O ministro de Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, subiu o tom de suas críticas a Israel, ao advertir que o regime do premiê Benjamin Netanyahu “não tem objetivo senão a guerra”, após uma escalada sem precedentes contra o Líbano.
As informações são da rede de notícias Al-Arabiya.
As declarações de Safadi foram proferidas durante coletiva de imprensa após encontro de alto escalão da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), na cidade de Nova York, em paralelo à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
“Estamos aqui, membros do comitê árabe-islâmico, composto por 57 países, para afirmar inequivocamente que todos nós estamos dispostos, agora mesmo, a garantir a segurança de Israel, dado o fim da ocupação e a emergência de um Estado independente palestino”, reiterou Safadi, ao denunciar Israel por abandonar a “solução de dois Estados”.
“Todos nós no mundo árabe queremos a paz, que Israel viva em paz e segurança, aceito e normalizado com os países árabes, desde que dê fim à ocupação, retire-se dos territórios árabes e permita a emergência de um Estado independente e soberano da Palestina, nas fronteiras de 4 de junho de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital”, argumentou, em resposta ao discurso de Netanyahu à ONU.
Safadi — cujo regime mantém relações com Israel desde 1994 — rechaçou a declaração do premiê de que “Israel está cercado por aqueles que querem destruí-lo”.
Para o chanceler, Netanyahu “cria ameaças porque simplesmente não quer a solução de dois Estados — se quisesse, poderíamos perguntar a quaisquer oficiais israelenses qual é seu objetivo, senão guerras e guerras e mais guerras?”
Conforme o diplomata hachemita, “levamos 30 anos para convencer as pessoas de que a paz é possível, mas o governo em Israel matou isso … Levaremos gerações para superar a desumanização, o ódio e a amargura que eles impuseram”.
Safadi advertiu que Netanyahu “pensa somente em destruir Gaza, incendiar a Cisjordânia e destruir o Líbano”.
“Não temos nenhum parceiro de paz em Israel, mas, sim, há vontade por paz no mundo árabe, e é por isso que a comunidade internacional tem de se mexer”, insistiu o ministro, em tom de indignação.
As declarações de Safadi coincidem com uma crise interna na Jordânia, sob protestos de massa sem precedentes contra as agressões israelenses por toda a região, sobretudo ao povo palestino.
A monarquia em Amã é denunciada, porém, por ações colaboracionistas.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro passado, com ao menos 41 mil mortos, 95 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Na Cisjordânia, uma escalada colonial — incluindo pogroms — deixou 700 mortos, 2.700 feridos e dez mil encarcerados arbitrariamente no mesmo período.
As ações israelenses constituem crime de genocídio e punição coletiva, como posto pela denúncia sul-africana no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, deferida em 26 de janeiro.
Na última quinzena, Israel intensificou ataques ao Líbano, a partir de atentados terroristas atribuídos ao Mossad que explodiram pagers e walkie-talkies nas ruas do país, seguidos por bombardeios à capital Beirute e outras cidades e aldeias.
“Responsabilizamos Israel pelas consequências catastróficas de sua agressão ao Líbano, lançada de forma brutal, sem qualquer consideração legal ou humanitária, à medida que continua sua agressão a Gaza e sua perigosa escalada na Cisjordânia”, ressaltou Safadi, posteriormente, na rede social X (Twitter).
“Expressamos solidariedade ao Líbano e seu povo irmão, que sofre essa agressão e busca curar suas feridas, e reafirmamos nosso apoio a sua soberania, segurança, estabilidade, coesão e paz”, acrescentou.
Israel troca disparos com o influente movimento libanês Hezbollah, ligado ao Irã, desde o ano passado, no contexto da crise em Gaza; contudo, anunciou na última semana “uma nova fase” das operações armadas, ao assassinar sua liderança, Hassan Nasrallah.
Para analistas e observadores internacionais, Tel Aviv busca atrair Teerã ao conflito, a fim de disseminar a guerra.