Entre 20 e 29 deste mês de novembro o movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) faz chamado à Semana de Ação Global, sob o mote “Nunca mais é agora: sancionar o regime genocida e de apartheid de Israel”.
A proposta é que se realizem iniciativas no período direcionadas a pressionar estados e Organização das Nações Unidas (ONU) por ações concretas e efetivas, de modo a ampliar o isolamento internacional do regime sionista, necessário e urgente diante da tentativa de extermínio do povo palestino, ou seja, de “solução final” na contínua Nakba – a catástrofe palestina que já dura mais de 76 anos.
Sentindo-se avalizado pela chamada comunidade internacional, Israel promove há mais de 400 dias um genocídio na estreita faixa de Gaza, transmitido ao vivo e em tempo real para o mundo, ao mesmo tempo que aprofunda a limpeza étnica palestina na Cisjordânia e realiza desde 1º de outubro uma ofensiva brutal no Líbano.
Em Gaza, grassam fome, sede, doenças e epidemias, enquanto as bombas não param de cair nas cabeças da população. Quatrocentos mil palestinos seguem há mais de 30 dias enclausurados no norte da estreita faixa. Conforme pesquisadora da Universidade de Edimburgo, sem cessar o genocídio, a estimativa macabra é de 335.500 palestinos mortos até o final de 2024 – algo como 14% da população de Gaza, sendo que mulheres e crianças compõem a maioria das vítimas.
Na Cisjordânia já se aproximam dos mil os palestinos mortos nestes pouco mais de 400 dias. São dezenas de aldeias despovoadas por pogroms cometidos por colonos sionistas, centenas de casas demolidas e um acelerado processo de estabelecimento de milhares de novos assentamentos ilegais. O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, declarou neste 11 de novembro a intenção de avançar ainda mais na expansão colonial em 2025, ao que chama de impulsionar a “soberania israelense” com o apoio do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Palestinos na Cisjordânia se perguntam se serão a nova Gaza – já há experimentos em regiões, com bombardeios por exemplo em Tulkarem e Jenin.
É Gaza ou Cisjordânia? / Uma operação militar israelense de 7 dias em Jenin, na Cisjordânia ocupada, destruiu 70% de suas estradas, de acordo com autoridades locais.
No Líbano, já são mais de 3.200 mortos e mais de 14.200 feridos. Milhares já foram deslocados, e os bombardeios incessantes iniciados no sul alcançam inclusive outras áreas. Massacres seguem há um mês e meio.
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Além dos bilhões de dólares do imperialismo estadunidense e de suas armas, bem como das potências europeias, conforme divulgado no Instagram do BDS Brasil, é “a cumplicidade da ‘comunidade internacional’ com o regime de 76 anos de colonialismo de povoamento, limpeza étnica e apartheid de Israel que lhe deu o que o secretário-geral da ONU chama de ‘imunidade total’, encorajando-o a perpetrar a primeira guerra mundial transmitida ao vivo: genocídio contra o povo palestino”.
Ainda de acordo com a campanha, não basta apontar o dedo aos principais parceiros do genocídio – ou seja, os que fornecem armas diretamente. Algo que pode ser entendido como uma referência ao fato de mais de 50 países, entre os quais o Brasil, endossarem uma carta elaborada por iniciativa da Turquia e enviada no início deste mês de novembro à ONU que pleiteia a suspensão do envio de armas ao genocídio promovido por Israel.
Para o BDS, urge que estados do mundo todo deem um passo à frente e rompam suas “próprias relações militares, comerciais, diplomáticas, acadêmicas, esportivas e culturais” com o regime de apartheid israelense, assim como foi feito para isolar o apartheid sul-africano.
A Semana de Ação Global se inicia numa data simbólica no Brasil – 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, quando atos de norte e sul vão levantar a bandeira contra o racismo e o genocídio pobre e negro com as mesmas armas testadas sobre os corpos palestinos por Israel. Em todas as marchas, o chamado é que as bandeiras palestinas presentes incorporem o chamado do movimento BDS.
O Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino – 29 de novembro – encerra a Semana de Ação Global. Quiçá alcance vitória de, para além de uma dezena de estados, muitos outros atendam ao chamado por sanções a Israel.
Por sua liderança na América Latina, o Brasil tem um papel fundamental nessa direção. Este é o clamor da solidariedade internacional. Este é o apelo do povo palestino, em sua resistência heroica e histórica. Nunca mais é agora!
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