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Festa acima da dor na libertação de prisioneiros palestinos

1 de fevereiro de 2025, às 13h28

Palestinos libertados das prisões israelenses no sábado, no quarto grupo previsto no acordo de troca de prisioneiros entre Israel e o Hamas, são recebidos por seus familiares e cidadãos em Ramallah, Cisjordânia, em 01 de fevereiro de 2025. [Issam Rimawi/Agência Anadolu]

A saída de palestinos da prisão de Ofer, na Cisjordânia ocupada, em direção a Ramallah, e da prisão de Ketziot para a Faixa de Gaza, foi acompanhada de festa e também de denúncias sobre o tratamento dispensado por Israel, tanto aos prisioneiros quanto às suas famílias.

Este foi o quarto grupo de palestinos libertados por Israel, e incluiu 18 prisioneiros condenados à prisão perpétua, 54 prisioneiros com sentenças altas e 111 reféns palestinos que Israel sequestrou da Faixa de Gaza depois do 7 de outubro de 2023. Os registros da libertação aparentam em muitos o resultado de anos de sofrimento, isolamento e torturas, e marcas de agressões recentes.

Do total de 200 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua e outras longas sentenças de prisão libertados até agora com parte do acordo do cessar-fogo,  70 foram deportados para fora da Palestina, sem direito de encontrar suas famílias antes da transferência.

A expectativa com a chegada dos demais ex-prisioneiros, parte enclausurada por sua liderança na resistência à ocupação e parte detida sem acusação durante a guerra, mobilizou milhares de palestinos que esperavam saudá-los. Israel fez todos os esforços para impedir que se as pessoas mobilizadas se reunissem, inclusive fechando as passagens de Ramallah, piorando as aglomerações e congestionamentos. Além disso, soldados invadiram várias casas de prisioneiros libertados, ameaçando suas famílias para impedir qualquer demonstração de alegria que simbolize uma vitória da resistência palestina após 15 meses de ataques destrutivos e mortais.

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A festa ocorreu apesar de Israel, com homenagens aos ex-prisioneiros e também ao ao líder do Hamas Mohammed Deif, cuja morte foi confirmada pelo grupo na quinta-feira.  “Nós somos os homens de Deif”, gritavam apoiadores do Hamas. Em Bitunia, alguns dos homens libertados  deram entrevistas e declarações sobre a alegria da liberdade. Um deles,  Ali Nazzal, pode segurar seu filho pela primeira vez, já que foi concebido com esperma contrabandeado de prisões israelenses durante seu cativeiro. Assegurar que os condenados tenham família e descendência, ainda que por inseminação, é estimulada pela resistência palestina como uma reação à política de limpeza étnica adotada por Israel.

Nem todos, porém, estavam em condições de festejar ativamente.  O Hamas disse que vários prisioneiros libertados hoje de prisões israelenses foram levados para hospitais em decorrência da tortura, “o que confirma a feiura daquilo a que estão sendo submetidos”. As violações, de acordo com o movimento, são  “crimes de guerra que exigem intervenção imediata da comunidade internacional, das Nações Unidas e de organizações humanitárias e de direitos humanos para impedi-las e responsabilizar seus perpetradores”.

De acordo com um correspondente da Agência Anadolu que acompanhou a libertação, ” prisioneiros que chegaram mais cedo hoje ao Palácio Cultural de Ramallah pareciam ter problemas de saúde, tinham corpos magros e alguns pareciam incapazes de andar”. Eles revelaram que, antes da libertação,  foram espancados por soldados israelenses e privados de comida por várias horas. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha interpelou Israel pelo fato de que, na liberação, eles estavam “algemados e em uma posição dolorosa” .

A libertação dos palestinos neste sábado ocorreu após a entrega de três reféns israelenses para a Cruz Vermelha.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.