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‘Censura’: Governo de NY remove chamada para professor de Estudos Palestinos

28 de fevereiro de 2025, às 11h06

Governadora de Nova York, Kathy Hochul, durante evento em Manhattan, nos Estados Unidos, em 26 de fevereiro de 2025 [Eduardo Munoz Alvarez/VIEWpress/Getty Images]

A governadora de Nova York, Kathy Hochul, ordenou a Universidade da Cidade de Nova York (CUNY) a retirar um anúncio de emprego para a cátedra de Estudos Palestinos do Hunter College de Manhattan, incitando críticas.

A chamada buscava um acadêmico especializado em temas relacionados à questão e à história da Palestina, incluindo colonialismo, direitos humanos e migração.

O gabinete de Hochul, porém, interveio sob a alegação facciosa — comum a ideólogos pró-Israel e campanhas de difamação nos Estados Unidos e além — de que os estudos em pauta poderiam promover “teorias antissemitas”.

O sindicato docente e as equipes profissionais da CUNY rechaçaram a medida, em carta aberta à governadora: “Objetamos firmemente sua remoção do anúncio de emprego à posição de professor de Estudos Palestinos, como violação da liberdade acadêmica no campus. Condenamos o antissemitismo e todas as formas de ódio, mas se trata de uma medida contraprodutiva, além de abuso de autoridade para criminalizar toda uma área de estudos acadêmicos”.

A censura deflagrou condenações online, em particular, sobre políticas de dois pesos e duas medidas adotadas por instituições liberais sobre liberdade de expressão.

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Para Glenn Greenwald, controverso jornalista radicado no Brasil, a decisão de Hochul é parte de uma tendência crescente de repressão política nos Estados Unidos: “Esta é, de longe, a forma mais comum de censura hoje no país e, cada vez mais, de maneira geral, em todo o Ocidente”.

A polêmica reflete um debate amplo sobre a repressão do discurso pró-Palestina entre os espaços acadêmicos dos Estados Unidos, como registrado no relatório A exceção da Palestina na liberdade de expressão, da organização Palestine Legal.

Segundo o dossiê, universidades — sob frequente pressão de grupos de lobby, políticos ou doadores sionistas — têm ampliado medidas de censura contra professores, alunos e pesquisadores, incluindo cancelamento de eventos e punições administrativas contra críticas legítimas às políticas de Israel.

A remoção do anúncio do Hunter College segue um padrão de alegações enviesadas de “antissemitismo” usadas para silenciar a pesquisa no ambiente acadêmico em torno da história moderna e ancestral da Palestina — enquanto ignoram, porém, manifestações crescentes de neonazismo ou supremacismo branco nos campi, instigadas sobretudo pela nova gestão federal de Donald Trump.

Na CUNY, por exemplo, membros do corpo discente sofrem investigação por protestos contra o genocídio em Gaza e chamados legítimos e embasados por boicote e sanções ao Estado israelense e assentamentos ilegais nos territórios ocupados.

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A incisiva repressão — representada mais recentemente pelas ações de Kochul, filiada de longa data ao partido Democrata — transformaram as universidades em campos de disputa sobre a liberdade acadêmica e de expressão, com enfoque acalorado em torno da questão geopolítica Israel–Palestina.