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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

O governo brasileiro diante dos bombardeios sionistas ao Líbano

Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa à 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, 24 de setembro de 2024 [Ricardo Stuckert/Divulgação/Presidência da República]

Após o início da campanha aérea contra o Líbano, escrevi um artigo apurando opiniões de lideranças libanesas no Brasil, assim como das instituições sociais mais conhecidas. O passo seguinte, na medida em que os ataques são cada vez mais intensos, incluindo o assassinato do secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, seria observar o comportamento da diplomacia do Brasil. No texto que segue trazemos os comunicados formais e a comunicação pública através da posição do próprio presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Ao final, observamos como a posição brasileira se aproxima dos países árabes e islâmicos. Vejamos.

Na segunda-feira, 23 de setembro, a diplomacia brasileira emitiu uma nota onde afirmava que:

O governo brasileiro condena, nos mais fortes termos, os contínuos ataques aéreos israelenses contra áreas civis em Beirute, no Sul do Líbano e no vale do Bekaa. O governo brasileiro também deplora declarações de autoridades israelenses em favor de operações militares e da ocupação de parte do território libanês e expressa grave preocupação ante exortações do governo israelense para que civis libaneses evacuem suas residências naquelas regiões.

Já em 26 de setembro, o Itamaraty emitiu outra nota para a imprensa, com o título Morte de adolescente brasileiro no Líbano:

O governo brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, da morte, no Vale do Bekaa, Líbano, do adolescente brasileiro Ali Kamal Abdallah, de 15 anos de idade, natural de Foz do Iguaçu. O adolescente e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram atingidos por explosão como resultado dos intensos bombardeios aéreos israelenses na região, na segunda-feira. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência aos familiares do adolescente. O pai do adolescente também faleceu como resultado da explosão.

E acrescentou:

Ao solidarizar-se com a família, o Governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades.

Na sequência o Itamaraty emitiu mais um comunicado, em outra situação de assassinato de cidadãos brasileiros (e brasileiras) no Líbano. Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE):

O governo brasileiro tomou conhecimento, com grande pesar e consternação, da morte, no Sul do Líbano, da adolescente brasileira Mirna Raef Nasser, de 16 anos, natural de Balneário Camboriú – Santa Catarina. Segundo relato familiar, a adolescente e seu pai, de nacionalidade libanesa, foram atingidos por bombardeio aéreo, em casa, na segunda-feira, 23 de setembro. Trata-se da segunda vítima brasileira atingida pelos intensos bombardeios aéreos israelenses na região. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência à família da adolescente […] Ao expressar à família as mais sentidas condolências, o governo brasileiro reitera a condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis no Líbano e renova o apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades.

Mesmo através de linguagem diplomática, o Itamaraty se posiciona de forma coerente com a densidade populacional libanesa (e descendentes) no Brasil e aponta um alinhamento correto. Como veremos, na 79ª Assembleia Geral das das Nações Unidas, na última semana, a posição brasileira foi semelhante.

O Brasil na Assembleia Geral e os ataques sionistas 

Houve um importante gesto diplomático por parte do Ministério de Relações Exteriores. A delegação brasileira se retirou do auditório antes do discurso ao fórum do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na sexta-feira, 27 de setembro, junto de outras delegações, incluindo países árabes, que fizeram o mesmo. Em contraste, a missão brasileira acompanhou discurso do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, no dia anterior.

Segundo o G1, a saída da missão brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU) frente a Netanyahu se deu por determinação do Itamaraty. “A comitiva brasileira, segundo fontes diplomáticas e da Missão do Brasil na ONU, se retirou antes de que Netanyahu fosse chamado, como uma forma de protesto. Israel trava uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza há quase um ano e, desde a semana passada, começou a bombardear o Líbano em conflitos contra o Hezbollah”, destacou a reportagem, em alusão ao genocídio em Gaza e as agressões em solo libanês.

A posição do corpo diplomático brasileiro foi precedido pelo discurso do presidente Lula na Assembleia Geral e, depois, uma concorrida entrevista coletiva, conduzida na quarta-feira, 25 de setembro.

LEIA: Lula condena guerra israelense no Líbano e Palestina

“É importante a gente lembrar que no Líbano o total de mortos é 620 pessoas. É o maior número de mortos desde a guerra civil que durou entre 1975 e 1990. É importante lembrar também que morreram 94 mulheres e 50 crianças, 2.058 pessoas feridas e dez mil pessoas forçadas a recuar e esvaziar suas casas”, disse Lula aos grupos de comunicação que cobrem as Nações Unidas, na ocasião. É importante observar, no entanto, o número de assassinatos pelos aviões de caça sionistas cresce a cada dia.

Lula também lembrou que na Cisjordânia já morreu centenas de pessoas, com 5.700 feridos: “[…] Além do que eu chamo de genocídio na Faixa de Gaza. É importante lembrar que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é julgado pelo Tribunal Internacional que julgou Vladimir Putin e está condenado da mesma forma. É importante lembrar que já foram feitas várias discussões aqui no Conselho de Segurança da ONU, várias tentativas de paz e de cessar-fogo foram aprovadas e que ele não cumpre”.

 

Ao final, o mandatário brasileiro reforçou a condição carcomida das Nações Unidas, ao reivindicar “mais representatividade de mais continentes” e reiterar que “a geopolítica de hoje é diferente da de 1945, a importância dos países também é diferente, para mais ou para menos”.

O que defendemos é que haja uma nova geopolítica para que a gente possa ter a totalidade dos continentes representados nas Nações Unidas, inclusive no Conselho de Segurança acabando com o direito de veto e aumentando o poder de comando da organização.

Posição brasileira se aproxima dos países árabes e islâmicos

O Comitê Ministerial designado pela Cúpula Extraordinária Conjunta Árabe-Islâmica para acompanhamento na Faixa de Gaza realizou uma reunião em Nova York, no domingo, 22 de setembro, pouco antes do início da Assembleia Geral. Deste encontro, saiu uma delegação da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), com 57 Estados membros, questionando publicamente a delegação israelense. A intervenção foi feita por um diplomata jordaniano que simplesmente perguntou ao Estado sionista: “Qual a sua proposta de saída do conflito?”

O discurso do representante jordaniano foi bastante contundente. Os próprios sionistas eliminaram qualquer possibilidade de dois povos e dois Estados e seguem o genocídio a olhos vistos e a céu aberto em Gaza e a limpeza étnica na Cisjordânia, além de bombardeios coordenados com os satélites do Centcom — Comando Central dos Estados Unidos —, através dos aviões de caça F-35, de fabricação estadunidense, e com bombas que podem alcançar grandes profundidades, também produzidas nos Estados Unidos.

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Concluo esta recompilação com a seguinte conclusão analítica. A posição brasileira é bastante saudável, mas não parece evoluir a uma ruptura de relações diplomáticas com o apartheid na Palestina ocupada. Uma variável é o congelamento total das relações – e dos contratos, como o da Elbit System – caso realmente a campanha de bombardeios destrua toda a infraestrutura libanesa. Se nem o Monte Líbano critica abertamente a resistência – convoca uma marcha pela paz como se a guerra não fosse de agressão e conquista colonial – então é porque realmente a hegemonia da luta nacional libanesa e solidária com a Palestina é quase absoluta.

O Brasil vai tolerar a destruição total do Líbano? Não me parece.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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