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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

O que esperar da política de Trump para o Oriente Médio

Donald Trump durante campanha eleitoral fala na Cúpula Nacional do Conselho Israelense Americano no Washington Hilton em 19 de setembro de 2024 em Washington, DC. [Kevin Dietsch/Getty Images]

Nos anos de seu último mandato, a política de Donald Trump em relação a “israel” e Palestina foi caracterizada por alterações substanciais que geraram reações fervorosas tanto nos Estados Unidos quanto no exterior. No decorrer do seu primeiro mandato, Trump assumiu uma posição fortemente favorável a “israel”, o que influenciou significativamente o processo de paz e as dinâmicas regionais. Uma das principais realizações dessa política foi a proclamação de Jerusalém como capital de “israel” em 2017, uma decisão histórica que rompeu com décadas de política externa dos Estados Unidos, que advogava por uma resolução negociada para a situação. Trump também mudou a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, uma decisão fortemente criticada pela comunidade global e pelos palestinos.

Um aspecto significativo de sua política foi a intermediação dos Acordos de Abraão em 2020, que levaram à normalização das relações diplomáticas entre “israel” e nações árabes, incluindo Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Esses acordos foram considerados um grande triunfo para “israel”. Eles reestruturaram as alianças no Oriente Médio, com ênfase na contenção do Irã e no aprimoramento das relações econômicas e de segurança.

Trump também divulgou em 2020 o seu “Plano de Paz para o Século XXI”, que foi fortemente rejeitado pelos palestinos. O projeto beneficiava substancialmente “israel”, sugerindo a incorporação de vastas regiões da Cisjordânia e a formação de um Estado palestino com restrições severas de soberania. Jerusalém seria a capital inseparável de “israel”, e a estratégia não previa uma resolução equitativa para a situação dos refugiados palestinos com o cumprimento da Resolução 194 da ONU. Esta estratégia unilateral em favor de “israel” resultou em um grande impasse, impedindo qualquer progresso significativo nas negociações de paz.

Além disso, Trump deu apoio a políticas israelenses mais agressivas, como a ampliação de assentamentos na Cisjordânia, considerados ilegais pela comunidade internacional. Ele também se distanciou de críticas ao uso da força por “israel” em Gaza e outras áreas de conflito, o que agravou ainda mais a situação para os palestinos. O apoio de Trump a essas políticas provavelmente contribuiu para a expansão dos assentamentos e dificultou uma solução de dois Estados, que tem sido a base das negociações de paz.

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Adicionalmente, as políticas de Trump relacionadas ao Irã também tiveram impactos sobre “israel” e Palestina. Trump, ao retirar os Estados Unidos do pacto nuclear de 2015 com o Irã e aplicar sanções severas, se alinhava com “israel”, que vê o Irã como uma ameaça à sua existência. Esta atitude hostil em relação ao Irã, embora voltada para a proteção de “israel”, também impactou a dinâmica regional e o suporte iraniano a organizações como o Hezbollah e o Hamas, que possuem conexões com a Palestina.

Em suma, a estratégia de Trump foi uma das mais benéficas para “israel” na recente história americana, dando prioridade aos interesses de “israel” em vez das reivindicações palestinas. Com Trump voltando ao cargo, é provável que ele mantenha essa postura, visando uma maior integração de “israel” na região, porém sem progredir de maneira relevante para uma solução justa e equilibrada para os palestinos.

No cenário atual, onde a violência e o massacre contra a população palestina se arrastam há mais de um ano, com repercussões também no Líbano e em outros países do Oriente Médio, as declarações de Trump durante sua campanha indicaram uma posição clara: ele defendeu que “israel” “terminasse logo o que começou e acabasse com a guerra”. Para o republicano, o fim da guerra significaria a vitória de “israel”, com a expulsão da população palestina da Faixa de Gaza.

Esse posicionamento é indicativo de uma visão em que a solução para o conflito seria militar, com a completa subordinação da resistência palestina. Trump não esconde sua intenção de apoiar “israel” no fortalecimento de sua posição, seja em termos de poderio militar, seja no avanço de sua ocupação dos territórios palestinos. Ele deixou claro que o governo dos EUA estaria disposto a manter, e até expandir, seu auxílio militar a “israel”, especialmente para aniquilar o Hamas e outros grupos vistos como obstáculos à ocupação israelense. Além disso, abriria caminho para o aumento da presença israelense na Cisjordânia e outras regiões palestinas, intensificando ainda mais a violação dos direitos dos palestinos e a expansão dos assentamentos israelenses, que são amplamente condenados pela comunidade internacional.

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Em paralelo a isso, Trump também destacou a necessidade de enfraquecer a resistência palestina por meio da deslegitimação de seus apoiadores regionais. Um dos alvos dessa política foi o Irã, país que tem sido um dos principais financiadores e apoiadores dos movimentos de resistência em Gaza e no Líbano, como o Hamas e o Hezbollah. Para Trump, o Irã representa uma das maiores fontes de instabilidade e terrorismo no Oriente Médio. Desde o início de seu mandato, ele adotou uma postura agressiva em relação ao país, retirando os Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 (JCPOA), que tinha como objetivo limitar o programa nuclear iraniano, e autorizando o assassinato do general Qassem Soleimani, uma figura-chave no governo iraniano.

A abordagem de Trump ao Irã se baseia na ideia de isolar economicamente e diplomaticamente o país. Isso foi feito através de uma intensa pressão econômica, que envolveu a intensificação das sanções contra o Irã, além de fortalecer alianças com países como a Arábia Saudita, um dos principais adversários do Irã na região. A venda de armas para os sauditas foi uma das estratégias de Trump para garantir o apoio de aliados regionais e, ao mesmo tempo, reduzir a influência iraniana. A intenção de Trump de isolar ainda mais o Irã pode levar a uma guerra econômica, onde os EUA utilizará suas políticas de sanções para fragilizar ainda mais Teerã, sem recorrer a intervenções militares diretas.

Essa estratégia de Trump para o Oriente Médio pode ser vista como uma forma de atingir os objetivos políticos dos EUA sem necessidade de intervenções diretas e dispendiosas. Em vez disso, ele delegou o trabalho “sujo” a seus aliados regionais, especialmente ao governo de “israel”, liderado por Benjamin Netanyahu. A aliança entre os dois líderes foi uma das mais próximas da história recente, com Trump permitindo que Netanyahu implemente sua agenda de forma ampla, incluindo a continuação da expansão dos assentamentos e a repressão aos palestinos. O apoio dos EUA a “israel”, sem restrições significativas, coloca a Palestina em uma posição ainda mais difícil, com pouca margem para negociações ou conquistas diplomáticas.

Essa abordagem de Trump estabeleceu uma relação de animosidade com grande parte do Oriente Médio. Embora os EUA ainda tentem manter sua influência na região, a estratégia de Trump é clara: usar “israel” como um intermediário para alcançar os objetivos americanos, sem se envolver diretamente em ações militares. Isso permitiria que os EUA sigam seus interesses no Oriente Médio, particularmente em relação à Palestina e ao Irã, sem se comprometerem com o “trabalho sujo” de lidar diretamente com as consequências de suas ações. Ao enfraquecer a causa palestina e fortalecer a presença israelense, Trump estabelece um cenário geopolítico em que os EUA atuam principalmente como facilitadores da política israelense.

Com Trump retornando ao poder, é provável que essa postura seja reforçada. Ele continuará a fornecer apoio irrestrito a “israel” e buscará isolar ainda mais o Irã, mantendo a pressão sobre qualquer resistência à ocupação israelense e intensificando as sanções e ações contra Teerã. O resultado disso seria um aprofundamento do impasse no Oriente Médio, com a Palestina cada vez mais marginalizada e sem perspectivas de uma solução justa para o seu povo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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