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O segundo turno das eleições municipais no Brasil: Um balanço crítico

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, eleito neste domingo, 27 de outubro, participa da 32ª edição da Marcha para Jesus, evento neopentecostal, em São Paulo, 30 de maio de 2026 [Paulo Pinto/Agência Brasil]

No domingo 27 de outubro tivemos o segundo turno das eleições municipais no país. O pleito se realiza apenas em cidades com mais de 200 mil eleitores e quando uma das candidaturas não alcança a metade mais um dos votos ou a soma dos demais não atinge a votação do primeiro colocado.

Foram realizadas a segunda volta das eleições nas seguintes localidades.

Capitais: Aracaju (SE); Belém (PA); Belo Horizonte (MG); Campo Grande (MS); Curitiba (PR); Fortaleza (CE); Goiânia (GO); João Pessoa (PB); Manaus (AM); Natal (RN); Palmas (TO); Porto Alegre (RS); São Paulo (SP).

Outros 36 municípios onde houve 2º turno: Anápolis (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Barueri (SP), Camaçari (BA), Campina Grande (PB), Canoas (RS), Caucaia (CE), Caxias do Sul (RS), Diadema (SP), Franca (SP), Guarujá (SP), Guarulhos (SP), Imperatriz (MA), Jundiaí (SP), Limeira (SP), Londrina (PR), Mauá (SP), Niterói (RJ), Olinda (PE), Paulista (PE), Pelotas (RS), Petrópolis (RJ), Piracicaba (SP),  Ponta Grossa (PR), Ribeirão Preto (SP), Santa Maria (RS), Santarém (PA), Santos (SP), São Bernardo do Campo (SP), São José do Rio Preto (SP), São José dos Campos (SP), Serra (ES), Sumaré (SP), Taboão da Serra (SP), Taubaté (SP) e Uberaba (MG).

Uma primeira constatação que podemos chegar é a vitória da direita oligárquica, o chamado “centrão”, composto por PSD, MDB, PP e União Brasil. Já a direita ideológica ou extrema-direita, composta por Republicanos e PL tiveram um resultado razoável, mas muito inferior se comparado com as legendas acima. O PSDB, outrora o único partido da centro-direita nacional com peso, apenas sobrevive.

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Já a centro-esquerda, ou a esquerda eleitoral — de acordo com o paradigma analisado — se saiu melhor do que no pleito municipal de 2020, mas muito aquém dos resultados comparados. Ou seja, muito inferior aos pleitos municipais quando estava no governo federal, a saber, em 2004, 2008 e 2012. A eleição municipal de outubro de 2016, após o golpe de Estado contra a ex-presidenta Dilma Rousseff — realizado em abril daquele mesmo ano —, foi a pior da história da legenda de Lula no século XXI.

O “xadrez de 2026” está montado e, na avaliação deste analista, o presidente e seu arranjo, o “lulismo” de acordo com a definição do ex-porta voz da Presidência e professor da Universidade de São Paulo (USP), André Singer, é muito maior do que o conjunto de votos da centro-esquerda, das esquerdas socialmente inseridas e das forças sociais mais avançadas no país. Detalhe: isso é uma constatação, passando muito longe de ser um elogio ufanista.

São Paulo foi a maior das derrotas para o sionismo

Na eleição municipal de São Paulo, Ricardo Nunes — MDB, apoiado pelo governador neofascista Tarcísio de Freitas — recebeu 59,35% dos votos e Guilherme Boulos — pela centro-esquerda, PSOL e PT — obteve 40,65% dos votos. Chama a atenção que a abstenção foi de 31,54%, ultrapassando o número de votos para o professor com origem árabe-libanesa.

O vice de Nunes é um coronel da Polícia Militar de São Paulo (PMSP), Guilherme Araújo, ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar — a ROTA. Se trata da unidade da polícia militar de São Paulo criada para combater a guerrilha urbana e campeã de letalidade policial. O profissional da repressão é filiado ao PL, “bolsonarista raiz” e pode reproduzir a mesma prática de Tarcísio de Freitas.

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A PM, comandada pelo ex-ministro de infraestrutura de Paulo Guedes e Jair Messias Bolsonaro, costuma fazer sessões de “animação espiritual” em unidades da Igreja Universal do Reino de Deus — comandada pelo empresário da fé, Edir Macedo. Esse conglomerado econômico emula elementos do judaísmo — como uso de quipá, talit e menorá — e defende o sionismo de forma escancarada. A julgar pelo procedimento de Nunes e Tarcísio, aderindo à definição da IHRA, que equipara antissionismo com antissemitismo, teremos mais repressão em todos os níveis na capital paulista.

Bolsonarismo em decadência

A vitória mais contundente do “bolsonarismo raiz” foi em Cuiabá, capital do estado do Mato Grosso, o maior produtor de commodities agrícolas para exportação. No segundo turno, o petista Lúdio Cabral foi derrotado pelo dublê de agitador fascista e youtuber, Abílio Brunini, deputado federal pelo PL. Foram 53,80% para o ardoroso defensor do genocídio palestino contra 46,20% para o médico social-democrata. O interessante é observar o racha do agronegócio, com a oligarquia mato-grossense dividida e se posicionando, em parte, como apoiadora do governo Lula e seu candidato.

Houve derrota do mesmo estilo de trabalho em outros municípios. Os neofascistas perderam com Éder Mauro (Belém, no Pará), André Fernandes (Fortaleza, no Ceará), Carlos Jordy (Niterói, no Rio de Janeiro), Bruno Engler (Belo Horizonte, em Minas), Marcelo Queiroga (João Pessoa, na Paraíba), Janad Valcari (Palmas, Tocantins) e Fred Rodrigues (Goiânia, capital de Goiás).

A extrema-direita segue presente, incluindo seu discurso a favor do Estado sionista. Mas, como projeto de poder, estão mais distantes de retornarem ao centro das decisões. Sem liderança, a tendência é mais fragmentação e perda de alianças. O PL foi um dos grandes derrotados, talvez o maior derrotado, associando a legenda de Waldemar Costa Neto diretamente ao bolsonarismo.

Apontando conclusões 

O arranjo pós-eleitoral se dará desta primeira semana até o final do ano legislativo. O calendário mais urgente agora é a preparação da eleição do presidente da Câmara dos Deputados, considerando que o mandato do presidente Arthur Lira (PP/Alagoas) termina no final deste ano, com o recesso parlamentar.

A interna da direita e a relação com o lulismo: Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira são os grandes vitoriosos em Belo Horizonte. O PSD ganhou as eleições municipais de 2024, mas o embate será entre seus caciques: Gilberto Kassab (SP), Otto Alencar (Bahia), Eduardo Paes (Rio de Janeiro), os já citados caciques mineiros, além do próprio Fuad Noman, reeleito na capital mineira. A depender de hoje, Kassab colocaria Ratinho Jr, governador do Paraná, como “boi de piranha”, disputando votos com Eduardo Leite (PSDB/RS), ou então fechando uma dobradinha entre ambos. Se o governador de São Paulo, o carioca Tarcísio de Freitas não concorrer — se arriscando a perder — a tendência hoje seria uma vitória de Lula ainda em 1º turno em 2026.

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Direita e centro levaram sete das nove capitais do nordeste: Quando falamos “centro” é o Centrão, as oligarquias parasitas representadas pelo PSD, MDB, PP e União Brasil. Todos esses partidos, mais o Republicanos — a legenda da Universal —, estão na composição ministerial do governo Lula 3. Estão, mas podem não estar; são aliados circunstanciais, mas a traição faz parte de seu DNA político.

Vale observar a posição da liderança dos grupos de mídia: A Globo, como emissora líder que não tolera a extrema-direita política, embora apoie tanto o sionismo como o sequestro da economia brasileira pelo capital financeiro, entende o que aconteceu. Lula é maior do que todo o eleitorado de centro-esquerda.

O comentarista que veio da área policial, Octavio Guedes — grande conhecedor das entranhas e esgotos da politicagem e máfias do estado do Rio de Janeiro — costuma falar muita besteira sobre a esquerda — não entende ou não se esforça para compreender ou conhecer. Porém, está certo ao dizer que a esquerda — no caso, a centro-esquerda eleitoral — precisa dialogar com o entregador de aplicativo que não quer saber de política, acha que é empreendedor, mas se sofrer um acidente vai precisar do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dentro da “lógica do pragmatismo”, a tendência é rifar o combate ao sionismo e apontar em “alianças mais amplas”. Repetindo o óbvio: se uma parcela significativa dos descendentes de árabes deste país não nos organizarmos como força política com causa específica, nossas pautas sempre serão laterais — secundarizadas até por lideranças com nomes árabes. Depende de nós mesmos.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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