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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

2024, ano em que matar jornalistas virou rotina

Manifestantes estendem os coletes de imprensa dos jornalistas mortos em Gaza, enquanto manifestantes se reúnem para protestar contra os ataques em Gaza e mostrar apoio aos palestinos, cantando slogans do lado de fora do Washington Hilton, em Washington, D.C., Estados Unidos, em 27 de abril de 2024 [Mostafa Bassim/Anadolu via Getty Images]

Sem punição internacional a Israel pela bárbara execução da  jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, em maio de 2022, quando cobria ataques israelenses aos palestinos, em menos de dois anos o caso virou estatística frente à  verdadeira política de extermínio da imprensa que se seguiria ao 7 de outubro de 2023.

Israel calou jornalistas investigativos e repórteres de campo sobre o que ocorreu na invasão surpresa do Hamas. As mortes de repórteres em menos de 3 meses daquele ano superou o total registrado em 30 anos de ocupação. A narrativa da guerra contra Gaza passou a basear-se nos informes das IDF- Forças de Defesa de Israel e nas campanhas coordenadas de embaixadores israelenses pelo mundo. Enquanto jornalistas selecionados eram reunidos nas embaixadas para assistir 45 minutos de um filme de terror sobre o 7 de outubro, seus colegas em campo eram assassinados por Israel.

Mais de 100 jornalistas palestinos foram mortos por Israel em Gaza – Cartoon [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

A primeira semana de 2024 foi marcada pela notícia de mais uma  morte na família do chefe do escritório da Al Jazeera em Gaza, Wael Dahdouh. Seu filho mais velho, Hanza Dahdouh, foi atingido por um foguete disparado contra o veículo em que viajava com mais dois colegas, na parte ocidental de Khan Younis, perto de al-Mawasi, uma área que havia sido declarada segura.   Também foi morto no ataque o  jornalista Mustafa Thuraya e um terceiro passageiro, Hazem Rajab, ficou gravemente ferido.

Wael al-Dahdouh, hoje premiado pelos Repórteres Sem Fronteiras por sua coragem em seguir cobrindo a guerra em Gaza em meio à própria tragédia familiar, até ser ele mesmo ferido em um ataque que matou seu colega cinegrafista  Samer Abudaqa,  já havia perdido esposa e dois filhos pequenos em outubro de 2023. Sem a devida reação da comunidade internacional e a condenação da barbárie israelense, quando já se configurava um genocídio em curso, Israel se viu com  carta branca para golpear a imprensa que procurava registrá-lo.

2024 tornou a matança de jornalistas uma rotina.

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O número de jornalistas mortos em Gaza passou de 192 na entrada de dezembro deste ano, com o assassinato de Maysara Ahmed Salah. Na véspera, foi morto Mamdouh Quneita no Hospital Árabe al-Ahli. E antes Saed, Haneen Selmeyeh … Os nomes já não ficam na memória de quem acompanha essa guerra e os crimes da ocupação, como ficaram os de Shireen e Dahdouh, pela banalidade com que as mortes se repetem e são noticiadas. A  imprensa internacional vai perdendo o sangue e as garantias  nas mãos de Israel enquanto parece contentar-se com as declarações do mesmo exército que mata seus profissionais

Sobre as últimas mortes nesse extermínio a conta-gotas, é preciso dizer que Mamdouh Quneita era editor do canal de TV via satélite Al-Aqsa, sediado em Gaza e foi morto por disparos de drones israelenses que o perseguiram no pátio do hospital. Maysara Ahmed Salah era jornalista da Quds News Network e foi morta por Israel. Nos últimos dois meses, um drone israelense matou o  jornalista palestino Mohammed Saleh Al-Sharif depois de Israel bombardear sua casa e o cinegrafista da Al Jazeera Fadi Al-Wahidi foi gravemente ferido. Hamza Abu Selmeyeh, Saed Redwan e Haneen Baroud foram mortos em outubro, no campo de refugiados Al-Shati. Em agosto, foram assassinados Tamim Ahmed Abu Muammer da Palestine Television e Abdullah Mahir Al-Susi do Al-Aqsa Channel.

O Escritório de Mídia do Governo de Gaza condenou “nos termos mais fortes o direcionamento, a morte e o assassinato de jornalistas palestinos pela ocupação israelense”. A lista é assustadora de profissionais que arriscaram a própria vida para furar o cerco das fakenews de Israel sobre o genocídio e foram eliminados.

A estrutura física, logística e financeira do jornalismo que tenta cobrir a guerra por meios próprios é especialmente visada por Israel.  Assim como os escritórios da Rede Al Jazeera foram fechados na Cisjordânia, o jornal israelense Haaretz foi punido com o corte de publicidade e assinaturas governamentais que garantem boa parte de seu financiamento. O Haaretz chegou a investigar e noticiar o envolvimento de Israel nas mortes do 7 de outubro  e costuma ter posição crítica a Netanyahu. O ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, acusou o jornal de estar “sabotando Israel em tempos de guerra” e de atuar como “porta-voz inflamado dos inimigos de Israel”.

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O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, sediado em Nova York, acompanha os casos na Palestina desde 1992. Seu diretor de pesquisa, Carlos Martínez de la Serna,  afirmou ao Haaretz que o acesso para cobertura local só é permitido em visitas militares rigorosamente controladas e aos influenciadores pró-Israel.

Para Tim Dawson, Secretário-Geral Adjunto da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), a taxa de mortalidade entre jornalistas palestinos é muito maior do que em outras profissões civis e seria alta até para as mortes de soldados de infantaria em guerra.

O ano termina sem justiça para o povo palestino. O genocídio continua. E as garantias de proteção aos repórteres de guerra não existem mais. Como constatou o CPJ, os jornalistas estão sendo caçados e mortos justamente por serem jornalistas. Na lógica da cumplicidade da própria mídia internacional com a guerra, parece que o crime é fazer jornalismo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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