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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

No final de 2024, sionismo avança no Paraguai e embaixada é transferida para Jerusalém

Em visita oficial a Israel, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, se encontra com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu [Presidência do Paraguai]

O Governo do Paraguai concluiu na quinta-feira 12 de dezembro a transferência e abertura de sua embaixada na cidade de Jerusalém (Al Quds ocupada). Segundo a chancelaria guarani, isso “reafirma os laços de amizade e cooperação com o Estado de Israel”. O presidente Santiago Peña (ex-banqueiro, ex-empregado de um acusado por lavagem de dinheiro e narcotráfico) presidiu o evento do qual também participou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O Presidente Peña estava acompanhado pela primeira-dama, Letícia Ocampos; o Ministro das Relações Exteriores, Rubén Ramírez Lezcano; o embaixador do Paraguai em Israel, Alejandro Rubín, entre outras autoridades nacionais.

“Isso é algo em que acreditamos, que todos os países do mundo têm direito à sua liberdade e autodeterminação. Como disse ontem, estaremos com Israel aconteça o que acontecer”, disse o presidente no seu discurso.

A bajulação aumenta. Afirmou que o Paraguai levanta a voz pela causa de Israel como uma reafirmação de seus próprios princípios e valores. “Queremos deixar para trás aquela imagem isolada do Paraguai, queremos jogar nas grandes ligas, queremos levantar a voz e defender aquilo em que acreditamos”, afirmou.

Quais seriam as “grandes ligas”? O que ocorreu antes?

Se trata de um movimento reverso. Já em maio de 2018, o então presidente do Paraguai – Horacio Cartes – transferiu a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, na sequência do apoio político do presidente de extrema direita estadunidense, Donald Trump. A situação foi controversa e desencadeou a fúria dos palestinos porque de certa forma constituiu um gesto de legitimação do Estado de Israel. Naquela altura Cartes não deu quaisquer explicações sobre a transferência mas Abdo Benítez, que se preparava para assumir o poder depois de vencer as eleições de Abril, disse que uma vez instalado no poder iria rever a mudança de sede.

Já no início de setembro de 2018, um novo presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez , retornou a sede diplomática para Tel Aviv, numa tentativa – alegada – de manter a neutralidade no “conflito” israelo-palestiniano. Vale lembrar o óbvio. Apenas os Estados Unidos, Guatemala, Honduras, Kosovo e Papua Nova Guiné mantêm as suas embaixadas em Jerusalém. A esta seleta lista, o presidente Peña inclui o Paraguai, visando “as grandes ligas”.

LEIA: A presença das empresas sionistas na Colômbia, Chile, Paraguai e Uruguai

A resposta do genocida sionista foi a ruptura de relações diplomáticas. Naquele mesmo mês de setembro de 2018, Netanyahu respondeu de imediato. A presidência paraguaia de então afirmara que a decisão de Israel de fechar sua embaixada em Assunção foi exagerada e pediu que a medida fosse reconsiderada. Nada aconteceu.

Diante da retomada da absurda posição da embaixada guarani, forças palestinas se manifestaram. O Hamas condenou a decisão do Paraguai de transferir a embaixada do país em Israel de Tel Aviv para Jerusalém ocupada. O Hamas considera esta medida uma “violação dos direitos do nosso povo palestiniano à sua terra e capital eterno, e uma violação das normas do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas”.

Horacio Cartes e as grandes ligas de lavagem de dinheiro

O ex-presidente deixou de ser aliado e virou alvo de investigação dos imperialistas. Com a pretensão de sempre, Washington se arvora de “polícia da América Latina” e acusa seus ex-subordinados. Vejamos. Em 26 de janeiro de 2023 desde WASHINGTON o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA sancionou Horacio Manuel Cartes Jara (Cartes), ex-presidente do Paraguai (2013-2018), e Hugo Adalberto Velazquez Moreno (Velazquez), ex vice-presidente (de 2018 a 2023), por seu envolvimento na corrupção desenfreada que mina as instituições democráticas no Paraguai.

A OFAC também está designando Tabacos USA Inc., Bebidas USA Inc., Dominicana Acquisition S.A. e Frigorifico Chajha S.A.E., como propriedade ou controladas pela Cartes. Estes indivíduos e entidades foram designados de acordo com a Ordem Executiva (E.O.) 13818, que se baseia e implementa a Lei Global Magnitsky de Responsabilidade pelos Direitos Humanos e tem como alvo os perpetradores de graves violações dos direitos humanos e corrupção em todo o mundo.

Não é piada de mau gosto. Realmente os Estados Unidos, os mesmos que financiam e garantem o aporte de material bélico para o genocídio contra o povo palestino se diz “defensor dos direitos humanos”.

Já em 6 de agosto de 2024, Washington estabelece que o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro designou a empresa paraguaia de tabaco Tabacalera del Este S.A. (Tabesa) por fornecer apoio financeiro ao ex-presidente do Paraguai, Horacio Manuel Cartes Jara (Cartes), já sancionado pela OFAC em 26 de janeiro de 2023 por seu “envolvimento em corrupção” (qualquer semelhança com a operação de Lawfare chamada de Lavajato não é nenhuma coincidência). Ainda de acordo com a espionagem financeira do Império, a Tabesa está sendo designada de acordo com as mesmas punições (extraterritoriais) das demais empresas de Cartes.

LEIA: Paraguai: Peña e Cartes são aliados dos sionistas

A OFAC identificou anteriormente a Tabesa na Lista de Cidadãos Especialmente Designados e Pessoas Bloqueadas (SDN) da OFAC como uma entidade na qual Cartes possuía, direta ou indiretamente, uma participação de 50 por cento ou mais. Embora a Cartes não seja mais proprietária da Tabesa após um acordo de venda para adquirir as ações da Cartes na empresa, a Tabesa fez – e planeja continuar fazendo – pagamentos no valor de milhões de dólares à Cartes, apesar da designação da Cartes pela OFAC. Ou seja, quando quer, Washington pune até empresas laranjas e seus supostos controladores.

Uma análise conclusiva 

O presidente do Paraguai, Sebastián Peña, é ex -presidente do Banco BASA (antigo Banco Amambay). Este pertence ao ex-presidente Horácio Cartes. Nos tempos da Lavajato, este banco, em conjunto com o Banco Paulista, esteve sob alvo de investigação (com o mesmo “rigor jurídico” de Dallagnol, Moro e seus artifícios).

Cartes é acusado pelos departamentos de Estado e do Tesouro dos EUA de operar como lavanderia de carteis de narcotráfico. Cartes era sócio do doleiro Darío Messer (este tem passaporte israelense e também brasileiro, está preso no Brasil) e operava também com o ex-presidente da Argentina Mauricio Macri. Está sob pressão da DEA,da OFAC e da FinCen dos EUA e assim faz gestos de ampla lealdade para com Israel, aliado comum.

Não existe nenhuma razão, emprego de racionalidade ou vantagem comparativa para o Paraguai transferir sua embaixada de Tel Aviv (capital dos Territórios Ocupados em 1948) para Al Quds (Jerusalém, ocupada pelo inimigo em 1967). Se trata de pura subserviência mas também uma ação combinada no âmbito doméstico (para derrotar uma posição do ex-presidente Abdo Benítez). No campo das lealdades e cadeia de hierarquia, é impensável que Peña não saiba das “aventuras financeiras” de Cartes (seu ex-patrão e padrinho político) e seus sócios, Messer e Macri. Com uma ficha corrida passível de ser chantageado pelo império, o gesto de transferir a embaixada é parte do fruto desta coação.

LEIA: Por que alguns países latino-americanos estão correndo para transferir suas embaixadas para Jerusalém?

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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