O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, abriu a 19ª edição do G20, na cidade do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (18), ao lamentar as crescentes tensões e confrontos armados que assolam a arena global e lançar sua iniciativa pelo fim da fome.
O G20 reúne nesta semana líderes das 19 maiores economias do mundo, além de União Europeia e União Africana, além de convidados como o António Guterres, secretário-geral Organização das Nações Unidas (ONU), e Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Pela primeira vez, o Brasil assumiu a liderança do G20, ao adotar três pilares para o fórum: combate à pobreza e à fome; desenvolvimento sustentável; e reformas nas estruturas de governança global.
“O mundo está pior”, advertiu Lula. “Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e o maior número de deslocamentos à força já registrados”.
LEIA: Grande bandeira palestina desfraldada na Praia de Copacabana, no Brasil
Durante seus comentários, o líder brasileiro citou os índices da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre a fome global, ao notar que, em 2024, ao menos 733 milhões de pessoas ainda sofrem de desnutrição.
“Colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza”, reafirmou Lula. “Esse será nosso maior legado. Não se trata somente de fazer justiça. Essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz”.
Lula notou que, diante de uma produção global de seis bilhões de toneladas de alimentos anualmente, é “inaceitável” os números do fome, com um gasto, em paralelo, de US$2.4 trilhões em investimentos militares.
O G20 carioca ocorre em um contexto de divergências Sul-Norte, em particular, em torno de reformas nos órgãos internacionais e tensões militares, com destaque para a invasão russa na Ucrânia e a agressão israelense em Gaza e no Líbano.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, sob denúncia da África do Sul deferida em janeiro.
O G20 reúne no Rio diferentes líderes globais, incluindo os presidentes Joe Biden (Estados Unidos), Xi Jinping (China) e Emmanuel Macron (França), além de emissários convidados de países emergentes.
Em Gaza, as ações israelenses deixaram ao menos 43.800 mortos, sobretudo mulheres e crianças, além de 103 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob cerco absoluto que engendrou uma catástrofe de fome sem precedentes.
Segundo dados da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), 86% da população de Gaza — 1.8 milhão de pessoas — sofre fome em nível 3 (crise) ou pior. Em nível 5 (catástrofe), são ao menos 133 mil pessoas, sobretudo no norte.
No sábado (16), apesar de chuva, uma manifestação de mais de dez mil pessoas tomou a orla de Copacabana em defesa dos direitos palestinos, às vésperas do G20.
Lula mantém críticas às ações de Israel e apoio à denúncia sul-africana em Haia — que o levaram a ser declarado persona non grata pelo Estado ocupante. Contudo, a despeito da pressão da sociedade civil, ainda procrastina uma ruptura de relações.
LEIA: Ausente e em crise, Israel implora apoio de líderes do G20 no Rio de Janeiro