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Seria falso? O mistério do plano secreto do último califa otomano

Especialistas em Índia e Turquia discutem documento que supostamente poderia ter mudado o curso da história moderna do Islã
Da esquerda para a direita: a princesa Durrusehvar; seu pai, o califa Abdulmecid II; e seu marido, o príncipe Azam Jah, em 19 de novembro de 1931 [Creative Commons]

É um pequeno pedaço grosso de papel, de quase cem anos de idade, escrito em vermelho e preto, no idioma árabe. Na lateral e no rodapé, há adornos com os nomes de alguns notáveis do antigo califado otomano.

A maior assinatura pertence ao próprio califa: Abdulmecid II.

Este documento levou especialistas internacionais a debater um dilema histórico: O governante deposto realmente buscou restaurar seu califado na Índia, após ser abolido em 1924 para dar lugar à República da Turquia?

Vários acadêmicos insistem que o documento é forjado, incluindo o proeminente historiador turco Murat Bardakci.

Em agosto, dissertei sobre a vida e os planos de Abdulmecid após ser destituído de seu trono. Alguns dias depois, em 20 de agosto, Bardakci escreveu no website turco Haberturk: “Deixe-me dizer o seguinte: Este documento foi fabricado poucos anos atrás — é um documento falso!”

O mistério começa em 1931, em Nice, na Riviera Francesa, durante o exílio do último califa do Islã. Em novembro daquele ano, sua filha, a princesa Durrusehvar, casou-se com o príncipe Azam Jah, o aparente herdeiro do sétimo nizam de Haiderabad.

O pai de Azam Jah, Osman Ali Khan, era o governante muçulmano do maior principado da Índia, colonizada pelos britânicos. Era também o muçulmano mais rico do mundo — ansioso em assegurar suas credenciar em todo o Islã por meio do matrimônio.

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O casamento foi mediado por Maulana Shaukat Ali, ícone dos primórdios da campanha por independência da Índia e ex-líder do Movimento do Califado, que lutou pelos otomanos durante a Primeira Guerra Mundial.

Em âmbito internacional, muitos sabiam das implicações políticas do casamento: desde o governo turco em Istambul à imprensa urdu em Bombaim, os turistas ingleses em Haiderabad e os jornalistas americanos em Nice. Antes da união, declarou a revista TIME: “Caso esses jovens se casem e tenham um filho homem, o peso dos tempos e do espírito deve se misturar, afortunadamente, neste menino. Poderia — quem sabe — ser proclamado assim o ‘Verdadeiro Califa’”.

Mas ninguém nenhuma cobertura de então mencionou a escritura secreta, encaminhada ao nizam e supostamente assinada por Abdulmecid na cidade de Nice, em 19 de novembro de 1931, uma semana após o matrimônio. Por meio deste documento, Abdulmecid teria transferido o título de califa ao nizam, a ser mantido em confiança até a reivindicação do primogênito da princesa Durrusehvar e do príncipe Azam Jah.

Concluía o texto: “Tenho confiança que o primeiro filho homem desta nova união, após o senhor [o nizam], estará pronto à posição de governante do califado e decano de Haiderabad”.

Turquia: Decreto e ‘Photoshop’

O califado é uma polêmica na Turquia, abolido em 1924 por Mustafa Kemal Ataturk, pai-fundador do país, após a proclamação da República. O então governo da Turquia transferiu a autoridade da dinastia otomana à Grande Assembleia Nacional em Ancara. Contudo, numerosas declarações de Abdulmecid contestaram a sequência de fatos, a fim de desafiar abertamente a historiografia oficial.

Bardakci é autor de diversos livros conhecidos em seu país sobre os otomanos e costuma aparecer em debates sobre história na televisão.

Em seu artigo de agosto, Bardakci insistiu que, apesar de não ter visto o documento físico, “não havia necessidade de angariar informações detalhadas sobre os elementos materiais da escritura”. Segundo ele, as assinaturas no rodapé, que muitos observadores acreditam pertencer à filha, ao genro, à sobrinha e ao marido da sobrinha de Abdulmecid, “não têm qualquer conexão com as reais assinaturas dessas pessoas”.

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Bardakci disse que amigos com contatos em Haiderabad lhe disseram que o documento “foi produzido por um jornalista sensacionalista através do Photoshop, ao ponto de conseguirem identificar o autor”. Bardacki, por sua vez, não divulgou o nome. Ao produzir este artigo, o Middle East Eye contactou Bardakci para esclarecer sua posição; no entanto, sem resposta até o momento da publicação.

Ayub Khan é um pesquisador radicado em Toronto, no Canadá, doutorando na Universidade McMaster, que publicou numerosos artigos sobre aspectos distintos da história da Índia. Khan corroborou ao Middle East Eye que a autenticidade desta escritura é duvidosa por uma série de razões, incluindo “falta de elementos estilísticos [que caracterizam] os documentos oficiais otomanos, incluindo o selo do sultanado impresso especificamente a evitar falsificações”.

Khan destacou também que documentos oficiais costumavam ser redigidos em diwani, uma escrita cursiva do árabe, ausente na escritura. “O califa Abdulmecid II era um calígrafo habilidoso e não teria problema em produzir um documento oficial em diwani, mesmo no exílio”. A letra, acrescentou o pesquisador, difere de correspondências privadas do antigo califa.

Além disso, a inclusão de heterônimos poéticos para os príncipes Azam e Moazzam Jah alimenta dúvidas, dado que essas alcunhas são absolutamente incomuns nos documentos institucionais de Haiderabad ou de qualquer outro lugar.

“Todas essas questões levam o documento ao campo da dúvida, para dizer o mínimo”, reafirmou Khan.

Índia: ‘Tinta para os príncipes’

A escritura foi descoberta por Syed Ahmed Khan, um nawab — ou nobre indiano, de riqueza hierárquicas — na casa de sua família, em Haiderabad, em 2023. O patriarca da família é seu pai, Nawab Akram Abbas Syed, que pagou por minha visita à Índia quando comecei a pesquisar sobre o último califado no mesmo ano.

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Essa dinastia, Imam ul-Mulk, tem relações íntimas com outras partes do mundo islâmico: Syed Vicaruddin, seu falecido patriarca, por exemplo, foi laureado com a Estrela de Jerusalém, uma das mais altas honrarias internacionais da Palestina, em 2015. A família ainda é responsável pela publicação do tabloide The Rahnuma Daily, o mais antigo periódico em circulação na Índia, antigamente financiado pelo nizam, que cobriu o casamento de Nice, em 1931.

Syed Ahmed Khan me contou, em dezembro de 2021, que estava organizando o acervo de seu avô. Syed Mohammed Amiruddin Khan, o sétimo nizam do secretariado militar, morreu em 2012, aos 99 anos de idade. Seus documentos compreendiam uma extensa coleção de poemas em urdu, escritos à mão pelo sétimo nizam; um volume manuscrito de poesias de Azam Jah; e cartas em urdu de teólogos islâmicos na Índia e em árabe de Meca e Medina, celebrando o nizam como um líder islâmico.

E então surgiu a escritura.

Syed Ahmed Khan, contudo, não sabe ler árabe. Em 2023, mostrou os papéis de seu avô a Syed Abdul Mohaimin Quadri, funcionário do Instituto de Gestão e Conservação de Manuscritos, dentro do complexo de santuários do reverenciado santo Hazrat Pathar Wali Sahib, na Cidade Velha de Haiderabad.

“Eu estava procurando por ajuda para entender melhor os documentos e foi durante essa visita que soube de sua importância histórica”, recordou Khan.

Quadri negou ao Middle East Eye as alegações de que a escritura seria falsa: “Caso alguém realmente acredite se tratar de um documento falso, então que o submeta, junto de itens históricos correspondentes espalhados em museus de todo o mundo, aos mais rigorosos testes. Todos eles seriam postos à prova”.

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Para Quadri, a assinatura do califa é a mesma que em outros documentos: “Vemos exatamente as mesmas letras”. O nome, prosseguiu Quadri, foi escrito em tinta vermelha da dama-da-noite — muito, muito antiga. “Esta tinta era usada apenas para títulos e assinaturas em ocasiões bastante especiais”.

A tinta utilizada no restante da escritura, observou, é carbono preto, bastante firme. “Se encharcássemos o documento por 15 dias seguido, a tinta continuaria lá. Se mergulhássemos na água por todo um mês, veríamos uma pequena mudança. Trata-se de uma tinta preparada especialmente a príncipes e governantes”.

Sobre as assinaturas: “A letra de Azam Jah corresponde com todos os manuscritos escritos de mesmo punho”. Sobre o papel, é um material bastante resistente, confeccionado com trigo: “Este papel também era de uso específico a príncipes e governantes; inacessíveis a cidadãos comuns”.

E sobre a caligrafia? “A escrita é naskh, comumente usada para decretos e éditos na Índia”, ao sugerir que a escritura fora redigida por uma delegação de Haiderabad e não por oficiais otomanos. A escrita naskh costumava aparecer bastante nos manuscritos otomanos; no entanto, em território indiano, quase exclusiva a razões oficiais.

E quanto o conteúdo da escritura? “Da maneira como se expressa, o que está no texto”, respondeu Quadri, “está claro que são palavras de estadistas”.

Quadri tem certeza de que o documento é autêntico, consonante a colegas na Índia.

Ahmed Ali, aposentado, foi curador do Museu Salar Jung, de caráter estatal, em Haiderabad. Ali organizou 120 exposições na Índia e no exterior, publicou mais de 80 artigos sobre arte, história e preservação e submeteu ao menos 45 pesquisas acadêmicas distintas. Este pesquisador veterano concorda com Quadri em gênero, número e grau: papel, tinta e caligrafia — tudo indica autenticidade.

“Este documento se encerra com as preces do Nizamato de Haiderabad e o título do califado é então transferido ao primeiro filho homem do matrimônio em questão”, indicou Ali. “Os nomes junto da assinatura do califa são autênticos e correspondem àqueles encontrados em outros documentos”.

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Ali e Quadri também concordam sobre a assinatura de Azam Jah. Para o curador aposentado, a assinatura é idêntica àquela presente em suas poesias escritas à mão, encontradas entre os papéis de Amiruddin.

Quem seria o califa? O neto — criança — ou o genro?

No entanto, apesar dos argumentos que defendem a autenticidade da escritura, outras questões perduram. Por exemplo, como ela acabou em posse — junto de outros documentos — do coronel Amiruddin?

Qualquer que seja a verdade, faltam indícios de que aqueles que descobriram os papéis de fato o forjaram.

Syed Ahmed Khan destacou que sua família aceita o veredito dos especialistas de Haiderabad, como custódios da escritura para fins estritamente culturais, históricos e, portanto, apolíticos. “Não temos ambição nenhuma de ressuscitar o califado, em qualquer sentido político ou religioso”, ressaltou Khan.

Quem está por trás, porém, deste documento? O califado jamais se transferiu a Haiderabad. O nizam jamais reivindicou o título de califa. E Abdulmecid jamais deixou de ostentá-lo. Essa escritura foi redigida como um contingente secreto, caso o califa morresse sem deixar um testamento?

Ou então foi forjada, mas por que e por quem? Se seu objetivo era reivindicar o califado, então falhou: o califado permaneceu sem qualquer reivindicação.

O que está claro é que Abdulmecid queria que Haiderabad fosse o assento futuro do califado. Dias após o casamento de sua filha, a cobertura dos jornais urdus de Bombaim caracterizou a união como uma espécie de prelúdio para restaurar o califado. Tais histórias assumiam como base os informes difundidos por Maulana Shaukat Ali, o ícone da independência indiana que mediou o casamento. Maulana queria dar foco às implicações políticas da união para o mundo islâmico, enquanto a imprensa concentrava-se no nizam, que, por sua vez, temia um revés político.

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O nizam acusou Ali de “violar sua confiança”, em correspondência particular com oficiais britânicos, encontrada nos arquivos da Biblioteca Britânica. O governo colonial em Londres, que então controlava a Índia, instruiu o nizam a cancelar os planos para a viagem do califa a Haiderabad.

Em último caso, o nizam jamais acusou Maulana de forjar a ideia de que o matrimônio teria implicações ao califado — o censurou apenas por ser indiscreto.

Disse a verdade o primeiro-ministro?

Em Nice, em 6 de outubro de 1933, a princesa Durrusehvar deu à luz o príncipe Mukarram Jah, neto tanto do califa quanto do nizam. Nos primeiros dias de seu neto, o nizam proclamou a seu círculo que seu próprio filho, Azam Jah, então aparente príncipe herdeiro de Haiderabad, não mais seria o próximo governante. Em vez disso, o aristocrata de então 26 anos renunciaria à linha de sucessão em favor de seu filho, ainda bebê.

Em agosto de 1944, Abdulmecid morreu em Paris assolada pela guerra.

Em uma carta confidencial ao governo colonial de Nova Delhi, de novembro daquele ano, o lorde Arthur Lothian, representante britânico em Haiderabad — conhecido como “residente” — informou a seus superiores que o primeiro-ministro do estado, o nawab de Chhatari, havia lhe delatado a vontade do falecido califa.

Os desejos finais de Abdulmecid, reportou Chhatari, eram de que fosse enterrado na Índia e de que seu neto o sucedesse como chefe do califado.

Contudo, durante as discussões com Ayub Khan, algo crucial emergiu.

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Em 1974, Ayub Khan destacou, o nawab de Chhatari publicou suas memórias sob o título Yaad-e-Ayyam — ou Memórias de Dias Passados. No livro, Chhatari recapitula uma suposta conversa com o nizam de novembro de 1944, na qual este lhe disse que Abdulmecid havia nomeado Azam Jah, seu genro, marido da princesa Durrusehvar, como o próximo califa.

Embora isso estabeleça que Abdulmecid queria que a linha dinástica passasse pela família Asaf Jahi, em Haiderabad, ainda assim contradiz a carta de Lothian e introduz um novo mistério à equação.

Para qual geração dos Asaf Jahi o antigo califa queria passar sua coroa: pai ou filho? E por que o ex-governante otomano escolheria seu genro, com quem não tinha laços de sangue, como seu sucessor? Afinal, Abdulmecid deveria ter ciência de que o nizam havia nomeado discretamente Mukarram Jah como seu herdeiro.

Chhatari jamais menciona em suas memórias, que cobrem eventos até 1948, que o nizam escolhera Mukarram Jah, ainda muito jovem, como herdeiro— uma omissão deveras marcante. E embora não fosse de conhecimento público na ocasião, seria crucial compreender quem fora designado pelo próprio Abdulmecid como sucessor.

Uma das razões para tamanha contradição de relatos pode estar no público-alvo das diferentes versões. A carta de Lothian era uma correspondência privada, com destino, em último caso, ao vice-rei do Reino Unido na Índia, sob uma prerrogativa de inteligência. Contrariamente, o livro de Chhatari foi publicado para consumo geral.

O paradeiro do testamento de Abdulmecid permanece desconhecido até hoje. A verdade precisa, até onde sabemos, está além de nosso alcance. Porém, ao ponderar sobre possibilidades, parece que Mukarram Jah — e não seu pai — seria nomeado califa.

A morte do califa: Verdadeiras intenções?

Há um componente final e notável na morte do califa e seus últimos desejos.

Após a morte de Abdulmecid, o nizam desejou honrar sua vontade de ser sepultado na Índia e ordenou a construção de um mausoléu em estilo otomano na região de Khuldabad, então parte de suas terras, hoje parte do estado ocidental de Maharashtra.

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Correspondências privadas entre autoridades britânicas, de 1946, mostram que Londres tomou como fato que Abdulmecid havia apontado o neto como seu herdeiro. Os documentos demonstravam apreensão de que a questão sucessória dividisse o público. Ainda assim, a metrópole britânica calculou que o nizam e Azam Jah preferissem preservar o plano em segredo.

Mukarram Jah era ainda uma criança. Seu avô indiano tinha 60 anos de idade e viveria outras duas décadas completas. Mukarram Jah não ascenderia a nizam no futuro próximo. Por essa razão, o Reino Unido aprovou a construção do mausoléu. Em setembro de 1948, o túmulo de Abdulmecid fora completado, com seu imenso portal entalhado em madeira de palissandro. Obras para o complexo ao redor estavam prestes a começar quando o exército indiano invadiu o estado de Haiderabad naquele mesmo mês: cerca de 40 mil muçulmanos foram mortos, junto de seus sonhos de independência sobre o restante do país.

Osman Ali Khan, certa vez o muçulmano mais rico do mundo, foi destituído do poder. Planos de transferir o corpo de Abdulmecid ao mausoléu na Índia foram então abandonados. Em vez disso, sua filha, a princesa Durrusehvar, proferiu insistentes apelos para que o pai fosse sepultado em Istambul. O governo turco recusou.

Em 1954 — uma década após sua morte —, Abdulmecid foi enfim enterrado na cidade santa de Medina, na Arábia Saudita.

História enterrada: O que sabemos?

Em toda a história, resta algum mistério — muito ocorre em conversas privadas ou pensamentos e sentimentos jamais enunciados, levados a sete palmos do chão.

Levei a ideia de que o califa Abdulmecid queria que Haiderabad fosse o futuro assento de seu califado a John Zubrzycki, historiador que, em 2005, interveio junto ao príncipe Mukarram Jah, e escreveu sua biografia. “Por trás das excentricidades”, notou Zubrzycki, “Osman Ali Khan era um estrategista que queria consolidar o legado de sua dinastia, ao construir uma aliança, via matrimônio, com a realeza otomana no exílio”.

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Para Zubrzycki, a intenção, portanto, era nomear o neto califa do Islã.

Quando se encontrou com Jah, em 2005, conheceu um príncipe já idoso “carismático, gentil e erudito [porém] entristecido pelas cartas que a vida lhe entregou, confiado por seu avô a uma responsabilidade para a qual jamais esteve preparado”.

A aliança extraordinária entre as dinastias otomana e Asaf Jahi, em 1931, reuniram duas grandes casas do Islã — uma do ocidente, outra do oriente. De fato, propulsionou Haiderabad, vista como sucessora do poderoso império Mughal, ao status de “capital de todos os muçulmanos”, como afirmou Marmaduke Pickthall, pensador inglês, adepto do islamismo, em 1936.

Isso importa porque, quando os britânicos deixaram a Índia, em 1947, o nizam queria que Haiderabad fosse um Estado independente. Caso de fato acontecesse, o príncipe Mukarram Jah e sua linhagem poderiam reivindicar o título de califa. O subcontinente da Índia então seria o lar de um califado global, um centro de poder para o mundo islâmico. Não aconteceu. Ao contrário, por décadas e décadas, essa história extraordinária esteve confinada ao quase esquecimento.

Um pedaço de papel, no entanto, com algumas marcas de tinta preserva seu mistério.

Publicado originalmente pela rede Middle East Eye, em 24 de novembro de 2024.

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