O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, insistiu nesta quarta-feira (6) que as posições de seu país permanecem inalteradas diante da vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos, contra a vice-presidente Kamala Harris, reportou a mídia estatal.
Teerã vive tensões renovadas com Washington por conta das ações de Israel, que incluem ataques diretos para além do genocídio em Gaza e da invasão ao Líbano.
O retorno de Trump à Casa Branca pode denotar reforço às sanções de petróleo contra o Irã. Em 2018, como presidente, Trump revogou unilateralmente o acordo nuclear firmado por seu antecessor Barack Obama. Apesar de promessas de Biden de reaver o pacto, este jamais foi retomado.
Em resposta, Teerã excedeu, pouco a pouco, seus limites de enriquecimento de urânio — embora sob alegação de uso exclusivo para fins civis.
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Ao contrário, com a escalada regional, Biden adotou uma posição mais hostil contra Teerã e entes aliados, a fim de criminalizá-los diante dos avanços coloniais israelenses. Apesar de pressão interna, Biden reiterou seu apoio “incondicional” à ocupação, incluindo vetos no Conselho de Segurança e bilhões de dólares em armas.
Para alguns analistas, Trump pode dar ainda mais liberdade a Tel Aviv. Para o governo em Teerã, no entanto, não parece haver diferença.
“Para nós, não importa quem ganhou as eleições americanas, porque nosso país e nosso sistema depende essencialmente de sua própria força, de uma nação grande e honrada”, declarou Pezeshkian a jornalistas.
Trata-se de seu primeiro comentário após o pleito em solo americano.
“Não seremos míopes em nos aproximar de países terceiros, enquanto a prioridade ainda é desenvolver relações com nações islâmicas e vizinhas”, acrescentou, ao recordar uma recente turnê pelo Oriente Médio no qual elucidou a líderes regionais sua posição sobre a escalada israelense.
No último ano, sob iniciativa da China, o Irã normalizou relações com a Arábia Saudita, no que pareceu uma aproximação inédita entre rivais geopolíticos de longa data, sob novos interesses regionais e internacionais.
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Irã e Estados Unidos não têm relações diretas; negociações ocorrem via mediadores.
Após ser confirmada a reeleição de Trump, um porta-voz do governo iraniano minimizou a importância do pleito americano, ao descrevê-lo como “problema interno”.
A Guarda Revolucionária, no entanto, expressou prontidão.
Há receios, no entanto, de que Trump encoraje o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, a atacar sítios nucleares no Irã ou conduzir assassinatos políticos.
Trump deve ainda reaver suas medidas de “máxima pressão” sobre a economia iraniana, ainda fragilizada apesar da aproximação com China e o bloco dos BRICS.
Ainda assim, espera-se cautela da futura administração republicana sobre as chances de uma guerra aberta, à medida que a posição americana parece também mais debilitada. Sob esta balança, ambos os lados podem se ver forçados a aprovar conversas “diretas ou indiretas”, reportaram duas fontes iranianas à agência Reuters.
Em setembro, Pezeshkian — moderado eleito em julho, após a morte do presidente linha-dura Ebrahim Raisi — alegou disposição em encerrar o impasse nuclear com o Ocidente; contudo, sem avanços no contexto das agressões de Israel.
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