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Sete Pavilhões do Amor: Exposição celebra poeta Nezami e arte persa

Miniatura persa de Sete Pavilhões do Amor, de Farkhondeh Ahmadzadeh, no Centro Aga Khan de Londres, em 2024 [Jonathan Goldberg via Centro Aga Khan/Divulgação]

A miniatura persa é um estilo artístico que se desenvolveu na Idade Média no atual Irã e então se difundiu a outras partes do Oriente Médio, Ásia Central e Sul da Ásia. Florescendo até o final do século XIX, as peças em miniatura persas são caracterizadas pela falta de sombras, com uso de iluminação fixa, além de cores vibrantes, produzidas por tintas derivadas de minerais.

Em uma recente exposição no Centro Aga Khan de Londres, a artista Farkhondeh Ahmadzadeh, nascida no Irã, mostra sua produção de uma série de obras que recriam a tradição da miniatura persa. Sob o título evocativo de “Sete Pavilhões do Amor”, a exibição se inspira no épico As Sete Belezas (Haft Paykar), do poeta Nezami Ganjavi.

Nezami foi um poeta persa nascido na cidade de Ganja, no Azerbaijão contemporâneo, cujos escritos se deram, principalmente, nos idiomas farsi e árabe. Suas obras mais conhecidas são Khamsa, ou Quinteto, em árabe, e Panj Ganj, ou Cinco Tesouros, em farsi — coleção que contém seus cinco poemas mais célebres, entre os quais, As Sete Belezas, além de sua versão do clássico árabe Layla e Majnun.

As miniaturas de Ahmadzadeh se inspiram na tradução ao inglês do original de Nezami de 1995, por Julie Scott Meisami. Cada cena retratada pela artista iraniana se inspira na cronologia adotada para dividir o poema, isto é, cada dia da semana.

As Sete Belezas conta a história do rei Bahram e sua profunda transformação interior, à medida que encontra sete princesas que compartilham relatos que o ajudam a compreender os mistérios do amor, da justiça e do despertar espiritual. As princesas se tornam suas noivas e o monarca ordena que um domo seja então construído em homenagem a cada uma delas. O arquiteto aconselha o rei a dedicar cada domo a um dos sete climas da geografia medieval, que simbolizavam os sete corpos celestiais conhecidos na época — referidos como “planetas”. As esposas seriam abrigadas em seus respectivos domos e visitadas pelo rei conforme o dia da semana.

Em uma das miniaturas de Ahmadzadeh, que representa o sábado, um domo negro simboliza Saturno. A jornada de Bahram começa com o sábado enegrecido e termina com a sexta-feira alva — uma alegoria da transformação alquímica da sombra à luz.

Todas as miniaturas de Ahmadzadeh apresentam versos em caligrafia do épico de Nezami, seguindo a tradição do gênero persa, o qual acompanhava suas ilustrações com textos reverenciados, como o Alcorão ou obras de poesia.

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Tradicionalmente, a produção de tais panfletos que reuniam as miniaturas era um processo coletivo, envolvendo numerosos aprendizes que trabalhavam sob as orientações de um mestre habilidoso, que assinaria a obra caso cumprisse seus critérios. Como uma profissão exclusivamente masculina, até os tempos modernos, as miniaturas e caligrafias demandavam anos até que o artista fossem enfim reconhecido.

Uma das obras, que representa o domingo, com um domo dourado que alegoriza o Sol, acompanha os seguintes versos:

Ela disse: Uma cidade nas terras do Iraque

ostentava um rei que iluminava o mundo.

Um sol brilhante, sem igual,

lindo como a manhã de Ano Novo.

Todas as virtudes a serem reconhecidas;

tudo que o homem hábil poderia desejar

ter, teria; e, com tudo isso

— com a solidão —, ele estava contente.

Porque em seu horóscopo, ele leu:

Mergulharia em conflito caso se casasse.

Por conta disso, não buscou esposa,

para que não sofrer conflito.

Então, por um tempo, viveu sozinho

— com a solidão —, próximo de ninguém.

Para aliviar sua dor, aguardava encontrar

uma amável donzela, que bem lhe cabia.

Ahmadzadeh começou a aprender caligrafia aos 18 anos de idade e se formou artista mediante sucessivos cursos e mestrados no Irã, seu país natal. Em 2007, mudou-se para Londres, onde tomou como inspiração os manuscritos mantidos pela Biblioteca Britânica, além dos Museus Victoria e Albert, na mesma cidade. Trabalhou em suas miniaturas das Sete Belezas entre 2016 e 2017. Uma outra miniatura de sua autoria, intitulada Homem sentado, está em exibição permanente na Galeria de Arte Islâmica da Fundação Albukhary, no Museu Britânico.

Ahmadzadeh recebeu o Prêmio Jerwood de arte islâmica tradicional em 2011. Há muitos anos, leciona nos cursos de manuscrito islâmico e miniatura persa na Escola dos Príncipes de Arte Tradicional em Londres.

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Ao conversar com a London Magazine, a artista reiterou que sua obra é inseparável da poesia que a inspirou: “As poesias que escolhi para ilustrar a série são todas profundamente espirituais, mesmo que estejam na forma de histórias. Recitá-las e ponderar sobre seu significado instiga algo no leitor — e não sou uma exceção. Portanto, a prática para mim começa com a própria poesia. Vejo o processo como uma prática espiritual, que deve ser conduzida com paciência, determinação e cuidado. Antes mesmo de entrar no estúdio e começar a pintar, costumo pedir a autorização das almas dos poetas e dos grandes mestres do gênero, para que me guiem nesse processo”.

Sobre a exposição, concluiu a curadora Esen Kaya: “A ideia era criar um opulento palácio persa no velho estilo do interior”.

Artigo publicado originalmente em Middle East Eye

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