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G20, um modelo falido

Mesa de abertura do G20, no MAM, na zona central da capital fluminense. [Tomaz Silva/Agência Brasil]

A reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro, foi marcada por muitas negociações e negociações dificílimas. O governo brasileiro considerou que a declaração final foi uma vitória de sua diplomacia, por manter a essência das principais ideias que têm sido difundidas pelo presidente Lula, como a necessidade do diálogo em vez da guerra, do combate à desigualdade social e da sustentabilidade climática.

De fato, a declaração final pode ser mesmo considerada uma vitória da diplomacia brasileira. Alguns afirmam ainda que foi uma vitória diplomática de todo o “Sul Global”, particularmente porque os negociadores dos BRICS resistiram às tentativas ocidentais de impor uma linguagem até mesmo agressiva contra a Rússia.

O Brasil também inovou, em sua presidência, ao lançar o G20 Social e estabelecer uma Aliança Global contra a Fome. Essas iniciativas podem ser debitadas diretamente na conta do presidente Lula, pois têm a sua marca, a de um reformador social.

No entanto, é preciso lidar com a realidade. E ela é cruel para quem sonha em reformar as instituições da governança global. Eu não tenho a menor esperança de que qualquer compromisso firmado pelos membros do G20 saia do papel. As próprias negociações, encarniçadas, demonstram a falta de disposição de alguns dos seus membros em colocar essas políticas em prática.

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E não falo apenas de Javier Milei, que se comprovou um boneco de ventríloquo de Donald Trump. Relatos na imprensa dão conta de que os países ricos tentaram também reduzir a sua responsabilidade na contribuição para o combate às mudanças climáticas. Como Lula já indicou algumas vezes, é sobre eles que mais pesa essa responsabilidade, uma vez que historicamente foram os que mais exploraram a natureza. Porém, tendo eles já se beneficiado da intervenção sobre a natureza para se industrializar e desenvolver sua economia e sua sociedade, agora tentam impedir os outros de fazer o mesmo, utilizando a chantagem climática.

Recentemente, o russo Vladimir Putin declarou que, quando o antigo G8 ainda funcionava, os países do G7 (as potências capitalistas) sempre se reuniam antes, a portas fechadas, para discutir como seria a sua política conjunta contra a Rússia, o outro país daquele grupo. Portanto, na prática não havia uma discussão verdadeira e uma negociação de igual para igual dentro do G8, mas sim um complô de uma parte do bloco contra a outra.

Somente os ingênuos podem pensar que no G20 seja diferente. As informações sobre as negociações que foram divulgadas pela imprensa corroboram essa suspeita. A composição do grupo e a situação internacional fortalecem ainda mais esse ponto de vista. O G20, assim, tem a ingrata tarefa de equilibrar os interesses das nações ditas emergentes (do BRICS, da União Africana etc.) com os das nações ricas, o que, em última instância, é impossível, ainda mais em um cenário de polarização internacional entre essas duas categorias de países.

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Essa polarização afeta todo o trabalho do G20, uma vez que os interesses dessas duas categorias de países vêm se tornando cada vez mais contraditórios, senão antagônicos. E a tendência é que isso continue, pois a polarização geopolítica entre nações ricas e pobres é irreversível. Logo, as negociações do G20 se tornarão mais difíceis e, certamente, inúteis. É bem possível que ele deixe de existir em breve, assim como o famigerado G8.

Mesmo os aspectos que poderiam ser considerados positivos – as vitórias brasileiras – não passam de meros engodos. A Aliança Global contra a Fome, por exemplo, tem como parceiras instituições ligadas umbilicalmente ao Deep State americano, o setor mais podre e fétido do obscuro sistema imperialista dos Estados Unidos (como as fundações Rockefeller e Gates). O G20 Social, por sua vez, é um arremedo de frente de movimentos sociais que serve de fachada para fingir que a população tem alguma participação nas decisões. A “sociedade civil” representada no G20 Social é nada menos do que George Soros e a CIA, por meio da Open Society e da Fundação Ford.

Assim, os fóruns do G20, como a sua reunião de cúpula, servem mais como palanque de transmissão das ideias e reivindicações de Lula sobre um mundo menos desigual do que uma plataforma para intervir na realidade. Apesar de que até esse palanque se mostrou contraproducente, diante das barbaridades neoliberais propagadas por Milei.

O G20 é uma organização falida e sem futuro nenhum. Aliás, seu modelo é falido e sem futuro. É uma demonstração da impossibilidade de se reformar a governança global a partir de dentro das instituições dessa governança, como sonha o presidente Lula. Não é possível reformá-las. Precisam ser substituídas por outras com modelos absolutamente distintos, fora do controle ditatorial de meia dúzia de nações que as utilizam para impor seus desígnios e submeter as demais.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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