Aviões israelenses executaram mais de 30 bombardeios em Beirute, capital do Líbano, na madrugada entre sábado e domingo, 5 e 6 de outubro de 2024, na “noite mais violenta” desde que o genocídio na Faixa de Gaza sitiada — em seu primeiro aniversário — avançou contra o país ao norte, em meados de setembro.
A imprensa libanesa reportou no domingo que ataques alvejaram diversas localidades na periferia sul da capital, resultando em danos generalizados e fumaça densa que cobriu a manhã. Os bombardeios foram ouvidos por toda a cidade, corroboraram testemunhas.
Dentre os edifícios alvejados, infraestrutura civil: um posto de gasolina próximo ao acesso viário ao aeroporto Rafic Hariri; um hotel, na mesma região; um prédio na rua Barjaoui, no distrito de Ghobeiry; além de múltiplos alvos em Safir e Burj al-Barajneh.
Não há dados precisos, até o momento, sobre as baixas dos últimos ataques.
Em nota, Avichay Adraee, porta-voz do exército israelense, repetiu as alegações de que os ataques a áreas densamente povoadas se deram contra “armamentos e infraestrutura do [movimento] Hezbollah em Beirute”.
As alegações repetem a campanha de desinformação e propaganda de guerra conduzida por Israel em Gaza, como pretexto para a retaliação e punição coletiva contra o enclave e sua população, desde as operações transfronteiriças do Hamas de 7 de outubro.
Há um ano, em ação inédita, combatentes do grupo palestino, entre outras organizações, romperam o cerco israelense a Gaza, invadiram colonatos e capturaram em torno de 200 colonos e soldados.
Israel afirmou ainda que 1.200 pessoas foram mortas na ocasião, apesar de denúncias de “fogo amigo”, conforme vazamento ao jornal israelense Haaretz em que comandantes do exército ocupante ordenavam medidas contra a tomada de reféns.
Desde então, a campanha israelense em Gaza deixou 41.870 mortos, 97.166 feridos e até dois milhões de desabrigados, sob violento cerco e fome generalizada. No Líbano, estima-se dois mil mortos e 9.500 feridos até então, além de 1.2 milhão de deslocados.
Para Adraee, apesar dos números de baixas civis e testemunhos em campo, os ataques a Beirute — como em Gaza — refletiram “inteligência precisa, com alvo em depósitos dos Hezbollah e outras estruturas militares”.
Para justificar suas ações, Adraee retomou o pretexto de que o Hezbollah supostamente estaria operando em prédios residenciais — contudo, novamente, sem provas.
Ali Hashem, correspondente da Al Jazeera em Beirute, notou, contudo, uma escala além de “intensidade, velocidade e força” das explosões que abalaram Beirute, com disparos, sobretudo, aos arredores do aeroporto.
“Dia após dia, a intensidade dos bombardeios cresce”, reiterou Hashem. “[O Líbano] está se tornando outra Gaza, da maneira como os ataques estão acontecendo”.
Os ataques continuaram ininterruptos até meados da manhã, com milhares de residentes das zonas periféricas em fuga desesperada ao centro da capital — muitos deles somente com a roupa do corpo, dormindo nas ruas, praias e praças.
O Hezbollah, porém, reagiu, com uma salva de foguetes e mísseis contra tropas de Israel em Manara, no chamado front norte, no lado israelense. O grupo também alegou resistir a tropas que invadiram o Líbano por Khallet Shuaib, forçando seu recuo.
No sábado, autoridades israelenses reconheceram que ao menos nove de seus soldados foram mortos pela resistência libanesa, na tentativa de avançar ao país.
Todavia, no mesmo dia, Israel conduziu seu primeiro ataque a Trípoli, no norte libanês, ao reivindicar a morte de Saeed Attalah Ali — suposto comandante das Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas. Sua esposa e duas filhas também foram mortas.
As ações de Israel seguem em desacato a uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por cessar-fogo em Gaza, e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia da África do Sul deferida em 26 de janeiro.
Há meses, parte substancial da comunidade internacional alerta: apenas um cessar-fogo em Gaza — e então no Líbano — pode impedir uma guerra regional.
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