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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Guerra contra Gaza faz desenvolvimento humano da Palestina retroceder 69 anos

Crianças palestinas deslocadas aguardam para coletar alimentos em um ponto de doação em um campo de refugiados em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, em 2 de fevereiro de 2024, em meio a batalhas contínuas entre Israel e o grupo militante Hamas. [ Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images]

Há 416 dias que Gaza vive uma situação alarmante. A guerra de “israel” contra Gaza provoca uma devastação de proporções históricas, revertendo décadas de progresso no desenvolvimento humano e acentuando a crise humanitária na região. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA) destacaram, em relatório recente, que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Gaza retrocedeu 69 anos, atingindo níveis comparáveis aos de 1955. Essa situação alarmante reflete não apenas os impactos diretos da guerra, mas também as condições de longo prazo que já vinham enfraquecendo a infraestrutura e o tecido social da região.

As consequências das ações colonizadoras de “israel” vão muito além das perdas humanas e da destruição física. A guerra destruiu amplamente a infraestrutura essencial, incluindo hospitais, escolas, sistemas de distribuição de água e energia elétrica. A população de Gaza enfrenta um colapso generalizado nos serviços básicos, o que dificulta o acesso à saúde, alimentação e moradia. Hospitais, que já estavam operando acima de sua capacidade devido ao bloqueio contínuo e à falta de recursos, foram severamente danificados ou estão inacessíveis, impossibilitando o atendimento de milhares de pessoas necessitadas de cuidados médicos urgentes.

O acesso à água potável tornou-se quase inexistente, com estações de bombeamento paralisadas pela falta de combustível e pela destruição causada pelos bombardeios. Como resultado, grande parte da população depende de fontes inseguras de água, elevando o risco de surtos de doenças transmissíveis, como cólera e disenteria. Ao mesmo tempo, a escassez de alimentos atinge níveis críticos, levando milhões de palestinos a dependerem inteiramente da ajuda humanitária, que também enfrenta dificuldades para chegar devido às restrições impostas na região.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na Palestina reflete um cenário desolador. No Estado da Palestina como um todo, projeta-se que o IDH alcance 0,643 até o final de 2024, níveis semelhantes aos do ano 2000, representando um retrocesso de 24 anos. Em Gaza, a situação é ainda mais grave, com o IDH previsto para cair para 0,408, o menor nível desde 1955. Isso significa que, em termos de saúde, educação e renda, a população de Gaza vive uma realidade comparável à de mais de seis décadas atrás.

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A economia palestina, por sua vez, está 35% menor em relação ao período anterior ao início da atual escalada de violência. Com o PIB em colapso e a taxa de desemprego projetada para alcançar quase 50%, o mercado de trabalho está paralisado, deixando milhões de pessoas sem fontes de renda e agravando ainda mais a pobreza. Atualmente, estima-se que 74% da população palestina viva abaixo da linha da pobreza, um número que inclui 2,6 milhões de novos pobres desde o início do conflito.

Além das consequências econômicas e físicas, o impacto social e psicológico aos quais a população palestina é submetida não pode ser ignorado. Milhões de palestinos vivem sob constante ameaça de bombardeios e enfrentam o trauma da perda de familiares, amigos e lares. Crianças, em particular, são as mais afetadas, crescendo em um ambiente de violência e insegurança. O trauma psicológico pode ter efeitos duradouros, comprometendo o desenvolvimento emocional e cognitivo de uma geração inteira.

A destruição de escolas agrava ainda mais a situação, interrompendo o acesso à educação para milhares de crianças e adolescentes. Isso não apenas compromete o futuro dessas gerações, mas também perpetua o ciclo de pobreza e desigualdade, dificultando as perspectivas de desenvolvimento sustentável na região.

Organizações internacionais, incluindo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), têm feito apelos urgentes por uma trégua humanitária. Em Jabalya, por exemplo, centenas de pessoas permanecem presas sob os escombros, enquanto a ajuda humanitária enfrenta severas restrições de acesso. Em outubro, de 28 tentativas de missões humanitárias na região, apenas quatro foram aprovadas pelas autoridades israelenses, demonstrando as dificuldades enfrentadas por essas organizações para levar assistência à população necessitada.

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, descreveu a situação em Gaza como “desesperadora”, com famílias vivendo sem acesso a comida, água ou cuidados médicos, enquanto enfrentam o medo constante da morte. Lazzarini apelou por uma trégua imediata, mesmo que temporária, para permitir que civis sejam evacuados de áreas de conflito e recebam assistência vital.

Diante de uma crise tão profunda, as Nações Unidas destacam que a ajuda humanitária, embora essencial, não será suficiente para restaurar a economia palestina ou melhorar as condições de vida a longo prazo. Um plano abrangente de recuperação e reconstrução é necessário, combinando investimentos em infraestrutura com políticas que promovam a autonomia das comunidades locais e o desenvolvimento sustentável. Mas para que isso se concretize, a máquina assassina de “israel” precisa ser parada.

Segundo o PNUD e a ESCWA, um cenário otimista exigiria um investimento adicional de 290 milhões de dólares anuais em iniciativas de recuperação, além dos 280 milhões destinados à ajuda humanitária. Essa estratégia poderia aumentar a produtividade em 1% ao ano, reduzir significativamente a taxa de desemprego para cerca de 26% e alinhar a economia palestina aos planos de desenvolvimento até 2034. No entanto, sem o levantamento das restrições econômicas impostas a Gaza, o progresso permanecerá limitado, e o retorno aos níveis anteriores ao conflito pode levar mais de uma década.

Os cenários mais pessimistas, que não incluem uma estratégia de recuperação bem estruturada, indicam que o IDH continuará caindo, a pobreza se aprofundará e a economia permanecerá estagnada, deixando milhões de palestinos presos em um ciclo de vulnerabilidade e dependência de ajuda externa.

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A crise em Gaza ressalta a necessidade de uma resposta internacional coordenada. Além de fornecer ajuda humanitária imediata, a comunidade global deve trabalhar para promover uma solução política duradoura para o conflito, garantindo o respeito ao direito internacional humanitário, o direito de autodeterminação do povo palestino e o direito ao retorno firmado na Resolução 194 da ONU. O levantamento de bloqueios econômicos à “israel” e a garantia de acesso a serviços básicos à população de Gaza são passos fundamentais para melhorar as condições de vida na região e criar um ambiente propício para a paz.

Além disso, é crucial abordar as causas subjacentes do conflito e investir em esforços de reconstrução que fortaleçam as instituições palestinas, promovam o desenvolvimento econômico e melhorem a resiliência das comunidades locais. Apenas por meio de um compromisso conjunto será possível garantir que o povo palestino tenha acesso a um futuro de dignidade e oportunidades.

Os impactos devastadores da guerra em Gaza, conforme detalhado pelos relatórios das Nações Unidas, ilustram uma crise de proporções históricas que ameaça o desenvolvimento humano e econômico na região por gerações. Sem uma ação coordenada para enfrentar os desafios imediatos e investir em soluções de longo prazo, o caminho para a recuperação será longo e incerto, milhões de palestinos continuarão vivendo em condições de extrema pobreza e vulnerabilidade, enquanto enfrentam os traumas físicos e emocionais de um conflito que parece não ter fim.

Para evitar um colapso total, a comunidade internacional deve agir de forma decisiva, priorizando tanto a assistência humanitária quanto os esforços de parar “israel” e a colonização da Palestina. A proteção dos direitos humanos e o respeito ao direito internacional devem estar no centro desses esforços, garantindo que as gerações futuras não sejam condenadas a repetir o ciclo de sofrimento e instabilidade que marca a história recen de Gaza.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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