cancelar um festival acadêmico de Israel, após manifestantes obstruírem, de maneira pacífica, as entradas do campus.
Ativistas, na ocasião, denunciaram as atividades como “uso das universidades brasileiras como propaganda para a ocupação, o apartheid e o colonialismo sionista”.
LEIA: Ministério da Educação improvisa escolas em tendas aos refugiados de Gaza
As mobilizações coincidem com uma onda de atos pró-Palestina em campi globais, com epicentro nos acampamentos de maio e abril na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, que retornaram com a volta às aulas no último mês.
As manifestações ecoam também os apelos da campanha da sociedade civil por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), incluindo o boicote acadêmico nos moldes das ações que desmantelaram o apartheid na África do Sul.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro último, com base em uma violenta campanha de desinformação e propaganda de guerra, deixando 41 mil mortos e 95 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, conforme denúncia sul-africana deferida em 26 de janeiro.
O governo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva apoia o processo em Haia e reconhece o genocídio. Contudo, apesar dos apelos da sociedade civil e de ser declarado persona non grata pelo regime em Tel Aviv, Lula ainda posterga a ruptura de relações.
LEIA: Brasil condena explosões de pagers, atribuídas a Israel, no Líbano