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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Discurso de Netanyahu na ONU é marcado por vaias e saída de diplomatas

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, caminha ao pódio para discursar à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, Estados Unidos, em 27 de setembro de 2024 [Fatih Aktas/Agência Anadolu]

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, discursou nesta sexta-feira (27) à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em meio a uma escalada no Líbano e às vésperas do primeiro aniversário do genocídio em Gaza.

Seu pronunciamento manteve o tom hostil, marcado por propaganda de guerra e ataques a críticos, diante de protestos marcantes dos diplomatas.

O premiê ameaçou o Irã e confirmou a intenção de seguir com os ataques no Líbano, que somam 700 mortos, 2.500 feridos e 30 mil refugiados em apenas uma semana, conforme números do Ministério da Saúde libanês e da Organização das Nações Unidas (ONU), até o momento.

Chamado ao pódio, Netanyahu foi vaiado, sob a saída em massa de dezenas de membros das delegações internacionais, incluindo Turquia, Irã, Arábia Saudita, Brasil e outros. Sua equipe reagiu com aplausos, sob pedidos de silêncio do presidente da sessão.

Apesar do Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) não comentar a matéria, a equipe brasileira deixou o plenário após o discurso de Barbados, seguido por Israel, para retornar ao discurso do primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif.

“Eu não pretendia vir aqui este ano”, começou Netanyahu, após adiar sua viagem a Nova York ao menos duas vezes, sob alegações securitárias. “No entanto, após ouvir mentiras e calúnias contra meu país, decidi aparecer e deixar as coisas claras [sic]”.

Netanyahu recorreu a dois mapas do Oriente Médio para ilustrar seu discurso, intitulados “Bênção” e “Maldição”, tratando respectivamente da suposta influência de Israel e Irã no Oriente Médio, ao sugerir um tom messiânico à propagação de sua guerra.

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“Não tem lugar no Irã que Israel não pode alcançar”, ameaçou o premiê. “Se nos atacam, atacaremos vocês”.

Seu mapa repetiu sua representação de “Grande Israel”, exposta na Assembleia Geral do ano passado, ainda antes da crise, ao anexar Gaza e Cisjordânia ao Estado israelense, em violação do consenso e das leis internacionais.

Netanyahu insistiu na tese de “vitória total” em Gaza, após um ano de destruição e morte sem alcançar sua missão declarada de “exterminar” o grupo palestino Hamas.

“O que queremos é desmilitarizar e desradicalizar Gaza. Tudo que o Hamas tem que fazer é se render, baixar as armas e soltar os reféns”, insistiu Netanyahu, ao negar os apelos em casa e no exterior por negociações de cessar-fogo e troca de prisioneiros.

Sobre a escalada contra o Líbano, Netanyahu alegou “não ter escolha e ter todo o direito” de atacar o país e alertou que Israel “continuará a deteriorar o Hezbollah até que todos os seus objetivos sejam alcançados”.

“Não descansaremos até que nossos cidadãos voltem em segurança a suas casas”, disse Netanyahu, em alusão aos colonos evacuados pela troca de disparos com o Hezbollah no front norte, desde outubro. “Não aceitaremos um exército terrorista [sic] empoleirado em nossa fronteira [sic]”.

O primeiro-ministro, no entanto, fez um apelo à normalização entre Israel e Arábia Saudita — processo descarrilado pelo genocídio em Gaza —, apesar de os representantes do país terem deixado o plenário no início de seu discurso.

Do lado de fora da sede das Nações Unidas, em Nova York, milhares tomaram as ruas em protesto às ações beligerantes de Israel, incluindo judeus antissionistas.

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Netanyahu buscou, no entanto, difamar as manifestações civis: “O Irã financia e alimenta os protestos contra Israel [sic]. Quem sabe, mesmo alguns ou muitos daqueles que estão lá fora agora mesmo são financiados pelo Irã [sic]”.

Os protestos se avolumaram pela eventualidade de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, contra Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, sob solicitação do promotor-chefe Karim Khan, em avaliação desde maio por um painel pré-julgamento.

Diplomatas deixam plenário durante o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, 27 de setembro de 2024 [Fatih Aktas/Agência Anadolu]

Diante das cadeiras vazias, o premiê voltou a atacar as instituições de governança global: “Até que este pântano antissemita [sic] seja drenado, a ONU será vista por gente de bem [sic] como nada mais que uma farsa desdenhosa”.

Em contrapartida, Netanyahu apelou a construtos racistas de civilização contra barbárie, ao afirmar se defender de “assassinos selvagens” e insistir que “os inimigos não almejam apenas nos destruir, mas destruir nossa civilização comum [sic] para devolver todos nós a uma era negra [sic] de tirania e terror [sic]”.

Netanyahu deu seu discurso semanas após a Assembleia Geral deferir por ampla maioria a resolução inaugural do Estado da Palestina no fórum, pelo fim da ocupação de Israel no período de 12 meses, logo após os emissários palestinos conquistarem um assento entre os países-membros, como avanço a sua filiação integral à ONU.

Para Marwan Bishara, analista político da rede Al Jazeera, o discurso de Netanyahu, com foco na tese de “autodefesa”, ignora o direito palestino — consagrado por resoluções das Nações Unidas e deliberações do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também sediado em Haia — de “resistir a seus ocupantes”.

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“Israel não tem direito de defender sua ocupação e expropriação de palestinos que vivem em campos de refugiados há oito décadas”, indicou Bishara. “Israel alega se defender. No entanto, na verdade, defende seu racismo e seu regime de apartheid”.

O discurso de Netanyahu foi sucedido, quase imediatamente, por ataques israelenses a diversos prédios residenciais em Beirute e um novo bombardeio a um colégio convertido em abrigo na Faixa de Gaza.

Em resposta, Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas, disse que sua organização “assiste alarmada” à continuidade da crise. No sul de Beirute, conforme as informações, um quarteirão inteiro foi destruído, impossibilitando sequer acesso de ambulâncias.

Incêndio e destruição causados por bombardeios israelenses a Beirute, capital do Líbano, minutos após o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao plenário da 79ª Assembleia Geral da ONU, em 27 de setembro de 2024 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Israel intensificou ataques ao Líbano desde segunda-feira (23), em sua maior ofensiva ao território levantino desde a guerra aberta entre Israel e Hezbollah em 2006.

A escalada sucede uma série de atentados terroristas, atribuídos ao Mossad, na semana passada, com a explosão de pagers e walkie-talkies nas ruas libanesas.

Israel e Hezbollah trocam disparos através da fronteira há quase um ano, no contexto do genocídio israelense na Faixa de Gaza sitiada, com 41 mil mortos e 95 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.

Analistas sugerem apreensão de que Tel Aviv repita suas violações em Gaza no Líbano, ao indicarem que apenas um cessar-fogo no enclave palestino pode evitar uma deflagração em âmbito regional e, porventura, internacional.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça — que julga Estados —, sob denúncia sul-africana deferida em 26 de janeiro. A mesma corte reconheceu, em decisão de 19 de julho, a ilegalidade da ocupação na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, ao exortar evacuação imediata de colonos e soldados e reparação aos nativos.

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