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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Israel e Estados Unidos, entidades terroristas

Ambulâncias transportam vítimas da detonação remota de aparelhos de rádio na cidade de Beirute, no Líbano, em 17 de setembro de 2024 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Os grandes jornais da burguesia estão chamando a série de atentados terroristas ocorridos no Líbano esta semana de “explosões”. Claro, o atentado não foi obra dos árabes e não ocorreu na Europa, nos Estados Unidos ou em Israel. Se fosse, seria rotulado de terrorista na primeira leva de breaking news.

Como foi obra de Israel — todo o mundo sabe disso, ainda que os sionistas o neguem —, então é claro que não é terrorismo. São apenas algumas “explosões”. Explosões exclusivamente em áreas civis e que já mataram mais de 30 pessoas (incluindo crianças) e deixaram mais de três mil feridos.

Em meio ao mar de ingenuidade fingida nos grandes veículos de imprensa, uma reportagem do New York Times cita 12 fontes da Defesa e da Inteligência israelense que confirmam que Israel está por trás dos atentados. De acordo com algumas das fontes do NYT, a companhia húngara BAC Consulting, que produziu os pagers para a taiwanesa Gold Apollo, na verdade é uma empresa de fachada dos serviços de inteligência israelenses. Ela produziu os dispositivos para que fossem monitorados e ativados por Israel para explodir a qualquer momento.

Esse tipo de ataque seria considerado terrorismo em qualquer lugar do mundo pelos mesmos que estão negando ou omitindo que tenha sido um atentado terrorista conduzido por Israel.

Em 2018, um refugiado afegão de 19 anos atacou com uma faca dois turistas americanos na estação central de trem de Amsterdã. Ele sequer matou os turistas — pelo contrário, foi morto em apenas nove segundos pela polícia —, porém foi considerado terrorista.

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No ano anterior, seis pessoas ficaram feridas em um atropelamento na região de Paris. Aquilo também foi investigado como possível ataque terrorista.

Se casos como esses são terrorismo, por que os jornais e os governos ocidentais não reconhecem as “explosões” no Líbano como atentados terroristas?

Precisamente porque isso implicaria considerar que Israel é uma entidade terrorista. E a imprensa controlada pelos Estados Unidos — que sustentam e incentivam o terrorismo israelense — jamais poderia fazer isso.

Após muitas maquinações do Império Britânico durante o final do século XIX e a primeira metade do século XX, os Estados Unidos se tornaram o maior responsável por assegurar a criação e consolidar a existência do “Estado de Israel”, uma entidade artificialmente fabricada. Desde então, utilizam esse pedaço de terra roubada dos palestinos nativos como uma gigantesca base militar em sua ânsia de dominar o Oriente Médio e sugar as suas preciosas riquezas naturais.

Desde o começo da nova fase do genocídio — que tem raízes em 1947/48 —, em outubro do ano passado, os Estados Unidos forneceram mais de US$ 6,5 bilhões em ajuda militar ao Estado israelense. Entre 2017 e 2021, os Estados Unidos foram responsáveis por fornecer 92% de todas as armas importadas por Israel, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo.

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Os Estados Unidos também são os responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico de Israel — voltado primordialmente para a área militar e cujos ataques terroristas no Líbano são uma consequência direta.

Yoav Gallant, o ministro da Defesa israelense, ligou para sua contraparte estadunidense, Lloyd Austin, minutos antes do primeiro atentado, para informá-lo sobre uma operação que seria realizada no Líbano, revelou o portal Axios.

Há décadas a Agência Central de Inteligência (CIA) e a Agência Nacional de Segurança (NSA) conduzem operações de espionagem a partir de dispositivos eletrônicos, incluindo televisões, computadores e celulares, contra cidadãos de todos os países do mundo. Agora, Israel — uma máquina genocida — demonstra que não é apenas possível espionar a partir de dispositivos que pertencem às próprias vítimas, mas também matá-las e matar quem está por perto.

Este episódio covarde e cruel de terrorismo cibernético e assassino é uma demonstração do perigo que é a dependência tecnológica. A maior parte do mundo depende da tecnologia monopolizada pelos países ricos, sobretudo os Estados Unidos, e seus gigantescos conglomerados que fabricam dispositivos praticamente sem concorrência — afinal eles mesmos a suprimem.

Os grandes monopólios ocidentais estão diretamente ligados aos governos imperialistas, como o dos Estados Unidos. As big techs são um exemplo óbvio deste problema — basta ver o repasse de informações privadas dos usuários de redes sociais ao governo norte-americano, ou a censura política exercida contra páginas que desagradam a Washington.

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Se as grandes empresas que fabricam e, portanto, detêm o controle de toda a tecnologia que está dentro dos dispositivos eletrônicos que nós adquirimos para uso corriqueiro têm acordos com governos como os de Estados Unidos e Israel, para fornecer dados dos usuários e mesmo instalar um controle remoto que pode ativar e explodir o aparelho, qualquer pessoa no mundo está sujeita ao terrorismo imperialista.

Há poucos meses, Israel já havia cometido outro — de tantos — atentados, quando bombardeou e assassinou o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, capital do Irã. A sua localização foi obtida justamente através do monitoramento de seu aparelho telefônico. O incidente levou Hassan Nasrallah, chefe do grupo libanês Hezbollah, a instruir seus correligionários a abandonarem o uso de smartphones em reuniões ou conversas sigilosas, ao substituí-los por pagers.

Mas nem mesmo aparelhos pouco sofisticados — como pagers e walkie-talkies — estão protegidos do monitoramento e do controle remoto das agências de espionagem e empresas privadas dos Estados Unidos e de Israel.

O sistema de vigilância e invasão da privacidade dos indivíduos erguido pela ditadura imperialista dos Estados Unidos — da qual Israel é um preposto criminoso e covarde —atingiu um novo nível. É por essas e outras que governos que estão na alça de mira desses regimes criminosos, como China e Rússia, lutam para criar tecnologias e dispositivos eletrônicos próprios. Chineses e russos não querem ter suas casas — ou suas cabeças — voando pelos ares a qualquer hora do dia.

Danos causados pela detonação remota de um aparelho de rádio em uma residência na cidade de Baalbek, no Líbano, em 18 de setembro de 2024 [Suleiman Amhaz/Agência Anadolu]

Romper com a tecnologia e os produtos eletrônicos dos Estados Unidos e de seus prepostos não é mais mera questão de soberania nacional. Agora, é questão de sobrevivência — no sentido mais literal do termo.

Para quem pensa que esse perigo não existe, basta lembrar que estamos falando de entidades — Estados Unidos e Israel — que já mataram mais de 40 mil pessoas, sobretudo mulheres e crianças, na Faixa de Gaza, em menos de 12 meses.

De fato, são capazes de tudo.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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