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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Mundo condena ofensiva israelense no Líbano, EUA reiteram apoio

Prédios danificados por ataques israelenses aos bairros de Laylaki e Haret Hireyk, no sul de Beirute, em 1º de outubro de 2024 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Os Estados Unidos pareceram destoar dentre as respostas da comunidade internacional frente à invasão terrestre de tropas israelenses ao Líbano, ao reafirmar seu apoio.

Vozes globais despertaram nesta terça-feira (1º) com pedidos de cessar-fogo, sob receios de uma guerra aberta sem precedentes entre Israel o grupo Hezbollah, ligado ao Irã, após o exército da ocupação anunciar incursões “limitadas, localizadas e direcionadas” contra o sul do Líbano.

Washington, no entanto, insistiu na tese de que a violação da soberania libanesa seria, de algum modo, equivalente ao “direito de Israel se defender”.

A invasão por terra sucede uma quinzena de escalada contra o Líbano, com início em uma onda de ataques terroristas atribuídos ao Mossad que explodiram pagers e walkie-talkies nas ruas libanesas, seguidos por bombardeios que chegaram à capital.

Na noite de segunda-feira (30), o Ministério da Saúde do Líbano reportou 95 mortos e 172 feridos em apenas 24 horas, somados aos 1.057 mortos e 2.950 feridos nas áreas centro e sul do país, desde 23 de setembro.

Na sexta-feira passada (27), um ataque aéreo israelense resultou na morte do secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah.

Neste contexto, Emirados Árabes Unidos, Catar, Japão e outros foram rápidos em declarar apreensão e emitir alertas contra a deflagração de uma guerra regional.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, entretanto, conversou com seu homólogo israelense, Yoav Gallant, para coordenar os avanços, ao consentir com ataques por terra. “Deixei claro que apoiamos o direito de Israel se defender”, insistiu Austin.

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O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca repetiu suas palavras, em nota, nesta terça-feira, ao justificar as “operações limitadas” de Israel.

A gestão democrata do presidente Joe Biden, todavia, alegou permanecer contrária a uma expansão das incursões por terra, ao ecoar os apelos por uma “solução diplomática” do secretário de Estado, Antony Blinken, alvo de críticas por ludibriar o público na conjuntura atual, em uma série de pronunciamentos no Capitólio.

Najib Mikati, primeiro-ministro do Líbano, advertiu que o país enfrenta “um dos momentos mais perigosos de sua história” e exortou a Organização das Nações Unidas (ONU) e seus Estados-membros a prover assistência aos mais de um milhão de deslocados à força.

“Pedimos urgentemente mais ajuda para robustecer esforços em curso para prestar apoio básico aos civis expulsos de suas casas”, reiterou Mikati em reunião com representantes das Nações Unidas.

Imran Riza, coordenador humanitário da ONU para o país, confirmou um “pedido urgente” de assistência à população civil, no valor de US$426 milhões. “Sem recursos suficientes, arriscamos deixar a população de todo um país sem o apoio que tanto precisam”, alertou Riza, ao apontar, no entanto, que nenhuma quantia poderá conter a crise caso os ataques continuem.

Liz Throssell, porta-voz do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, ressaltou que uma “invasão por terra em larga escala” resultará apenas em “mais e mais sofrimento”.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) condenou a ofensiva, ao indicar que viola a “soberania e integridade territorial” do país.

O Ministério de Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU) afirmou “profunda consternação” sobre a escalada e reafirmou “seu apoio inabalável à unidade do Líbano e sua integridade territorial e soberania”.

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A chancelaria pediu ainda apoio internacional para evitar maiores tensões, ao enfatizar a importância de garantir plena proteção aos civis.

O presidente emiradense, sheikh Mohamed bin Zayed al-Nahyan, “encomendou a entrega de um pacote assistencial urgente de US$100 milhões ao povo do Líbano”, acrescentou o comunicado.

O ministro de Relações Exteriores do Catar, Mohammed bin Abdulaziz al-Khulaifi, somou-se aos alertas no Twitter (X), ao indicar que “a agressão no Líbano infringirá apenas o pior” sobre a região.

“Agora, mais do que nunca, [o Líbano] demanda nosso apoio inabalável para salvaguardar a segurança e integridade territorial do país”, declarou al-Khulaifi. “Permanecer ao lado de nossos irmãos libaneses não é somente um dever moral, mas um imperativo”.

Em discurso ao parlamento, na primeira sessão após o recesso de verão, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reiterou: “Jamais deixaremos os nossos irmãos libaneses sozinhos nesses dias difíceis e os apoiaremos com todos os meios a nosso dispor”.

Além da região, a resposta unificada foi um pedido de cessação das hostilidades e alertas dos perigos de uma conflagração regional.

O governo do Japão instou cessar-fogo imediato e máximo comedimento das partes.

A Rússia — com interesse geopolítico na crise por sua relação com Síria e Irã — notou que a “geografia das hostilidades está se expandindo, ao desestabilizar ainda mais a região e aumentar as tensões”.

José Manuel Albares, ministro de Relações Exteriores da Espanha, reivindicou que Tel Aviv cesse suas operações por terra para evitar ampliação do conflito.

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A Itália, que preside atualmente o chamado Grupo dos Sete (G7) — que inclui Alemanha, Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia — prometeu continuar a trabalhar rumo a uma desescalada.

Mark Rutte, chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), declarou “seguir de perto o que está acontecendo no Líbano” e alegou esperanças de que as “hostilidades cheguem ao fim o mais breve possível”.

O ministro de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, David Lammy, preconizou um “custo altíssimo” em caso de uma deflagração regional e destacou que Londres mantém contato com Teerã por comedimento — contudo, sem mencionar comunicação semelhante com Israel.

Israel denominou sua operação como Flechas do Norte — a primeira incursão por terra ao Líbano desde a guerra aberta contra o Hezbollah em 2006, que resultou em derrota tática do Estado ocupante e na Resolução 1701 das Nações Unidas, que proíbe presença militar entre o rio Litani e a chamada Linha Azul — a demarcação de fronteira.

Na sexta-feira (27), Israel assassinou Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, em um ataque aéreo ao subúrbio de Beirute.

A escalada coincide com as vésperas do primeiro aniversário do genocídio israelense em Gaza, com mais de 41 mil mortos, 95 mil feridos e dois milhões de desabrigados desde 7 de outubro de 2023.

Os avanços israelenses seguem em desacato de uma resolução por cessar-fogo em Gaza do Conselho de Segurança da ONU, aprovada via abstenção inédita dos Estados Unidos, após sucessivos vetos.

Apesar de contundente pressão interna em plena campanha eleitoral, a gestão americana de Biden mantém envio de armas e recursos, além de cobertura diplomática, à campanha israelense, sob risco de ser julgado como cúmplice internacionalmente.

Israel é também réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em 26 de janeiro.

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Palestina: quatro mil anos de história
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