A narrativa palestina é marcada por resiliência, perda e uma conexão milenar com a terra. Para a geração mais jovem, compreender a profundidade deste vínculo pode ser um tanto desafiador, sobretudo em um mundo onde a narrativa costuma ser dominada por debates geopolíticos concentrados na ocupação ilegal israelense, de modo a encobrir as histórias humanas de luto, dor e saudades no coração de um povo.
Para preencher esta lacuna, a obra de Deema al Alami intitulada, em inglês, 48 Stories of Exile from Palestine — ou Palestina: 48 histórias de exílio, em tradução livre — nos dá um poderoso contrapeso. Este volume oferece uma tapeçaria rica e vibrante de narrativas de natureza pessoal que atravessam gerações e contextos sociais, dando vida à diversidade de experiências de exílio e deslocamento que definem, hoje, a história palestina. Através dessas narrativas, al Alami traz à tona camadas e mais camadas de trauma, esperança e identidade que repousam no âmago da resiliência palestina.
48 Stories of Exile from Palestine é uma antologia de ensaios, que busca construir pontes entre gerações, ao apresentar relatos aterradores, porém de coragem, do povo palestino, em um formato acessível a todas as idades. Este livro vai além de meramente recontar os eventos históricos tão conhecidos a qualquer um ligeiramente versado na história recente da Palestina, assolada pela colonização sionista. Trata-se de uma imponente compilação de experiências que iluminam uma conexão profunda entre um povo e sua terra — vínculo este que permanece inquebrantável apesar da implacável opressão e expropriação.
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O título — 48 Stories of Exile from Palestine — busca aludir diretamente a 1948, o ano da Nakba, ou “catástrofe”, quando milícias coloniais expulsaram cerca de 750 mil palestinos nativos de suas cidades e aldeias, para dar lugar ao que é hoje Israel. É nesta data que se marca o início da tragédia palestina ainda em curso, com gerações e gerações crescendo no exílio, apartadas de suas terras ancestrais por fronteiras ilegais, muros, apartheid e as duras realidades de um projeto colonial de assentamento que busca impor supremacia e hegemonia judaica sobre a Palestina histórica.
Embora tenha sido publicado antes de 7 de outubro, as histórias deste volume mostram a seus leitores que resta pouquíssima dúvida de que as sementes do genocídio em Gaza já não estivessem plantadas há décadas, quando milícias sionistas conduziram sua limpeza étnica deliberada contra a população nativa. Os relatos pessoais concedem uma imagem vívida da devastação e do deslocamento sistemático que vêm moldando a experiência de vida dos palestinos desde 1948. Tais histórias expõem, de fato, como a violência continua profundamente entrincheirada no projeto colonial sionista e como se trata de um aspecto fundamental de sua agenda — cujo intuito é um só, embora sem êxito: apagar a Palestina.