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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Israel comete urbicídio em Gaza, alerta Monitor Euromediterrâneo

Destruição deixada por bombardeios israelenses na Cidade de Gaza, em 17 de dezembro de 2024 [Dawoud Abo Alkas/Agência Anadolu]

A destruição deliberada e altamente organizada do exército de Israel a cidades palestinas inteiras, em Gaza sitiada, é uma manifestação clara do genocídio perpetrado pelas forças ocupantes há 14 meses, reportou o Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo, em comunicado divulgado nesta terça-feira (17).

Segundo o informe, as ações israelenses constituem crime de urbicídio, como ferramenta primária de extermínio e transferência compulsória da população.

“Os crimes não se confinam somente ao assassinato de dezenas de milhares de civis ou da gradual dizimação dos elementos mais básicos para sobrevivência de dois milhões de pessoas”, declarou a organização. “De fato, estenderam-se à aniquilação total de cidades palestinas, obliterando seu tecido arquitetônico e civilizacional”.

Tamanha destruição, reiterou, busca apagar a identidade cultural e nacional palestina de dentro do enclave, ao perpetuar o deslocamento à força, impedir o retorno, desmantelar as comunidades e erradicar a memória coletiva.

Trata-se de uma tentativa deliberada de exterminar sua existência física e humana, ao destruir passado, presente e futuro.

Informações compiladas pelas equipes de campo do Monitor Euromediterrâneo, junto de testemunhos de famílias deslocadas, revelaram que o exército israelense buscou, desde sua terceira invasão ao norte do território, em 5 de outubro, “uma política de destruição e apagamento abrangente” contra a área.

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Métodos conduzidos por Israel incluem demolição mediante robôs e barris de explosivos, bombardeio aéreo, com artilharia de alto poder destrutivo, demolições remotas e uso de tratores militares e mesmo maquinário privado.

O Monitor Euromediterrâneo notou averiguar meticulosamente milhares de vídeos e fotos compartilhadas por soldados israelenses nas plataformas digitais, que corroboram atos criminosos, em violação grave da lei internacional.

Imagens aéreas abundantes confirmam a escala da destruição imposta ao norte, com o campo de refugiados Jabalia deixado inteiramente em ruínas, reduzido a pilhas de escombros e ruas intransponíveis.

Áreas inteiramente destruídas incluem al-Alami, al-Houja, al-Falluja, al-Tuwam e as zonas periféricas de al-Saftawi, além de devastação análoga em Beit Lahia e Beit Hanoun, com comunidades, certa vez prósperas, agora inabitáveis.

“A destruição sistemática e abrangente de cidades e bairros palestinos no norte de Gaza, contra casas, infraestrutura e instalações da economia civil, persiste há 73 dias”, advertiu a entidade. “O padrão de devastação demonstra que não se trata de necessidade militar, mas sim um propósito claro de apagar a presença cultural e material dos palestinos”.

“O objetivo é obliterar qualquer rastro físico ou histórico que conecte os palestinos a suas terras, portanto, ao debilitar sua capacidade de permanecerem e sobreviverem em suas áreas ancestrais”, acrescentou o relatório.

“Ministros de governo, oficiais, deputados e colonos israelenses promoveram tais ações, de maneira aberta, a fim de impor uma nova realidade geográfica e demográfica [a Gaza], ao substituir a população nativa por colonos”, explicou. “Trata-se de violação flagrante da lei internacional, que demanda intervenção urgente e justiça às vítimas”.

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A política de urbicídio não se restringe ao norte de Gaza, enfatizou: “Relatórios iniciais de Rafah, no sul do enclave, junto de imagens de satélite e testemunhos, indicam que áreas enormes foram quase apagadas. Destruição semelhante tomou Khan Yunis, Shuja’iyya e Zeitoun, além dos bairros ao longo do eixo Netzarim”.

O urbicídio está ainda vinculado aos crimes de culturicídio, escolasticídio e memoricídio, à medida que Israel, desde 7 de outubro de 2023, “atacou deliberadamente” importantes marcos culturais e arqueológicos palestinos.

O Monitor Euromediterrâneo citou também dezenas de ocorrências de ataques diretos a mesquitas, igrejas, edifícios históricos, instalações culturais, universidades e museus — “todos integrais à identidade cultural de Gaza”.

Embora campanhas prévias tenham destruído elementos marcantes do patrimônio local, o ataque em curso representa sua quase total obliteração, complementou a nota.

O patrimônio de Gaza não pertence apenas aos palestinos, mas também a toda a humanidade. Tais espaços de importância histórica e cultural, que transcendem fronteiras, representam uma memória global compartilhada.

O Monitor Euromediterrâneo instou a comunidade internacional a agir com urgência para proteger os sítios remanescentes, investigar as violações e pressionar Israel a cessar sua destruição sistemática do enclave costeiro.

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“Todos os Estados devem cumprir suas responsabilidades para dar fim ao genocídio e aos outros crimes graves cometidos por Israel em Gaza”, concluiu o documento. “Isso inclui sanções efetivas e suspensão de todas as formas de apoio político, financeiro e militar a Israel [incluindo] cessação imediata de todas as vendas e transferências de armas”.

Os mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional, contra o primeiro-ministro de Israel [Benjamin Netanyahu] e seu ex-ministro da Defesa [Yoav Gallant] devem ser executados sem demora.

Além disso, apontou o Monitor Euromediterrâneo, países cúmplices, sobretudo Estados Unidos, devem ser igualmente responsabilizados, “incluindo aqueles que se engajam em compartilhar inteligência, manter contratos e outros meios de colaboração que permitem que Israel cometa seus crimes”.

A campanha israelense em Gaza deixaram ao menos 45 mil mortos e 106 mil feridos até então, além de dois milhões de desabrigados, sob cerco absoluto — sem comida, água, combustível ou sequer medicamentos.

As ações de Israel seguem em desacato de medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, onde o Estado colonial é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.

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