Acadêmicos, ativistas e alunos voltaram a criticar a Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, nesta semana, após a professora de longa data Katherine Franke denunciar que a instituição a pressionou a se aposentar, por criticar abertamente o Estado colonial de Israel e manter apoio a manifestações pró-Palestina no campus.
Franke fundou o Centro para Leis de Gênero e Sexualidade e foi parte do comitê executivo do Centro de Estudos Palestinos da Universidade de Columbia.
Na última semana, Franke anunciou em nota ter “chegado a um acordo” com a instituição para se aposentar, após 25 anos a serviço da faculdade de direito. Entretanto, apesar de a universidade insistir em chamar a mudança de status de “aposentadoria”, de acordo com Franke, ficou nítida a impressão de que sua “demissão deveria vir com um verniz um tanto mais palatável”.
“Passei a enxergar a Escola de Direito de Columbia como um ambiente hostil de trabalho, no qual não mais posso entrar em uma sala de aula, realizar minhas pesquisas, caminhar no campus ou me engajar em funções administrativas, sem um hediondo e inadequado assédio devido à minha defesa da liberdade dos estudantes de protestar e expressar seus pontos de vista, críticos ao tratamento concedido por Israel ao povo palestino”.
O acordo foi imposto após a universidade decidir que uma declaração de Franke, emitida durante entrevista com a rede Democracy Now!, em janeiro de 2024, supostamente seria uma violação de políticas de Ação Afirmativa e Oportunidades Iguais (EOAA). Na ocasião, tudo que fez Franke foi denunciar alunos ligados ao exército israelense por jogar produtos químicos em colegas pró-Palestina.
LEIA: Protestos estudantis desafiam hegemonia sobre Israel e Palestina
Um porta-voz de Columbia reiterou a posição da universidade à rede Middle East Eye, ao observar: “Como divulgado publicamente pelas partes envolvidas na matéria, uma queixa foi registrada apontando para assédio discriminatório, em violação de nossas políticas. A seguir, foi conduzida uma investigação, com subsequente descoberta. Como declaramos consistentemente, a universidade permanece comprometida em abordar todas as formas de discriminação que violem nossas políticas”.
Escalada macartista
Uma enxurrada de postagens tomou as redes sociais, tanto em defesa de Franke quanto em crítica contumaz de Columbia, a partir de acadêmicos, estudantes e ativistas de todo o mundo.
“Solidariedade incondicional à professora Franke”, reiterou Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os territórios palestinos ocupados, na rede social X —antigo Twitter. “Trata-se de mais uma vítima do pró-israelismo, que levou universidades e outros espaços da vida pública a se confinarem a bastiões de obscurantismo, opressão e discriminação”.
Columbia University’s mistreatment of Prof Katherine Franke is egregious. She has resigned after 25 yrs of an illustrious academic career & commitment to her students bc she decided there is nothing to return to- it is far too hostile. https://t.co/3rSNSUCfbJ#Thread
— Noura Erakat (@4noura) January 12, 2025
Para um outro usuário da mesma plataforma: “Isso é genuinamente uma escalada macartista”.
At Columbia, this is genuine McCarthyite escalation. I was naive enough to think the administration would not go so very far to placate the Republicans, the trustees, the donors, the Israel lobby.https://t.co/BCi1SJBEuL
— Bruce Robbins (@BruceRobbins6) January 11, 2025
Uma ex-aluna de Franke apontou que, embora não fosse exatamente “fã” da entrevista ao Democracy Now!, tampouco acreditava que se justificasse, a partir das declarações, uma “resposta tão extrema de Columbia, incluindo o assédio que Franke sofreu”.
She taught me so much of what I know and has profoundly shaped how I view the world. I am also an Israeli, which was never ever an issue during our time together. This is a tremendous loss for students and for the entire academic community at @ColumbiaLaw.
— Lihi Yona (@lihiy) January 11, 2025
Usuários online compararam a pressão contra Franke ao tratamento deferido pela reitoria ao professor de administração Shai Davidai, acusado por múltiplos alunos pró-Palestina de assédio persistente desde a deflagração do genocídio israelense em Gaza, em outubro de 2023.
I’m old enough to remember when Shai filmed students praying Friday prayers on Columbias campus and told the world to come look at though they were doing something shameful or illegal yet he still has a job and Kathrine Franke does not. Read for yourself:https://t.co/vqwHtWjHeb
— Heba Gowayed هبة جويد (@hebagowayed) January 11, 2025
“Se lembram quando Shair assediou e perseguiu estudantes incansavelmente, mas só foi punido ao se virar contra seus benfeitores da administração?”, questionou um usuário no Twitter (X). “O que aconteceu com Franke é nada mais que perseguição política — pura e simplesmente”.
Em contraste àqueles que veem a exoneração de Franke como um indício preocupante de censura, Davidai foi justamente um daqueles que comemorou as notícias.
Quando aos próximos passos, Franke notou em seu comunicado que, embora tenha sido forçada a se afastar de Columbia, “o uso das políticas de Ação Afirmativa como arma não deve esfriar ou dissuadir a mobilização de seus estudantes”.
LEIA: Protestos estudantis: O momento em que Israel perdeu o Ocidente
“Ao contrário, pretendo concentrar esforços em lutar pelos direitos e pela dignidade dos palestinos, ao resistir, portanto, à distração insidiosa de Columbia”, reiterou a nota. “Para sempre, serei professora — e sempre continuarei aprendendo”.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 13 de janeiro de 2025