Estados em todo o Oriente Médio — incluindo Jordânia, Egito, Iraque, Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar — condenaram, neste sábado (26), os ataques aéreos israelenses ao território iraniano durante a madrugada.
O Ministério de Relações Exteriores do Catar, em nota oficial, descreveu o incidente como “flagrante violação da soberania do Irã e clara infração da lei internacional”.
Ao manifestar “profunda preocupação sobre as repercussões graves que possam resultar dessa escalada”, Doha — uma das partes mediadores entre Israel e Hamas — insistiu aos lados envolvidos que “exerçam comedimento e resolvam disputas através do diálogo e de meios pacíficos, ao evitar qualquer coisa que desestabilize a região”.
O governo catari reforçou ainda apelos para que a comunidade internacional intensifique esforços de desescalada, “para dar fim ao sofrimento dos povos na região, especialmente em Gaza e no Líbano”.
O Egito — também mediador — declarou, via chancelaria, condenar “todas as ações que ameacem a segurança e estabilidade regional” e reiterou sua posição “de que um cessar-fogo em Gaza deve ser alcançado em breve, conforme um acordo, como único caminho a uma desescalada”.
Conforme Basim Alawadi, porta-voz do governo iraquiano, “a ocupação sionista mantém suas políticas hostis para aprofundar o conflito, via ataques criminosos que conduz com total impunidade”.
Bagdá condenou o “silêncio da comunidade internacional” e indicou, através do gabinete do primeiro-ministro, Mohamed al-Sudani, “firme chamado por cessar-fogo em Gaza e no Líbano e esforços regionais e internacionais amplos em nome à estabilidade regional”.
A Jordânia alertou que a comunidade internacional deve “assumir sua responsabilidade e tomar medidas imediatas para cessar a agressão de Israel em Gaza, Cisjordânia e Líbano, como primeiro passo a uma desescalada”.
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Ao advertir ainda para “consequências desastrosas” na região, Amã negou, contudo, que seu espaço aéreo tenha sido utilizado por aeronaves israelenses.
A Síria do presidente Bashar al-Assad — próximo ao Irã —, via seu Ministério de Relações Exteriores, declarou “solidariedade” ao país aliado e enfatizou o “direito legítimo de Teerã de se defender e proteger seu território e seus cidadãos”.
A chancelaria do Kuwait denunciou o que descreveu como “política de caos adotada pela ocupação israelense [na região], ao violar a soberania dos Estados, degradar a segurança regional e desprezar todos os princípios da lei internacional”.
Omã corroborou “flagrante violação” da soberania iraniana e caracterizou as agressões de Israel como “escalada que alimenta um ciclo de violência e fere gravemente esforços para redução de tensões na região”.
O regime nos Emirados Árabes Unidos — próximos a Israel desde a normalização em 2020 — somou-se, no entanto, ao tom de repúdio, ao expressar “profunda preocupação sobre a contínua escala e seus impactos na estabilidade e segurança regionais”.
A chancelaria em Abu Dhabi destacou também a “importância de se exercer o máximo de comedimento e sabedoria para evitar riscos e expansão do conflito”.
A Arábia Saudita rechaçou a “violação da soberania do Irã”, ao citar o direito internacional, e pediu das partes “máximo comedimento e redução da escalada”.
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“Reafirmamos nosso firme posicionamento em rejeitar a contínua escalada e a expansão do conflito, que ameaça a segurança e estabilidade de nossos países e povos da região”, declarou a chancelaria saudita.
A declaração de Riad é particularmente notável pela rivalidade histórica com a república islâmica, incluindo conflitos por procuração no Iêmen. Ambos, no entanto, normalizaram laços recentemente sob mediação da China.
Em comunicado, o Ministério de Relações Exteriores do Líbano — sob ataques de Israel — rechaçou a “violação da soberania iraniana e gravíssima ameaça à segurança e paz tanto em âmbito regional quanto internacional”.
Beirute instou ainda “as instituições relevantes, sobretudo o Conselho de Segurança das Nações Unidas, a cumprir suas responsabilidades em conter a escalada militar de Israel em toda a região, incluindo a atual agressão ao Líbano”.
A ofensiva israelense ao Irã representa uma tréplica aos disparos do país contra bases da ocupação em 1º de outubro — pela segunda na história; a primeira em abril —, depois de Tel Aviv iniciar sua invasão ao Líbano, sob alegação de combater o Hezbollah.
Apesar das apreensões internacionais, o regime iraniano minimizou os danos, ao retomar as operações em seus aeroportos pouco depois dos ataques. Teerã, contudo, confirmou dois soldados mortos.
A escalada sucede um ano de genocídio israelense em Gaza, com 42.847 mortos e mais de cem mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco militar — sem água, comida, remédios ou combustível. Entre as vítimas fatais, 16.700 são crianças.
As ações de Israel se intensificam em desacato a resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ordens cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde é réu por genocídio desde 27 de janeiro.
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No fim de setembro, Tel Aviv intensificou suas agressões ao Líbano, a partir de atentados terroristas, atribuídos ao Mossad, que detonaram aparelhos de comunicação — pagers e walkie-talkies — nas ruas do país.
Israel dispara contra zonas de influência do Irã há um ano, a fim de “dissuadir” o bloco de intervir em favor do enclave palestino. Os fronts ofensivos de Tel Aviv incluem Cisjordânia e Gaza, o Hezbollah no Líbano, os houthis no Iêmen, além de Síria e Iraque.
Diante das ameaças de lideranças israelenses e declarações cada vez mais inflamatórias contra as instituições internacionais, a crise em Gaza deflagrou receios sem precedentes, desde a Segunda Guerra Mundial, de um conflito cada vez abrangente.