Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas ao redor do mundo para reivindicar um cessar-fogo imediato no Líbano e em Gaza, à medida que o genocídio israelense contra os palestinos do enclave completa um ano.
As informações são da agência de notícias Al Jazeera.
Manifestantes se reuniram em dezenas de cidades nesta segunda-feira — 7 de outubro de 2024 —, em meio a uma agenda de protestos e vigílias que deve tomar a semana.
Em 7 de outubro de 2023, após 17 anos de cerco militar contra Gaza e 75 anos de limpeza étnica e apartheid contra a Palestina histórica, grupos de resistência palestinos cruzaram a fronteira e capturaram colonos e soldados.
Israel alegou então que a operação transfronteiriça deixou 1.200 mortos — índices postos em dúvida mais tarde, com evidências de “fogo amigo” registradas pelo jornal israelense Haaretz e com o avanço de uma campanha de desinformação e propaganda de guerra no intuito de justificar sua expansão militar contra a região.
Desde então, a campanha de Israel em Gaza deixou 41.800 mortos, 97.100 feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos —, em meio à destruição indiscriminada da infraestrutura civil.
As agressões israelenses, a partir de 23 de setembro, voltaram-se ao Líbano, com dois mil mortos e sete mil feridos até o momento — a maioria em somente uma quinzena —, além de 1.2 milhão de deslocados à força.
Nesta conjuntura, parte considerável da comunidade internacional adverte há meses que apenas um cessar-fogo em Gaza — e agora no Líbano — pode evitar a deflagração de uma guerra regional.
Na Nova Zelândia, manifestantes pró-Palestina se reuniram nesta segunda-feira em frente à sede da emissora pública de televisão TVZN, em Auckland, para exigir um cessar-fogo; contudo, entraram em confronto com provocadores do grupo fundamentalista cristão, de extrema-direita, Destiny Church.
No começo da manhã, o primeiro-ministro neozelandês, Christopher Luxon, insistiu que o seu país manterá os apelos por cessar-fogo, comedimento e desescalada — “em lugar de retaliação e represálias”.
“Simplesmente não há ação militar capaz de atenuar os conflitos e as tensões regionais”, comentou Luxon, ao pedir negociações pela “solução de dois Estados”.
Na Austrália, multidões com lenços tradicionais (keffiyehs), bandeiras palestinas e outros símbolos da resistência se reuniram em frente à maior mesquita do país, em Lakemba, na periferia de Sydney, antes de uma marcha que tomou a tarde.
A polícia se disse de prontidão para evitar bandeiras verde-amarelas, após advertir contra eventuais símbolos do grupo Hezbollah — criminalizado no país, segundo informações da agência Anadolu.
“Estamos aqui para exigir que o governo finalmente corte laços com o Estado de Israel — afinal, basta!”, disse Amao Naser, um dos organizadores do protesto à rede ABC.
Atos tomaram também as cidades de Melbourne e Adelaide.
Cidades paquistanesas também vivenciaram protestos em apoio a Gaza, com a presença de uma diversidade de grupos políticos e religiosos, em Karachi, além de Lahore, Quetta, Peshawar, Faisalabade, Multan, Sargodha, Hiderabade, e outras cidades.
Um evento memorial também foi realizado em Nova Delhi, capital da Índia, com dezenas de pessoas entoando canções e palavras de ordem contra a guerra em Gaza.
Em Jacarta, capital da Indonésia, uma multidão de manifestantes pró-Palestina se reuniu em frente à embaixada dos Estados Unidos, ainda no domingo (6), para exigir do governo em Washington que pare de enviar armas a Israel.
Em Rabat, capital do Marrocos, os protestos reuniram dezenas de milhares, com apelos à monarquia para que rompa relações diplomáticas com o Estado israelense, normalizadas em 2020 às custas dos povos palestino e saarauí.
Milhares também marcharam em solidariedade a Gaza e ao Líbano em várias cidades da Turquia, incluindo a metrópole Istambul e a capital Ancara.
No Vaticano, o Papa Francisco falou a fiéis neste domingo, ao reforçar apelos por “cessar-fogo imediato” e alertar para o risco de “uma guerra ainda maior”.
Em Berlim, no distrito de Kreuzberg, a polícia alemã apelou à violência contra os milhares de manifestantes que expressaram seu repúdio à guerra e ao genocídio.
Ativistas alemães denunciaram a brutalidade policial no decorrer do ano, ao demonstrar resiliência com cartazes com os dizeres como “Basta de armar Israel”, “Fim do genocídio” e “Liberdade a Gaza” — contudo, sob repressão, incluindo dezenas de detidos, dentre os quais um cidadão em cadeira de rodas.
Manifestações ocorreram também na cidade histórica de Colônia, na bacia do rio Reno.
Na Grécia, milhares de cidadãos tomaram as ruas e praças ao longo do fim de semana. A convocatória para os atos nacionais — por agremiações estudantis, sindicatos e partidos progressistas — deu-se sob o slogan “Um ano de genocídio”.
Em Atenas, capital do país, soldados em uniforme completo rechaçaram o “envolvimento do governo nos planos imperialistas para o Oriente Médio”, somando-se a atos em Pireus, Tessalônica, Patras, Heraclião e outras.
Um protesto em frente à embaixada israelense, no centro ateniense, foi convocado ainda para esta segunda-feira.
Manifestações foram registradas em Tóquio, somando-se a denúncias que tomaram o ano em cidades japonesas marcadas por crimes de guerra, sobretudo Hiroshima e Nagasaki, que comparam o volume de bombas lançados por Tel Aviv em Gaza com os bombardeios nucleares de 1945.
Milhares também marcharam na tradicional Times Square de Nova York, ainda no sábado (5) — muitos, carregando retratos das pessoas assassinadas pela ofensiva israelense em Gaza, nos últimos doze meses.
Os protestos vivenciaram novamente um momento dramático em Washington DC, capital dos Estados Unidos, com um homem que ateou fogo a seu corpo para reivindicar o fim da cumplicidade americana com o exército de Israel, em frente à Casa Branca.
Não se trata, contudo, do primeiro incidente de autoimolação em meio ao genocídio. Em 25 de fevereiro, Aaron Bushnell, membro da Força Aérea, transmitiu ao vivo seu protesto, realizado em frente à embaixada israelense na capital americana.
Em sua transmissão, Bushnell reiterou que não poderia mais “ser cúmplice do genocídio”, ao entoar, ao menos cinco vezes, “Palestina livre” enquanto queimava. Com somente 25 anos, o soldado americano faleceu de seus ferimentos.
Na tradicional Praça de Maio — palco de protestos contra a ditadura —, em Buenos Aires, na Argentina, ativistas solidários se juntaram à comunidade palestina e libanesa para um ato no domingo, com intuito de denunciar a catástrofe humanitária em Gaza e reivindicar memória, verdade e justiça para a Palestina.
As ações israelenses, com avanços ao Líbano, seguem em desacato de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por cessar-fogo em Gaza, além de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde o Estado de Israel é réu por genocídio, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.