O exército de Israel manteve violações do acordo de cessar-fogo com o grupo Hezbollah pelo segundo dia consecutivo, sob o pretexto de conter os perigos a seus batalhões ainda presentes no sul do país.
Nesta quinta-feira (28), o exército ocupante admitiu que sua Força Aérea atacou um local supostamente utilizado pelo Hezbollah para armazenar foguetes de médio alcance.
Conforme a imprensa libanesa, duas pessoas foram feridas quando soldados israelenses abriram fogo em sua direção na praça matriz de Markaba, no distrito de Marjeyoun, no sul do país. Tanques israelenses também conduziram ataques em Kfar Shouba e al-Wazzani, na província de Nabatieh.
“Um tanque israelense atacou a periferia da cidade de Kfar Shouba, em Hasbaya, com ao menos dois projéteis”, reportou uma fonte.
Ainda na madrugada de quarta para quinta-feira, unidades de artilharia de Israel atacaram a aldeia de Ayta al-Shaab e a cidade de Bint Jbeil, ambas em Nabatieh, confirmou a mídia libanesa. Drones sobrevoaram também os distritos de Tiro e Bint Jbeil.
Na tarde de quinta-feira, forças israelenses alvejaram a praça matriz de Taybeh, além das aldeias Khiyam e Marjeyoun. Em Khiyam, foram relatados sons de metralhadoras.
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Em Markaba, na região de Marjeyoun, um drone militar deixou dois feridos em um veículo civil, atingido sob pretexto de removê-lo de uma “área proibida”.
Em Khiam, unidades israelenses dispararam contra jornalistas, que cobriam o retorno dos residentes libaneses a suas casas, com outros dois feridos.
De acordo com Hassan Fadlallah, deputado pelo bloco política do Hezbollah, “Israel está atacando pessoas que tentam retornar às aldeias de fronteira”.
Famílias deslocadas se apressaram a regressar as suas comunidades, para reaver posses deixadas para trás devido à violenta incursão israelense. Tropas ocupantes, contudo, têm impedido o retorno, por prisões arbitrárias e toques de recolher.
Na quinta-feira, quatro pessoas foram abduzidas pelo exército de Israel no sul do Líbano, declaradas como “suspeitas”, porém em condições vagas.
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Segundo levantamento da agência Anadolu, com base em informes do exército israelense e noticiário local, apenas na quarta-feira (27) foram 13 violações, incluindo bombardeios conduzidos por aviões de guerra e ataques a drones da ocupação.
Um cessar-fogo entre Tel Aviv e Hezbollah, mediado por França e Estados Unidos, entrou em vigor na madrugada de quarta-feira, a fim de encerrar 14 meses de trocas de disparos transfronteiriços e dois meses de invasão israelense ao Líbano.
O acordo prevê três movimentações: Israel deve se retirar ao sul da Linha Azul — fronteira de facto —; o Hezbollah deve recuar ao norte do rio Litani; e o exército libanês deve enviar tropas ao sul do país, para monitorar o processo, previsto para durar 60 dias.
Em dois telefonemas à parte, as violações israelenses foram notificadas ao presidente da França, Emmanuel Macron, pelo primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, e o presidente do parlamento, Nabih Berri.
Segundo relatos, Berri informou Macron da “situação geral e dos passos assumidos pelo Líbano no processo de cessar-fogo, assim como as violações israelenses”.
Berri e Macron também debateram “preparativos para eleições presidenciais no Líbano”, previstas para ocorrer, via parlamento, em 9 de janeiro, na tentativa de superar o impasse político que assola o país — com a presidência vacante desde outubro de 2022.
Mikati, por sua vez, destacou que “o exército começou a conduzir seus deveres no sul, no Bekaa [leste] e na periferia sul [de Beirute], a fim de robustecer sua presença ao sul do rio Litani”. No entanto, reforçou apelos para “pressionar Israel a parar as violações”.
No Líbano, são 3.800 mortos e 15.800 feridos — sobretudo nos últimos 45 dias.
As tensões na chamada frente norte coincidem com o genocídio israelense em curso em Gaza, com 44 mil mortos, 105 mil feridos e dois milhões de desabrigados sob cerco total — sem comida, água ou sequer medicamentos.
As ações de Israel seguem em desacato de medidas cautelares por desescalada e acesso humanitário do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde o Estado de apartheid é réu por genocídio, sob denúncia sul-africana, desde janeiro.
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