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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Visualizando a Palestina: Uma crônica de colonialismo e luta por libertação

Autor do livro(s) :Aline Batarseh, Jessica Anderson, Yosra El-Gazzar
Data de publicação :Setembro, 2024
Editora :Haymarket Books
Número de páginas do Livro :392 páginas
ISBN-13 :979-8888902509

A greve de fome de Khaled Adnan em 2012 foi a inspiração para o longevo projeto desta obra, que retrata o colonialismo israelense e a experiência da vida palestina sob o domínio colonial. Diferente das estatísticas que costumamos associar à Palestina, que representam os palestinos como números sem rosto, tampouco identidade, Visualising Palestine: A Chronicle of Colonialism and the Struggle for Liberation — ou Visualizando a Palestina: Uma crônica de colonialismo e luta por libertação — usa as estáticas para ilustrar experiências humanas. Pesquisa abundante e convincente, assim como bons gráficos dão à luta anticolonial palestina um aspecto tanto relevante quanto eminente.

A introdução observa bem que enquanto a luta palestina conquista cada vez mais apoio internacional, o povo palestino é cada vez mais oprimidos. E as estatísticas não mostram, de fato, as experiências políticas e humanas: “Nosso cérebro não foi projetado para compreender atrocidades em massa; ainda assim, parece conferir aos números um imenso poder em descrever a realidade”.

Visualising Palestine recorre a gráficos como meio para revelar os fatos por trás das estatísticas. O livro consiste em 12 capítulos, cada qual sobre uma realidade específica do colonialismo e da experiência palestina. Cada capítulo é acompanhado de uma introdução que resume o contexto dos infográficos, citações, panoramas históricos e explicações sobre as políticas de colonização e violência empregues por Israel. Muito habilmente, o colonialismo de assentamento é o primeiro tema, embasado em gráficos que mostram a escala da destruição tanto em termos de terras quanto pessoas: “Por vezes, a violência sistematizada do colonialismo de assentamentos se desdobra progressivamente; por outras, irrompe em ‘momentos de genocídio’, com expulsão e assassinatos em massa, como vemos hoje”.

RESENHA: Contra o apagamento: Memórias fotográficas da Palestina antes da Nakba

Os mapas que tratam do deslocamento mostram o colonialismo de assentamento antes da criação de Israel em 1948, ao estabelecer uma coesão em termos de transmitir a realidade da ocupação sionista e como a cresceu a população de colonos à medida que os palestinos tinha direitos revogados e eram sucessivamente deslocados à força. O livro faz proveito da pesquisa de Salman Abu Sitta sobre as aldeias despovoadas para imaginar o direito de retorno por meio de infográficos, assim como o conceito de que é o retorno é possível — importante inclusão que sugere a possibilidade de se inverter o colonialismo.

Ao abordar o contexto do movimento anticolonial entre 1945 e 1968, o livro mostra como diversos países foram conquistando sua independência mesmo enquanto Israel impunha suas políticas de apartheid. “A opressão na Palestina é estrutural, não episódica; e o apartheid é um sistema de controle que permeia cada aspecto da vida, desde o mundano ao monumental”. A colaboração entre a Autoridade Palestina e a ocupação israelense é um dos elementos representados nesses infográficos, ao expor a “falta de autoridade prática e moral na luta contra o apartheid”, em meio à corrupção e coordenação de segurança com Israel.

O capítulo de Gaza é de imensa importância. O infográfico “A história não contada de Gaza” se concentra na história dos refugiados no enclave desde a Nakba. “Uma geografia cruel e surreal emerge onde gerações e gerações de refugiados palestinos vivem e morrem, dentro de uma curta distância de Israel, não mais que uma caminhada, e que, no entanto, não podem trespassar”. Os infográficos levam o leitor a uma jornada pela história de Gaza, do bloqueio ilegal e suas consequências e dos bombardeios de Israel, ao contar histórias de civis assassinados até o genocídio em curso desde outubro de 2023: “Décadas de impunidade pelos crimes de guerra israelenses abriram caminho para o genocídio que hoje se desdobra”.

Embora o livro recorra a tópicos — com impecável atenção —, a clareza com a qual se explica o contexto colonial permite ao leitor associar com facilidade as diferentes facetas da violência colonial. O capítulo que lida com “Justiça ecológica”, por exemplo, é a culminação do que a Nakba de 1948 custou aos palestinos. Terras foram continuamente usurpadas pelo empreendimento colonial israelense, enquanto sua população sofria perdas econômicas e políticas, para além de territoriais. Este capítulo também permite interconectar esforços, à medida que o livro explica como plantar parques sobre terras nativas se tornou um artifício do colonialismo. Na Palestina colonizada desde 1967, ao menos 800 mil oliveiras foram desraigadas — o equivalente a 33 vezes o tamanho do Central Park em Nova York.

RESENHA: Nós somos palestinos: uma celebração da cultura e da tradição

A quantidade de informação compilada nesta obra é espantosa, mas reflete também o acúmulo de ramificações do processo colonial na Palestina. Os capítulos sobre os prisioneiros políticos palestinos e a silenciamento, por parte de Israel, da solidariedade ao povo palestino — também afetando não-palestinos — demonstra uma importância singular na atual conjuntura. A cumplicidade com o regime israelense é igualmente explorada pelos infográficos. Numerosos exemplos surgem no decorrer do livro; um que se destaca, em termos de colaboração internacional é denominado “Movendo as traves: Procrastinando a justiça no mundo do futebol”, o qual descreve a burocracia adotada pela FIFA para evitar aplicar seu próprio regulamento sobre uma seleção ou clubes sediarem partidas em território de um outro país-membro. Em vez de aplicar sanções a equipes de assentamentos ilegais israelenses, a FIFA compôs um comitê extraordinário, em 2015, para deliberar sobre a matéria, apenas para bloquear uma moção dois anos depois.

O que se destaca desta antologia de infográficos é a urgência com a qual devemos pensar a Palestina. Muito tempo foi perdido pela comunidade internacional ao permitir que Israel não somente expandisse seu colonialismo, como também o que a comunidade internacional permite em termos de violação de suas leis, isto é, em uma escala “aceitável” de crimes de guerra. Políticos adotam expressões generalistas, sempre de um ponto de vista pró-colonial. Os infográficos de Visualising Palestine, porém, transmitem a magnitude das violações coloniais de Israel, de tal forma que não deixa espaço algum para dúvida, mas sim chance de aprender e mobilizar.

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