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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Uma agenda para ouvir testemunhos palestinos em São Paulo: a jurista internacional e a jornalista sobrevivente de Gaza

Os jornalistas jogam seus uniformes de imprensa em protesto contra a morte dos colegas da Al Jazeera Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi,em um ataque do exército israelense emGaza, em 31 de julho de 2024 [Ashraf Amra/Agência]

No momento em que a última nota de Gaza contabiliza 189 jornalistas mortos desde outubro de 2023 por Israel,  que  tem   usado assassinatos – de profissionais e familiares – para tentar silenciar a mídia na cobertura de sua guerra genocida, a chance de ouvir uma jornalista palestina  sobrevivente e uma jurista que transita entre a diplomacia pública e a resistência palestina, junto com intelectuais convidados ao debate,  se torna quase uma obrigação para quem precisa entender como chegamos a permitir , coletivamente, este abismo aberto sob a Palestina. A começar pelo silenciamento da mídia.

Jornalistas na Palestina, como é o caso da jovem Shahd Safi, até conseguir sair de lá,  não são as únicas vítimas, obviamente, onde  hospitais  são derrubados, abrigos em escolas bombardeados e tendas de deslocadas incendiadas no meio da noite.  A Palestina sofre em Gaza uma  caça deliberada a tudo que respira, de gente a bichos, e também a destruição de seus alimentos, água e plantações. Mas assim como não há lugar  ou instituição que proteja os palestinos em Gaza e na Cisjordânia, hoje com mais de 44,176 mortos, 104,470, e 11,000 desaparecidos, há uma sina de perseguições sem precedentes para os que tentam cobrir essa guerra.

Já caíram por terra todas as garantias que a imprensa mundial considerava sagradas para um  jornalista reportar o que se passa em áreas de conflito. O colete com a inscrição PRESS tornou-se alvo para snipers israelenses e as moradias de jornalistas são visadas por bombardeios.

Gaza convive com corpos  de seus mártires cercados por cães famintos e acesso barrado por atiradores de Israel. E só sabemos pedaços recolhidos aqui e ali dessa história, onde há zonas e situações totalmente inacessíveis para a imprensa e para ajuda.   Um jornalista  do Catar, cuja família ficou em Gaza,  relatou ao MEMO que sua mãe foi obrigada a ver o filho, e depois o sobrinho que tentava socorrê-lo, alvejados quando estavam perto de alcançar uma tenda de ajuda da  UNRWA. E ainda vivos, foram esmagados por um tanque  que até aí era mantido à  espreita para impedir acesso  ao socorro.  Esse jornalista, assim como o colega Wael  Dahdouh,  que também viu os membros de sua família sendo mortos progressivamente,   sofre com uma punição coletiva  que redobra o sofrimento palestino, porque não deixa muitas histórias sairem de lá para a imprensa mundial.

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Quando uma voz  que vivenciou esse  massacre  precisa – e consegue – sair para salvar sua vida, é importante respirar fundo para escutar e compartilhar seu testemunho.

Por cinco meses,   Shahd Safi, ainda estudante de jornalismo e atuando como freelancer, conviveu e trabalhou cobrindo a guerra genocida de Israel. Difícil imaginar  o convívio de jornalistas com  os ataques mortais contra sua terra, sua comunidade, sua vizinhança. Shahd Safi, sobrevivente, precisou fugir para o Cairo , com a mãe e três irmãos. Depois, conseguiu uma bolsa nos EUA, para estudar direitos humanos e artes escritas.

De lá para cá, uma progressão de acontecimentos foi expondo um genocídio “absolutamente normalizado, tanto pelas instituições que se encontram paralisadas, pelas lideranças internacionais que não agem, e até mesmo pela imprensa que deixou de acompanhar os passos de destruição”, como descrevem as organizadoras do Seminário Racismo, Colonialismo e Genocídio na Palestina que está trazendo Shadhi para seu testemunho no Brasil entre os dias 26 e 28 de novembro, na USP.

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Assim como Shahd Safi, o seminário será ocasião para ouvir a jurista palestina Rula Shadeed. Especializada em legislação internacional sobre conflitos armados e refugiados e co-diretora do Instituto Palestino de Diplomacia Pública (PIPD), Rula atua também junto as movimentos sociais, que tentam colocar governos, empresas e instituições contra a parede para que pare o massacre. Ela colabora com um momento chamado Global Energy Embargo for Palestine (GEEP), que pressiona contra a venda de armas e energia a Israel até que o genocídio e o apartheid tenham fim.  No Brasil, ela esteve em atividades prévias ao G20, integrando o Tribunal Popular que julgou a ocupação israelense pelos crimes na Faixa de Gaza.  Pedir que o Brasil rompa contratos com Israel é o mínimo que a mídia deveria cobrar para não ser cúmplice do genocídio.

O mandato de prisão proferido agora pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Netanyahu coloca foco, com bastante atraso, porque custou milhares de vidas,  no governante criminoso, mas não alcança os crimes contra a humanidade e de terrorismo de Estado praticados por Israel – um julgamento que ainda aguarda definições do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). Enquanto isso, “a inércia mundial frente ao genocídio de Gaza está permitindo que o mesmo roteiro de massacre e destruição seja aplicado sobre o sul do Líbano, enquanto a Cisjordânia sofre o ano mais violento de sua história, e lideranças israelenses anunciam a sua completa anexação”, aponta o Cepal, que organiza o seminário na USP.

A atividade ocorrerá no Anfiteatro Fernand Braudel, no Departamento de História da USP, e contará com diversas mesas e convidados de peso para o debate da situação palestina. No dia 26, Shahd Safi e Rula Shadded também participarão de um Ato-debate no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

 

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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