Um porta-voz do ministro das Finanças de Israel. Bezalel Smotrich, afirmou na terça-feira (12) que o político supremacista israelense não deve viajar à França, onde participaria de um evento da extrema-direita nesta semana.
“Não há visita planejada a Paris”, disse o porta-voz à rede AFP, ao responder a jornalistas.
O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, apontou previamente não ter recebido confirmação da viagem de Tel Aviv.
A presença de Smotrich parece divulgada em cartazes de um evento de gala da Fundação Israel Para Sempre, nesta quarta-feira (13), convocado por figuras de extrema-direita. Não se descarta, porém, participação do ministro por videoconferência.
A celebração sionista — sob protestos de sindicatos, partidos e associações de esquerda — coincide com a véspera de uma partida entre as seleções nacionais de Israel e França pela Liga das Nações da União das Federações Europeias de Futebol (UEFA).
Autoridades francesas afirmam “alto risco” diante da partida, após hooligans israelenses do clube Maccabi Tel Aviv incitarem confrontos em Amsterdã, na quinta-feira passada (7), onde a equipe enfrentou o Ajax holandês — com derrota de 5 a 0.
Desde então, apesar de vídeos que registraram hooligans israelenses agredindo taxistas e vandalizando casas, lideranças ocidentais insistem em aderir à desinformação de Israel, ao caracterizar os tumultos por uma suposta natureza “antissemita”.
Entre os gritos da torcida sionista, registrados nas ruas de Amsterdã, contudo: “Morte aos árabes”, “Que nosso exército vença e f**a os árabes” e “Não tem escolas em Gaza porque acabaram as crianças”.
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A turnê israelense na Europa é marcada por protestos. Na última semana, em jogo contra o Atlético de Madrid pela Liga dos Campeões, fãs do Paris Saint-Germain (PSG) ergueram um bandeirão com os dizeres “Palestina livre”, no estádio Parc des Princes.
Para a partida desta quinta, a polícia francesa diz ter mobilizado quatro mil agentes, além de proibir bandeiras palestinas.
As tensões sobre a eventual visita de Smotrich se somam ainda a instruções do ministro, deferidas na segunda-feira (11), para preparar a anexação ilegal da Cisjordânia ocupada, ao considerar uma “oportunidade” o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Segundo o corregedor de polícia de Paris, Laurent Nunez, a ausência de Smotrich era, em último caso, certeza, substituída por participação online.
O chanceler francês, de sua parte, foi ainda questionado por repórteres pela convocatória de sua pasta de Joshua Zarka, embaixador sionista em Paris, nesta semana, devido a um incidente diplomático durante a visita de Barrot a Israel.
Segundo o ministro francês, a reprimenda foi uma “oportunidade de reiterarmos que Paris não tolerará a entrada de agentes militares de Israel em áreas sob sua gestão e proteção, para determinar com firmeza que este incidente jamais volte a ocorrer”.
Barrot advertiu que a convocatória de Zarka é o “primeiro passo” de sanções, porém, sem conceder detalhes sobre as eventuais medidas.
Na última quinta-feira, policiais israelenses invadiram a chamada Igreja de Pater Noster, sob gestão francesa, na cidade ocupada de Jerusalém Oriental, em meio a preparativos a uma visita planejada do chanceler francês.
O Ministério de Relações Exteriores em Tel Aviv afirmou que “as ações foram esclarecidas previamente, em discussões preparatórias com a embaixada da França”; no entanto, dois guardas franceses “se recusaram a se identificar … detidos pela polícia, mas liberados de imediato ao apresentarem suas credenciais diplomáticas”.
A representação francesa, todavia, contrapôs a versão israelense como “falsa”, ao reiterar que seus funcionários estavam devidamente uniformizados como gendarmes consulares, com status de proteção diplomática.
O governo francês de Emmanuel Macron mantém apoio na prática à campanha israelense em Gaza, mas vacila diante dos avanços coloniais na Cisjordânia, ao indicar sanções aos colonatos, e da invasão israelense ao Líbano, sua zona de influência.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há mais de um ano, com 43.700 mortos e 103 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob sítio absoluto — sem comida, água ou medicamentos.
No Líbano, são 3.200 mortos e 14 mil feridos, sobretudo nos últimos 45 dias.
As ações israelenses seguem em desacato de resoluções por cessar-fogo do Conselho de Segurança, além de medidas cautelares por desescalada e fluxo humanitário do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, onde Israel é réu por genocídio desde janeiro.
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