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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Comunidade internacional condena novo veto dos EUA a cessar-fogo em Gaza

Fu Cong, enviado da China nas Nações Unidas, durante sessão do Conselho de Segurança sobre a crise em Gaza e no Líbano, em Nova York, em 20 de novembro de 2024 [Angela Weiss/AFP via Getty Images]

Diversos membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) lamentaram abertamente nesta quarta-feira (20) um novo veto dos Estados Unidos a uma resolução por cessar-fogo na Faixa de Gaza, reportou a agência Anadolu.

A resolução previa cessar-fogo imediato, ações para libertação dos reféns e prisioneiros e medidas para combate à fome que assola a população palestina.

A medida, submetida pelos dez membros eletivos do Conselho — Argélia, Equador, Malta, Guiana, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça —, recebeu 14 votos a favor, com objeção apenas dos Estados Unidos.

Fu Cong, enviado da China na assembleia, destacou decepção com o resultado e acusou Washington de “frustrar as esperanças dos palestinos por sua sobrevivência, ao levá-los ainda mais às trevas e ao desespero”.

O emissário chinês reiterou que as ações “não escaparão o duro julgamento da história” e questionou de forma frontal: “Vidas palestinas não significam nada? Quantos mais terão de morrer para que acordem de seu suposto sono?”

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Ao indicar anuência às reivindicações por reformas nas estruturas de governança global, Fu argumentou que os reiterados vetos americanos “reduziram a autoridade do Conselho do Segurança e da lei internacional ao nível mais baixo da história”.

“Instamos Washington a assumir com seriedade suas responsabilidades como membros permanentes deste Conselho”, reiterou Fu. “Os Estados Unidos precisam deixar de serem passivos ou evasivos”.

Amar Bendjama, emissário da Argélia, advertiu: “A mensagem de hoje é clara à ocupação israelense: Continuem com seu genocídio, continuem com sua punição coletiva, insistam em sua agressão contra os palestinos com total impunidade”.

“Enquanto a maioria absoluta do mundo permanece em solidariedade ao povo palestino, outros persistem em serem indiferentes à dor”, acrescentou.

Nicolas de Riviera, enviado da França, lamentou “profundamente” o veto, ao alertar para a deterioração, dia após dia, das condições em Gaza. “A lei humanitária internacional está sendo pisoteada”, observou, ao sugerir um cessar-fogo.

Vassily Nebenzia, embaixador russo, negou surpresa sobre o veto: “Por meses, os Estados Unidos vêm obstruindo, ficando no caminho deste Conselho, para tratar da catástrofe em Gaza, e favorece um dos lados por objetivos próprios, às custas das vidas palestinas”.

Nebenzia pareceu aludir a um recente veto do Kremlin sobre a guerra no Sudão, ao insistir que a posição de Washington é “inadmissível” e rechaçar “sermões sobre hipocrisia dos Estados Unidos, pois hipocrisia é o que nos mostram dia após dia”.

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Ao emissário adjunto americano ao fórum, Robert Wood, apregoou Nebenzia: “O senhor, hoje, mostrou ser responsável por dezenas de milhares de civis mortos, pelas proibições aos refugiados e pelo sofrimento dos reféns e dos palestinos detidos ilegalmente”.

Barbara Woodward, do Reino Unido, que preside o Conselho de Segurança em novembro, ecoou pesar; contudo, sem maiores comentários: “A lei humanitária internacional tem de ser respeitada por todos os lados”.

Para Carolyn Rodrigues-Birkett, diplomata da Guiana, o veto reforça planos de extermínio, de modo que “a aniquilação do povo palestino é uma enorme mancha para a consciência coletiva de toda a humanidade”.

Rodrigues-Birkett ressoou apelos de países emergentes, ao advertir que o foro permanece “paralisado por um veto” e reiterar: “A contiguidade da miséria não pode e não deve ser o destino derradeiro do povo palestino”.

“Houve consenso e flexibilidade neste Conselho”, reportou Rodrigues-Birkett. “Portanto, estamos desapontados que o texto não foi aprovado. Nossos esforços coletivos, contudo, para dar fim às hostilidades, não acabam aqui”.

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Fora do Conselho — apesar de parte interessada e direitos adquiridos no plenário da ONU —, Majed Bamya, enviado da Autoridade Palestina no órgão, notou “falta de justificativa” para que Washington persistisse no veto.

“Israel sempre alegará que supostas condições não foram cumpridas, pois seus objetivos demandam a continuidade da guerra, para anexar nossas terras e exterminar nosso povo palestino”, enfatizou Bamya.

“Quase catorze meses se passaram e ainda debatemos se um genocídio deveria acabar”, criticou Bamya. “Não existe justificativa alguma para vetar uma resolução, mais uma vez, que interrompa este processo”.

Para o diplomata palestino, aprovar a medida é fundamental para “salvar vidas — todas as vidas”, como um primeiro passo de resolução do conflito.

Sobre alegações da delegação de Washington, como pretexto ao veto, contrapôs Bamya: “Esta resolução não representa uma mensagem perigosa [a favor dos grupos palestinos]. Este veto é que é uma mensagem perigosa a Israel, para que siga com seus planos”.

Bamya concluiu ao caracterizar o veto como apoio à guerra, para “matar, mutilar, destruir e aterrorizar toda uma nação”. Então, concluiu: “Quando basta?”

Os Estados Unidos vetaram outras três resoluções de cessar-fogo, a favor de Israel, em 13 meses, apesar de votações expressivas da comunidade internacional. O primeiro veto se deu em outubro de 2023; então dezembro e fevereiro.

Em maio, sob pressão interna em plena campanha eleitoral, a Casa Branca do presidente de Joe Biden se absteve de um dos votos, ao permitir a aprovação da medida. Todavia, nas semanas seguintes, alegou que a moção seria “não-vinculativa”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, quando militantes do grupo Hamas cruzaram a fronteira e capturaram cerca de 200 colonos e soldados. Um ano depois, supostos resgates por operações militares não chegam a dois dígitos.

Segundo analistas, o premiê israelense Benjamin Netanyahu obstrui qualquer acordo em causa própria, sob receios de colapso de seu governo de extrema-direita e eventual prisão por corrupção, nos três processos em curso em seu próprio país.

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Netanyahu tem ainda um mandado de prisão solicitado pela promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, junto de seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Em Gaza, são 43.900 mortos e 104 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados sob cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos.

O Estado israelense é também réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

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Palestina: quatro mil anos de história
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